Culto, anarquista e criminoso. Espanhol filho de portuguesa foi preso no Minho

Gabriel Pombo da Silva esteve preso durante três décadas. Não quer ser extraditado para Espanha por crimes que remontam aos anos 90, incluindo homicídio de dono de casa de alterne.

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A sua vida dava um filme. Com 52 anos de idade, esteve preso mais de metade da vida. Filho de uma minhota, o espanhol Gabriel Pombo da Silva conta no seu currículo com assaltos a três dezenas de bancos e o homicídio do dono de uma casa de alterne. Foi toda uma carreira dedicada à delinquência, mas também ao anarquismo, movimento no qual, segundo as autoridades do país vizinho, tinha um papel de liderança.

Nos últimos meses, este homem que escreveu um livro e chegou a proferir conferências em universidades de Espanha depois de ter saído da cadeia resolveu levar uma vida pacata no Minho, com a família. Mas a justiça do lado de lá da fronteira não se esqueceu dele: quer vê-lo outra vez na prisão, para expiar crimes cometidos nos anos 90 – não só o assassinato no bar como também vários casos de extorsão, sequestro, tráfico de drogas e ainda e o assalto a um banco na Galiza.

A Polícia Judiciária anunciou esta terça-feira de manhã a sua detenção na região de Monção, com a colaboração das autoridades espanholas e italianas. Porém, Gabriel Pombo da Silva, que saiu da cadeia há meia dúzia de anos, alega que já pagou todas as suas dívidas à sociedade e recorreu da extradição para o seu país. O Tribunal da Relação de Guimarães tem agora 60 dias para decidir se o liberta, como ele pretende, ou se o entrega a Espanha. Até isso acontecer, está preso preventivamente numa cadeia do Norte do país.

Gabriel Pombo da Silva nunca escondeu as suas origens humildes e a dureza dos primeiros anos de vida. Nascido num bairro popular de Vigo nos tempos do franquismo, era ainda pequeno quando rumou com os pais à Alemanha, em busca de uma vida melhor. Foi nesse país que viveu a sua primeira experiência de privação de liberdade, num centro de menores. “Tratavam-nos como se fôssemos gado”, recordou, numa entrevista ao site de informação alternativa Galiza Contrainfo, quando já se encontrava no que designou por “exílio português”.

Foi depois de regressar a Vigo que iniciou as actividades de “expropriação”. Umas vezes actuava sozinho, outras, acompanhado. E não descartava a violência, que empregou em vários dos assaltos que fez tanto em Espanha como na Alemanha, e que incluíram troca de tiros com a polícia.

Terá frequentado estudos superiores de Filosofia, interessando-se, entre outros, pelos existencialistas: Jean-Paul Sartre, Camus e Simone de Beauvoir. Fala deles numa obra que publicou em 2006, Diário e Ideário de um Delinquente.

Gabriel Pombo da Silva integra um movimento denominado Anarquistas Insurrectos. E mesmo depois de se ter escondido no Minho, numa tentativa de escapar à justiça espanhola, nunca deixou de difundir esta ideologia em escritos e manifestos que colocou online, segundo explica, em comunicado, a polícia deste país: “Apresentava-se como líder deste movimento e incitava aos actos terroristas”. Depois de ter cumprido pena de cadeia em Espanha, “realizou conferências por todo o país sobre o movimento insurrecto anarquista”. 

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