Johnson aprova Huawei no 5G do Reino Unido

Chineses ficam porém proibidos de fornecer “partes sensíveis” da quinta geração móvel. Bruxelas apresenta amanhã plano de segurança para o 5G europeu.

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Boris Johnson, no n.º 10 de Downing Street, a 25 de Janeiro, início do ano novo chinês EPA/WILL OLIVER

Londres classifica a Huawei como um “fornecedor de alto risco”, mas dá luz verde à entrada da tecnológica chinesa no desenvolvimento da quinta geração móvel (5G) no Reino Unido. Porém, as queixas contra a Huawei por parte da administração dos EUA, que tentou persuadir Londres a afastar os chineses do negócio, não caíram totalmente em saco roto. A Huawei vai continuar a poder trabalhar nas redes britânicas, mas ficará “limitada” a um “papel menor”.

A empresa que é líder mundial no fornecimento de infra-estruturas de telecomunicações não poderá fornecer “partes sensíveis” que equipam o núcleo central da futura rede 5G britânica.

Além disso, só poderá vender até 35% do material que constitui a “periferia” (que incluem as antenas). E será excluída de zonas próximas de bases militares ou instalações nucleares.

Estas são algumas das restrições que se aplicam a todas as empresas que venham a ser classificadas como fornecedores de alto risco, segundo o documento divulgado nesta terça-feira pelo governo britânico. Esse documento revê as linhas-mestras para a segurança das redes 5G e a principal dúvida era a posição de Londres face a empresas como a Huawei, que têm sido apresentadas como um risco para a segurança ocidental.

Secretário da Defesa Ben Wallace e Major General Nick Carter à chegada a Downing Street, onde decorreu hoje a reunião que deu luz verde à Huawei EPA/ANDY RAIN
Sajid Javid, chanceler do Tesouro, à saída da mesma reunião EPA/ANDY RAIN
Secretário dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, antes da reunião sobre a segurança do 5G no Reino Unido EPA/ANDY RAIN
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Secretário da Defesa Ben Wallace e Major General Nick Carter à chegada a Downing Street, onde decorreu hoje a reunião que deu luz verde à Huawei EPA/ANDY RAIN

Washington tem tentado convencer todos os aliados – incluindo Portugal – a afastarem empresas como a Huawei. Alguns deputados conservadores britânicos queriam que Londres excluísse os chineses, temendo uma crise diplomática com Trump a três dias do “Brexit", mas o governo de Boris Johnson optou por uma solução diferente. 

Apesar das restrições, os responsáveis chineses saúdam esta decisão. “A Huawei sai reconfortada com a confirmação por parte do Governo do Reino Unido de que poderemos continuar a trabalhar com os nossos clientes (...). Esta decisão baseada em factos resultará numa infra-estrutura mais segura, mais avançada, mais eficiente em termos de custo. Dará ao Reino Unido acesso a tecnologia de classe mundial e assegura a concorrência no mercado”, declara Victor Zhang, vice-presidente da Huawei.

A rede 5G exigirá uma reformulação completa da arquitectura das redes de telecomunicações. Os EUA têm insistido que o momento deve ser aproveitado para afastar empresas que estejam na órbita de regimes autocráticos como o liderado pelo Partido Comunista Chinês a partir de Pequim. A equipa de Trump, cujas acções de lobby já deram voltas ao mundo, entendem que não se pode colocar a próxima rede de comunicação nas mãos de empresas sujeitas à Lei Nacional de Inteligência da República Popular da China, aprovada em Junho de 2017, que obriga cidadãos e empresas chinesas a “apoiar e cooperar” com os serviços secretos chineses.

A mesma lei impõe ainda que ninguém “deve recusar” a colaboração com Pequim em acções de contra-espionagem. O risco disto, avisam os EUA, é os segredos ocidentais caírem em mãos chinesas.

Porém, a equipa de Boris Johnson, que chefiou a reunião desta terça-feira em Londres, entende que há outras formas de gerir o risco. E por isso mandatou o Conselho Nacional de Cibersegurança do Reino Unido a definir as regras práticas que serão vertidas em lei logo que estejam prontas.

Desta forma, diz a BBC, Londres evita o confronto aberto com o principal aliado, os EUA, e ameniza o choque com uma das maiores empresas chinesas, que tem sido apoiada por Pequim na sua luta contra o lobby norte-americano. A cedência total aos EUA poderia levar a retaliações comerciais por parte da China contra o Reino Unido, algo que Londres precisaria de evitar, agora que está a poucas horas de concretizar a saída da União Europeia.

Bruxelas, por seu lado, anunciará na quarta-feira o seu plano de segurança global para o 5G europeu. A comissária Margrethe Vestager e outros responsáveis comunitários divulgarão na capital belga o chamado 5G security toolbox.

Países como Alemanha, França e Portugal têm afastado a ideia de proibir a concorrência da Huawei. Numa decisão de Dezembro de 2019, o Conselho da União Europeia, que reúne os representantes permanentes dos 28 países da UE em Bruxelas, defende que a escolha dos fornecedores na Europa deve ter em conta “critérios não técnicos” como o “quadro legal e político” dessas empresas.

Em Portugal, o 5G tem sido objecto de experiências de operadores como a Nos, Vodafone e Altice. O primeiro passo rumo às novas redes será porém o leilão de frequências, promovido pelo regulador, a Anacom. Algo que já foi feito noutros países e que por cá deverá ocorrer em Abril.

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