Ímpar

Viver os 80 a dançar e a confirmar que a idade é um número

Com 82 e 86 anos, a dupla de bailarinos Maya Kachina e Lev Kitayev vive para dançar e actua com regularidade em centros sociais, em Moscovo.

Com roupeiros cheios de fatos brilhantes e armários repletos de troféus, a dança deu uma nova vida ao casal. "Gosto muito de fazer apresentações. Fico muito feliz", confessa Kachina, após um dos muitos espectáculos de dança Evgenia Novozhenina/Reuters
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Com roupeiros cheios de fatos brilhantes e armários repletos de troféus, a dança deu uma nova vida ao casal. "Gosto muito de fazer apresentações. Fico muito feliz", confessa Kachina, após um dos muitos espectáculos de dança Evgenia Novozhenina/Reuters

Conheceram-se numa pista de dança há mais de 20 anos. Kitayev, hoje com 86 anos, era um dançarino exímio. E Kachina, com menos quatro, percebeu que junto dele poderia aprender a dançar como nunca tinha conseguido.

Depois desse primeiro encontro, passaram a dividir a casa, a vida e os palcos. Mas, sublinham, não têm qualquer relação romântica. Até porque o coração de qualquer um deles já tem dona há muito tempo, chama-se dança.

O casal russo Maya Kachina, de 82 anos, e Lev Kitayev, de 86, gosta de provar que a idade é apenas um número, ao encantar o público idoso em Moscovo com os seus movimentos de dança
O casal russo Maya Kachina, de 82 anos, e Lev Kitayev, de 86, gosta de provar que a idade é apenas um número, ao encantar o público idoso em Moscovo com os seus movimentos de dança Evgenia Novozhenina/Reuters
"Depois da guerra, quando eu tinha cerca de 10 anos, a minha mãe levou-me ao teatro", lembra Kachina, enquanto descansava após uma apresentação em Moscovo. "Durante a guerra, fomos evacuados para Omsk. [A bailarina russa] Galina Ulanova estava a dançar. [Ela era] um cisne, com um tutu branco, lindo. A música, era um mundo novo para mim. Mas penetrou a minha alma. Tanto, que eu disse a mim mesma que queria ser assim. Mas como eu poderia ser assim? O meu pai estava no Exército, e nós íamos para onde o enviavam. Como poderia eu dançar?"
"Depois da guerra, quando eu tinha cerca de 10 anos, a minha mãe levou-me ao teatro", lembra Kachina, enquanto descansava após uma apresentação em Moscovo. "Durante a guerra, fomos evacuados para Omsk. [A bailarina russa] Galina Ulanova estava a dançar. [Ela era] um cisne, com um tutu branco, lindo. A música, era um mundo novo para mim. Mas penetrou a minha alma. Tanto, que eu disse a mim mesma que queria ser assim. Mas como eu poderia ser assim? O meu pai estava no Exército, e nós íamos para onde o enviavam. Como poderia eu dançar?" Evgenia Novozhenina/Reuters
Quando começaram a dançar em conjunto, depois de se terem conhecido numa pista de dança, em Moscovo, há mais de 20 anos, Kachina tinha muito a aprender com Kitayev e sentiu que precisava de dar provas. Mas, após anos de prática, o casal tornou-se num dos pares de dança mais velhos da Rússia. "Vi que ele dançava melhor do que eu, e, claro, decidi agarrar-me a ele", conta Kachina sobre o seu primeiro encontro no parque Sokolniki, na capital russa. "Lev nem deu por mim porque eu não sabia dançar."
Quando começaram a dançar em conjunto, depois de se terem conhecido numa pista de dança, em Moscovo, há mais de 20 anos, Kachina tinha muito a aprender com Kitayev e sentiu que precisava de dar provas. Mas, após anos de prática, o casal tornou-se num dos pares de dança mais velhos da Rússia. "Vi que ele dançava melhor do que eu, e, claro, decidi agarrar-me a ele", conta Kachina sobre o seu primeiro encontro no parque Sokolniki, na capital russa. "Lev nem deu por mim porque eu não sabia dançar." Evgenia Novozhenina/Reuters
Kachina fez o seu primeiro vestido de dança sozinha, recorrendo a roupas velhas doadas por membros da plateia após as suas apresentações
Kachina fez o seu primeiro vestido de dança sozinha, recorrendo a roupas velhas doadas por membros da plateia após as suas apresentações Evgenia Novozhenina/Reuters
Os sapatos de dança de Maya Kachina alinhados antes de uma apresentação
Os sapatos de dança de Maya Kachina alinhados antes de uma apresentação Evgenia Novozhenina/Reuters
Maya Kachina escova os cabelos em casa. "Eu costumava ir aos campos, aos campos vazios e dançar sozinha. Gostava muito. E realmente queria dançar e viver toda a minha vida nos meus sonhos."
