Não há lugar para o fascismo no Portugal de Abril

Mandar uma deputada para a sua terra de origem, numa clara alusão à sua cor de pele, é uma afirmação que merece o mais veemente repúdio por todos os democratas e patriotas que queiram Portugal como um país de paz e solidariedade, amigo de todos os povos do mundo e respeitador para com todos

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Nuno Ferreira Santos

Não é mais possível chutar para debaixo do tapete e ignorar tudo o que o Chega e André Ventura têm dito e feito desde que entraram no parlamento. A deriva obscurantista e reaccionária a que temos assistido é má demais para que não se condene e perigosa demais para que não se combata. Sempre fui da opinião que contra o fascismo não pode haver complacência ou distracções, devemos-lhe um combate acérrimo e constante, não podemos esperar que a poeira assente porque pode nunca assentar. Quando André Ventura entrou no parlamento, pensámos que a sua agenda acabaria por acalmar, que os media deixariam de dar palco ao seu discurso inflamado. Depois achámos que todo este apoio e mediatismo seria coisa de pouca dura, até porque consideramos que esses populismos são coisas do estrangeiro e no entanto ele aí está.

Mandar uma deputada para a sua terra de origem, numa clara alusão à sua cor de pele, é uma afirmação que merece o mais veemente repúdio por todos os democratas e patriotas que queiram Portugal como um país de paz e solidariedade, amigo de todos os povos do mundo e respeitador para com todos. O facto de muitos terem calado o perigo que André Ventura representa para a sociedade portuguesa foi caminho aberto para que o discurso do medo se normalizasse. Começam a ser habituais comentários racistas e xenófobos, homofóbicos e antidemocráticos. Fazem correr muita tinta, mas pouca condenação.

Ele fala como um fascista, parece um fascista, ele diz o que qualquer fascista diria. De desconfiar? Claro. O Chega, conjuntamente com o seu líder, encerra todas as características de um partido de extrema-direita. Aliás, é um partido de extrema-direita. Os grandes problemas do país são encarados por estes como oportunidades de criar rupturas sociais e jogar-nos no pântano do extremismo. De repente, a culpa dos problemas da segurança social é da comunidade cigana, os negros são os culpados das faltas de condições de trabalho nas forças de segurança e a crítica sai da sua concepção de memória histórica. São feitas saudações nazis em comícios, é endeusado um líder que nos salvará das mãos dos terríveis socialistas. A família e os valores católicos são levados ao ponto de repugnar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto, ambas conquistas sociais e progressistas. Colocam entre as suas prioridades a castração química para condenados por pedofilia, o aumento das molduras penais para a pequena criminalidade e acarinham todos os actos de pancada sobre as minorias. Disseminam fake news pelas redes sociais e exploram a desinformação a seu favor.

Todos estes factos são alarmantes e indicadores de que tipo de partido e de pessoa estamos a falar. A dignidade da pessoa humana não pode ser medida pela carteira ou pela cor da pele. O tipo de afirmações que vimos ontem devem ser erradicadas de vez do espaço público.

Se o fascismo vem de pantufas, combatamo-lo com botas, diria o poeta.

Olhemos para as suas redes sociais, são milhares de gostos e centenas de partilhas, os comentários surgem como facadas no bom senso. Não nos podemos permitir olhar e assobiar para o lado porque eles não o vão fazer. Não há lugar para o fascismo no Portugal de Abril.

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