Fábrica Confiança: Junta de São Vítor acusa Câmara de Braga de “falta de respeito institucional”

Antes da votação que legitimou a venda da antiga fábrica na Assembleia Municipal de sexta-feira, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, anunciou que a Junta de Freguesia de São Vítor, onde se encontra o imóvel, ia votar a favor da proposta, alterando o sentido de voto do passado. O presidente da Junta, Ricardo Silva, defendeu que nenhum sentido de voto pode ser apresentado como um “troféu”.

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Nelson Garrido

Depois de ter aprovado uma proposta de alienação do edifício que acolheu a saboaria e perfumaria Confiança até 2005 por 3,87 milhões de euros, na sessão de 04 de Outubro de 2018, a Assembleia Municipal de Braga viabilizou, na sexta-feira, uma nova proposta de venda, que avalia o imóvel em 3,65 milhões e obriga o comprador a transformar aquela zona numa residência universitária capaz de albergar 300 estudantes.

Apesar da oposição dos deputados do PS, da CDU e do BE, a proposta recolheu 42 votos a favor, 25 contra e quatro abstenções; um dos votos favoráveis foi o da Junta de Freguesia de São Vítor, que alberga a Confiança no seu território e votara contra em Outubro de 2018. O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, anunciou essa decisão à Assembleia antes da votação, postura que mereceu as críticas do líder da freguesia mais populosa de Braga (acima dos 30.000 habitantes), eleito pela coligação PSD/CDS-PP, a mesma força política que lidera o município.

Impossibilitado de participar na reunião magna de sexta-feira, por se encontrar no XVII Congresso da Associação Nacional das Freguesias (ANAFRE), decorrido em Portimão, entre 24 e 25 de Janeiro, Ricardo Silva afirmou, nesta segunda-feira, que o presidente da Câmara não devia ter antecipado o sentido de voto da Junta a que preside. “Há aqui uma falta de respeito institucional ao adiantar-se um sentido de voto que tem de ter tramitação própria. Antecipar o sentido de voto da Junta como um troféu não me parece sequer plausível”, disse, na reunião quinzenal do executivo municipal.

Opositor da venda do edifício que acolheu a fábrica criada em 1894, Ricardo Silva frisou que o voto de São Vítor não representa a sua posição pessoal, mas as decisões tomadas por sete dos elementos que compõem a Junta de Freguesia. “O sentido de voto da Junta não é presidencialista. É colegial”, explicou.

Perante as críticas do autarca de São Vítor, Ricardo Rio justificou a revelação que fez na última Assembleia Municipal com a “relevância acrescida” que a posição daquela Junta tem relativamente ao edifício da Confiança, esteja ela contra a venda ou a favor. “Não acho que as minhas declarações ponham minimamente em causa a posição da Junta de Freguesia de alterar a sua posição face ao passado”, observou.

Continuam os protestos contra a venda

A venda do imóvel a privados é um processo que continua a merecer a oposição da Salvar a Fábrica Confiança, plataforma cívica que se manifestou na Assembleia Municipal com algumas dezenas de elementos. No momento em que os resultados da votação foram conhecidos, surgiram cartazes alusivos à venda, nos quais os vereadores municipais apareciam na pele de agentes imobiliários.

Além de defender a criação de um centro cívico e cultural na antiga fábrica, o movimento cidadão critica a própria venda, por considerar que não faz sentido o preço-base apresentado aos privados ser inferior à verba de 3,9 milhões de euros que a Câmara teve de gastar para ter a posse do imóvel, ainda para mais quando já está definido o uso daquele espaço. “Este é um negócio em que os privados não têm qualquer risco e Câmara está a protegê-los”, disse ao PÚBLICO Luís Tarroso Gomes.

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