Maya Kachina escova os cabelos em casa. "Eu costumava ir aos campos, aos campos vazios e dançar sozinha. Gostava muito. E realmente queria dançar e viver toda a minha vida nos meus sonhos." Evgenia Novozhenina/Reuters
Lev Kitayev mostra alguns dos seus trajes de dança. "Várias mulheres queriam dançar comigo”, recorda, explicando que para as aceitar estas teriam de ter “pernas fortes, coração e desejo de actuar e disciplina"
Lev Kitayev mostra alguns dos seus trajes de dança. "Várias mulheres queriam dançar comigo”, recorda, explicando que para as aceitar estas teriam de ter “pernas fortes, coração e desejo de actuar e disciplina" Evgenia Novozhenina/Reuters
Maya Kachina aplica maquilhagem. "Às vezes, pergunto ao Lev se devo tatuar as minhas sobrancelhas. Se devo fazer uma tatuagem", confessa Kachina. Mas Kitayev responde-lhe: "Não há necessidade"
Maya Kachina aplica maquilhagem. "Às vezes, pergunto ao Lev se devo tatuar as minhas sobrancelhas. Se devo fazer uma tatuagem", confessa Kachina. Mas Kitayev responde-lhe: "Não há necessidade" Evgenia Novozhenina/Reuters
Lev Kitayev prepara-se para uma apresentação num centro social em Moscovo. "Já actuamos em centros sociais há mais de 20 anos. De forma gratuita, antes ou depois do almoço; eles anunciam o espectáculo com antecedência. Assim, os reformados podem comer de graça e assistir aos espectáculos."
Lev Kitayev prepara-se para uma apresentação num centro social em Moscovo. "Já actuamos em centros sociais há mais de 20 anos. De forma gratuita, antes ou depois do almoço; eles anunciam o espectáculo com antecedência. Assim, os reformados podem comer de graça e assistir aos espectáculos." Evgenia Novozhenina/Reuters
Maya Kachina e Lev Kitayev organizam as cadeiras antes de uma apresentação num centro social em Moscovo
Maya Kachina e Lev Kitayev organizam as cadeiras antes de uma apresentação num centro social em Moscovo Evgenia Novozhenina/Reuters
Para ficar em forma e manter a flexibilidade, Kachina faz exercício diário. À Reuters, explicou que as outras mulheres acham a sua força extraordinária, lembrando uma espectadora: "Eu disse que tinha 82 anos. Ela estava sentada na primeira fila e disse: 'Tenho 83, mas a senhora pulou com tanta facilidade e os seus braços moveram-se tão facilmente que não consigo acreditar como isso é possível’. Foi o maior elogio para mim."
Para ficar em forma e manter a flexibilidade, Kachina faz exercício diário. À Reuters, explicou que as outras mulheres acham a sua força extraordinária, lembrando uma espectadora: "Eu disse que tinha 82 anos. Ela estava sentada na primeira fila e disse: 'Tenho 83, mas a senhora pulou com tanta facilidade e os seus braços moveram-se tão facilmente que não consigo acreditar como isso é possível’. Foi o maior elogio para mim." Evgenia Novozhenina/Reuters
Lev Kitayev arruma a sua roupa de dança depois de uma apresentação
Lev Kitayev arruma a sua roupa de dança depois de uma apresentação Evgenia Novozhenina/Reuters
Maya Kachina e Lev Kitayev jogam às cartas na casa que partilham, em Moscovo
Maya Kachina e Lev Kitayev jogam às cartas na casa que partilham, em Moscovo Evgenia Novozhenina/Reuters
Juntos há mais de duas décadas, Kachina e Kitayev desenvolveram uma cumplicidade que lhes permite executar movimentos arriscados
Juntos há mais de duas décadas, Kachina e Kitayev desenvolveram uma cumplicidade que lhes permite executar movimentos arriscados Evgenia Novozhenina/Reuters
A dupla divide um antigo apartamento soviético nos arredores da capital russa, mas diz não ter qualquer envolvimento romântico
A dupla divide um antigo apartamento soviético nos arredores da capital russa, mas diz não ter qualquer envolvimento romântico Evgenia Novozhenina/Reuters
Pedaços do passado de ambos habitam a casa que partilham
Pedaços do passado de ambos habitam a casa que partilham Evgenia Novozhenina/Reuters
O par, a caminho de mais uma apresentação, diz que aquilo que o move é a necessidade de partilhar com o público a alegria que tem a dançar
O par, a caminho de mais uma apresentação, diz que aquilo que o move é a necessidade de partilhar com o público a alegria que tem a dançar Evgenia Novozhenina/Reuters
A maior parte dos rendimentos da dupla é destinada a sapatos de dança e novas roupas. Só Kitayev tem uma colecção de mais de 40 conjuntos de dança
A maior parte dos rendimentos da dupla é destinada a sapatos de dança e novas roupas. Só Kitayev tem uma colecção de mais de 40 conjuntos de dança Evgenia Novozhenina/Reuters