Esporão no Porto: uma lufada de campo no coração da cidade

Na Rua do Almada, a herdade alentejana abriu o seu restaurante e espaço de provas. E já está bem enturmado com a vizinhança.

Recepção de casamento
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Nelson Garrido
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Sorvete
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Já aconteceu ser preciso uma chave de fendas ou outra ferramenta qualquer e bastou atravessar a rua. “Ó senhor Zacarias, empreste aí!”

Estamos sentados à mesa com António Roquette, o gestor da operação turística da Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, e temos vista para a Rua do Almada, uma artéria do centro do Porto que, apesar do boom do turismo, ainda conserva algumas bolsas de comércio tradicional – a Ferragens Zacarias é apenas um exemplo. E “o espírito de bairro” que ainda se vive por estas bandas foi determinante para a instalação do Esporão no Porto, restaurante, sala de provas e loja que abriu no final de Setembro, enquadra António Roquette.

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“O Porto é uma cidade dinâmica e vibrante, pelo que era para nós um desafio muito interessante instalarmo-nos aqui”, explica Roquette. Depois de ter comprado a Quinta dos Murças, no Douro, e, mais tarde, a Quinta do Ameal, na região dos Vinhos Verdes, passou a fazer ainda mais sentido para o grupo Esporão ter uma lança na segunda cidade do país.

Quando avançaram para a definição do que seria o Esporão no Porto, estava muito claro na cabeça dos seus responsáveis que queriam “trazer o campo para a cidade”. “Queríamos vir para perto das pessoas e partilhar com elas os nossos produtos e a forma como os fazemos.”  

E quando o número 501 da Rua do Almada, onde já funcionou um restaurante, ficou vago, estava encontrado o espaço perfeito para o Esporão no Porto. Porque aqui ainda resiste o tal espírito de bairro que agrada a António Roquette. Há então a história das ferramentas e das Ferragens Zacarias, mas também as parcerias que já foram sendo estabelecidas com outros vizinhos.

Por exemplo, ao final desta tarde de quinta-feira o Esporão no Porto promoveu uma prova de vinhos e queijos, em articulação com a Queijaria do Almada, meia dúzia de portas abaixo. O galego Alberte Díaz, um dos proprietários da loja, conduziu uma viagem pela Europa em sete queijos artesanais: começou com um Majorero DOP (leite cru de ovelha) de Fuerteventura, nas Canárias, Espanha, e terminou com um Gorgonzola Dolce de Bérgamo. Pelo meio, um surpreendente Idiazábal DOP, do País Basco, ou um Gouda Böerenkaas, dos Países Baixos.

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Cada queijo foi acompanhado com um vinho diferente do portefólio do Esporão, a maior parte brancos. “Hoje quisemos sair um pouco das coisas mais normais que se encontram em Portugal, por isso o Alberte escolheu estes queijos. Da nossa parte, quisemos mostrar que, ao contrário do que às vezes se pensa, os brancos também se dão lindamente com os queijos”, explica António Roquette à dúzia de interessados que se sentam à mesa neste final de tarde, entre portugueses, brasileiros residentes no Porto ou turistas da Geórgia, país com forte tradição vínica.

O Majorero DOP casa com um Talha Branco de 2017, o Gorgonzola Dolce com um Quinta dos Murças Margem Tinto 2017. Já o queijo Idiazábal, com um inconfundível toque fumado, emparelha com um Esporão Private Selection Branco 2017.

Porta aberta à divulgação cultural

Terminada a prova, deitamos o olho às prateleiras da loja, onde se expõem os produtos com a chancela do Esporão. Vinhos, claro está, mas também azeites e cerveja artesanal Sovina, que integra o grupo.  

Mais dois dedos de conversa e sentamo-nos à mesa. António Roquette sublinha que a carta do Esporão no Porto “está focada nas tradições gastronómicas de todas as regiões portuguesas”. “Já chegaram aqui clientes convencidos de que este era um restaurante alentejano”, sorri Roquette. Só que não: no menu há dos cuscos à transmontana com legumes assados e queijo de São Miguel (12,50€, vegetariano) até à língua e mão de vitela com grão-de-bico (16,50€), passando pela presa de porco preto com batata assada e puré de aipo (15,50€).

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Pudim de Late Harvest Nelson Garrido

Começamos com pão de massa-mãe da padaria Masseira, broa de Avintes e azeite do Esporão (3,50€). Nas entradas, vamos pela deliciosa empada de rabo de boi e salada do campo (7,50€) e ainda provamos o escabeche de coelho (6€). Continuamos com a corvina, arroz Carolino com lingueirão e limão confit (16,50€) – uma refrescante surpresa – e terminamos com um sabor “mais-português-é-difícil": na língua e mão de vitela estão todas as referências da comida de conforto da avó. Para fechar, bolo de mel e azeite com sorvete de maçã verde (9€) e pudim de Late Harvest, laranja e hortelã (7€). No copo, tivemos sempre o mesmo vinho, que António Roquette escolheu por ser capaz de casar bem com todos os pratos: o Vinho de Talha Moreto 2017.

Ao almoço, está disponível um menu que permite escolher um prato principal, uma entrada e bebida; ou prato principal, sobremesa e bebida. Custa 15€. Durante a tarde, o Esporão no Porto, que quer também ser uma porta aberta à divulgação cultural – neste momento, por exemplo, a montra está decorada com cestaria concebida no âmbito do projecto Passa ao Futuro, que divulga os artesãos portugueses que ainda respeitam as técnicas tradicionais –, funciona como sala de provas. Há as que estão calendarizadas – a próxima acontece a 11 de Fevereiro e será dedicada aos vinhos da Quinta dos Murças – e as informais: entre as 15h e as 19h, pode entrar, pedir um copo de vinho e acompanhá-lo com azeitonas, um prato de queijos ou enchidos ou outro petisco que lhe apeteça.

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