Filipe Sambado cancela concerto no Hard Club depois de comício do Chega

Em comunicado divulgado quinta-feira, o músico e a sua promotora, a Maternidade, afirmam que “não se podem mostrar coniventes com um espaço que se permite compactuar com um encontro de ideologia de extrema-direita”. Mantém-se, contudo, o concerto de apresentação do novo álbum, Revezo, em 14 de Fevereiro, mas transferido para o Maus Hábitos.

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"Não posso ser hipócrita quando se assiste a um crescimento da extrema-direita a nível mundial", afirmou o músico ao PÚBLICO DR

Filipe Sambado cancelou o concerto que tinha marcado para 14 de Fevereiro, no Hard Club, no Porto, por o espaço ter acolhido um encontro “de ideologia de extrema-direita”, do partido Chega.

“Soube-se que no passado sábado dia 24 de Janeiro ocorreu um encontro do partido Chega, no Mercado Ferreira Borges, na sala 1 do Hard Club. O Filipe, a sua banda e a Maternidade [editora, produtora e promotora que o agencia] não se podem mostrar coniventes com um espaço que se permite a compactuar com um encontro de ideologia de extrema-direita, contando com membros que manifestam uma agenda e um programa racista, xenófobo, homofóbico, transfóbico, misógino e tantos outros adjectivos depreciativos de opressão e intolerância, contra os quais nos posicionamos, expressamos e lutamos”, lê-se numa nota divulgada quarta-feira nas redes sociais, nas páginas oficiais da Maternidade e de Filipe Sambado.

Apesar do cancelamento, Filipe Sambado irá apresentar o seu novo álbum, Revezo, no Porto, dia 14 de Fevereiro, mas no espaço Maus Hábitos. Quem já tinha bilhete para o concerto no Hard Club pode “pedir o reembolso do bilhete na bilheteira daquele espaço, até dia 14 de Fevereiro”.

Esta semana foram divulgadas nas redes sociais imagens de um encontro do Chega, partido representado na Assembleia da República por André Ventura, nas quais se via um apoiante do partido a levantar o braço direito no ar, em saudação nazi, enquanto era cantado o hino nacional.

Nas redes sociais, a acompanhar o vídeo, foi escrito um texto no qual se recordava que, enquanto por “todo o mundo democrático” se assinalavam os 75 anos da libertação dos prisioneiros judeus do campo de concentração nazi de Auschwitz, na Polónia, “na cidade do Porto, um comício do Chega acaba com um apoiante de André Ventura na primeira fila a fazer a saudação nazi, ao som do hino nacional”.

No decorrer da entrevista com o músico a publicar no Ípsilon desta sexta-feira, Filipe Sambado declarou ao PÚBLICO que “a partir do momento em que tenho um posicionamento político, mesmo não militando em nenhum partido por não subscrever integralmente nenhum deles, não posso ser hipócrita quando se assiste a um crescimento da extrema-direita a nível mundial”. A decisão de cancelar o concerto surge da necessidade de tomar uma posição clara e de obrigar a que essa clareza seja assumida em ambos os sentidos. “Se há uma casa que recebe um conjunto de pessoas com uma índole política que não é tolerante com minorias, por exemplo, tenho que dizer que não faço parte dessa casa. Até porque isso obriga também a que, do outro lado, as pessoas clarifiquem a sua posição. Não posso ser contra as ideias políticas de cada um, mas devo ser contra a intolerância das pessoas e assumi-lo”. 

A Lusa tentou obter uma reacção por parte do Hard Club, mas, até ao momento, sem sucesso.

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