Novo museu ferroviário nasce a reboque do êxito do Vouguinha

Triplicar o espaço do actual núcleo museológico de Macinhata e recuperar as oficinas de Sernada do Vouga fazendo da única linha de via estreita portuguesa um pólo de atracção turística, é o objectivo do município de Águeda

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Projecto para o novo museu
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O êxito que a realização de comboios históricos tem tido na linha do Vouga e a percepção de que a última via estreita portuguesa constitui um pólo de atracção para os entusiastas do caminho-de-ferro e para o público em geral, levaram a Câmara de Águeda a apostar na construção de um museu ferroviário a sério no lugar do actual núcleo museológico de Macinhata do Vouga.

O investimento previsto é de 500 mil euros e Jorge Almeida, presidente da câmara, diz que espera começar as obras no fim deste ano por forma a inaugurar o novo museu em finais de 2021. Pendente está a possibilidade de candidatar uma parte do projecto a fundos comunitários.

“Pretendemos criar aqui um grande pólo museológico da via estreita em Portugal que, numa segunda fase, passa também por recuperar as oficinas de Sernada do Vouga [a três quilómetros de Macinhata] e termos um eixo com demonstrações de vapor ao vivo”, disse Jorge Almeida ao PÚBLICO.

O actual núcleo museológico pertence à Fundação Museu Nacional Ferroviário, mas é a câmara de Águeda que paga a maioria das despesas de funcionamento, no âmbito de um protocolo de gestão partilhada. A propriedade do terreno e do pavilhão onde estão as peças em exposição é da Infra-estruturas de Portugal, mas o município comprou, por 45 mil euros, o terreno circundante para poder ampliar as instalações.

“O pavilhão existente será totalmente mantido, sem desrespeito pela mística que tem no presente, mas serão erguidos dois volumes resultantes da ampliação do museu que estão organizados numa “confluência” que é característica do vale do Vouga e dos seus recursos hídricos”, explica Carolina Freitas, arquitecta autora do projecto.

Noutra perspectiva, prossegue, “poder-se-á imaginar três carris convergindo, criando um congestionamento com as carruagens que os percorriam”.

Na confluência dos três edifícios (o actual e os dois previstos) haverá “uma espécie de átrio onde a distribuição dos visitantes se proporcionará de maneira natural e fluida”, diz Carolina Freitas. Este espaço central é inspirado nas plataformas giratórias usadas para rodar as locomotivas a vapor e, segundo a arquitecta, funcionará como foyer, anfiteatro e guichet.

A responsável diz que os três volumes beneficiam de uma grande comunicação entre eles “transformando, no fundo, todo o complexo numa grande nave expositiva”.

A palavra-chave desta proposta é a simplicidade. “O presidente da Câmara de Águeda pediu-nos que não houvesse devaneios, que o projecto teria de ter os pés bem assentes no chão, que fosse simples, com custos reduzidos e que respeitasse o valor e a simbologia daquele lugar”, conta a arquitecta.

Um pedido que foi satisfeito. Jorge Almeida reconhece que é um projecto “contido” e que “aqui não se vão gastar milhões como no Entroncamento”. Mas crê que será o suficiente para desenvolver o turismo ferroviário.

Decisivo nesta ambição é o Vouguinha, o comboio histórico que voltou aos carris em 2017 com uma velha locomotiva a diesel e que foi um sucesso durante três verões seguidos.

Em Dezembro e Janeiro a CP foi mais longe e realizou três viagens com tracção a vapor no que foi um retumbante sucesso, que o presidente da Câmara de Águeda quer agora potenciar com a oferta de um verdadeiro museu ferroviário.

“Não podíamos ignorar o entusiasmo que isto gerou nas viagens que foram feitas. Até vieram pessoas de propósito da Irlanda para andar no comboio a vapor”, diz Jorge Almeida, sublinhando o carácter único e a mística da via estreita (a distância entre carris é de apenas um metro) para os entusiastas dos caminhos-de-ferro.

O núcleo museológico de Macinhata do Vouga é constituído por um pavilhão antigo onde estão praticamente amontoadas um conjunto de veículos ferroviários de grande valor patrimonial. Do seu espólio constam seis locomotivas a vapor e uma diesel, carruagens de passageiros, um salão pagador (que transportava o dinheiro para pagar os salários aos ferroviários ao longo da linha), uma ambulância postal (o transporte dos correios era efectuado por via férrea), vagões de mercadorias, uma dresine de inspecção de via, entre outras peças.

Mas todo o material está muito apertado, não permitindo ao visitante apreciá-lo devidamente, sendo, inclusive, difícil tirar boas fotografias por falta de espaço.

Quando estes veículos estiveram devidamente acomodados, Jorge Almeida quer ir mais longe, até ao complexo ferroviário de Sernada do Vouga, onde a CP e a IP possuem um quase museu, tal é a vetustez das instalações, que parecem que pararam no tempo. A ideia é fazer desta um prolongamento de Macinhata do Vouga.

Sernada é a estação términus da linha do Vouga e tem um enquadramento paisagístico interessante, junto ao rio homónimo, num ambiente rural e em frente a uma ponte de pedra, a única no país por onde passam, no mesmo tabuleiro, automóveis e comboios.

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