Cartas ao director

Rui Pinto, o orgulho de Portugal?

Alguns próceres do mundo da política, dos negócios e do futebol, se pudessem, erradicariam toda a informação credível e o trabalho jornalístico de investigação se estivessem em causa comportamentos pouco transparentes que indiciassem forte corrupção, lavagem de dinheiro, fuga aos impostos e apropriação indevida de dinheiros públicos. Vem isto a propósito da entrevista que o advogado francês William Bourdon, fundador da plataforma de apoio a denunciantes africanos (PPLAAF), concedeu ao PÚBLICO, enaltecendo as qualidades de Rui Pinto nas revelações do Luanda Leaks. O advogado tem noção que, como referiu, em Portugal existe um grupo secreto que controla certos interesses (alguém tem dúvidas?). O que se torna inadmissível é que Portugal não implemente medidas de protecção para os denunciantes. O que é extraordinário e absurdo é que, como afirmou Bourdon “alguém consiga ser admirado e celebrado num país e, ao mesmo tempo, seja criminalizado no outro”. Daí que, em certa medida, Rui Pinto deveria ser o orgulho de Portugal. Por ter contribuído para apurar a verdade e por ter auxiliado as autoridades portuguesas a colocar um ponto final nesses crimes. Mas, até onde irão as investigações das autoridades? Até onde irá “o grupo secreto que controla certos interesses”? Até onde irá a resistência de Rui Pinto? Não gostaria de evocar Ezra Pound quando afirmava que “a política é a mera continuação dos negócios. Dos políticos e daqueles que adejam à volta deles”. Será?

António Cândido Miguéis, Vila Real

​PSD

Não vou embarcar no estafado argumento de que o PSD de Rui Rio é a muleta do PS. Mas o certo é que a visão paroquial da política - um partido a olhar só para o seu umbigo - também é afastada por Rio,  que sempre se disponibilizou para consensos com o PS. O país está primeiro, dizia Sá Carneiro e o legado do fundador do PSD é seguido à risca por Rio, sem embargo deste considerar os socialistas o adversário principal e querer ser Governo já em 2021, na esperança de que a nova governação do PS à Guterres acabe em novo pântano. O “bota-abaixo” de Montenegro foi-lhe fatal. Ainda mal era conhecido o OE e já o derrotado do PSD dizia não saber o que Rio esperava para não anunciar já o voto contra! Não creio que os portugueses apreciem muito este género de fazer política.

A governação à Guterres do PS tem agora, mais potenciais soluções, pelo que o país também pode ganhar com a vitoria de Rio mas, sinceramente, não cremos que o façam, por variadíssimas razōes. O aliado preferencial do PS, salvo, porventura, decisōes mais de carácter estrutural, que requerem dois terços, deverá ser sempre a esquerda. Em primeiro, a suposta viragem à direita dos socialistas engrossaria eleitoralmente o BE e PCP, com perda de influência do PS. Depois, a “geringonça” foi bom negócio para o partido da rosa e Rio não está provado que também o seria. Finalmente, qualquer que seja o horizonte da carreira política de Costa, Belém ou cargo europeu de prestigio, a “geringonça” parece ser, em ambos os casos, a melhor companhia.

Simões Ilharco, Lisboa

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