Exposição recorda dezenas de produtos alimentares produzidos em Estarreja

A Nestlé é apenas um entre vários exemplos de produção de alimentos e bebidas que fazem parte da história do município. Há uma mostra que ajuda a “avivar” essa memória.

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Adriano Miranda
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Se somos aquilo que comemos também é verdade que “a alimentação diz muito sobre a história de um povo”. Foi com base nesta premissa que o historiador Marco Pereira começou a recolher alguns rótulos, folhetos, cartões-de-visita, notícias de jornal e outros papéis, relacionados com produtos alimentares do concelho de Estarreja. Aparentemente papéis velhos e esquecidos, sem valor, mas que ajudam a contar a história da alimentação em Estarreja, a identidade alimentar local. Dezenas de artigos que estão, agora, expostos no átrio da câmara municipal de Estarreja e que trazem à memória as garrafas de pirolito e as manteigas e queijos Laclé, entre outros produtos e marcas.

Sendo uma zona com tradições na produção de gado, e palco de importantes feiras para a sua comercialização - como era o caso da Feira de Santo Amaro -, Estarreja acabou por ser, também, terra de lacticínios. O exemplo mais conhecido de todos é o da Sociedade de Produtos Lácteos, Lda., actual Nestlé. Fundada em 1923 por vários sócios, entre os quais Egas Moniz, a unidade instalada em Avanca, no lugar de Pensal, foi a primeira fábrica de leite em pó do país.

Por ali existiram também outras unidades de lacticínios, nomeadamente as chamadas “desnatadeiras”, que para resistir à concorrência “tiveram de se juntar”, recorda o historiador estarrejense. “Foi o caso da Sociedade Nunes Rodrigues Lda., mais tarde Laclé, e também da Favorita, que produzia leite em pó”, enumera. Duas marcas que já desapareceram do mercado, mas cujos produtos ainda estão bem presentes da memória de muita gente.

Tal como as marcas de refrigerantes produzidos no concelho e que começaram por ser comercializados na famosa garrafa de pirolito - os mais velhos lembram-se bem dela e do berlinde que a fechava. “Tínhamos várias unidades de produção de refrigerantes em Estarreja, fábricas domésticas, quase só de pai e filho, e que distribuíam para os concelhos à volta”, relata Marco Pereira. “Das garrafas de pirolito passaram, depois, para outras mais evoluídas, parecidas com as mais recentes, e já pirogravadas ou com rótulo”, acrescenta.

O tempo acabou por trazer, também para este sector de actividade, novas exigências e necessidade de adaptação. “Ainda na altura do Estado Novo, a regulamentação começou a exigir um conjunto de cuidados que implicavam investimentos e essas unidades só tinham dois caminhos: ou fechavam ou optavam por se juntar”, enquadra. A maior parte acabou por “ter o bom senso” de se juntar e criar uma empresa maior. Assim nasceu, a União dos Produtores de Refrigerantes de Estarreja Lda, UPREL, que ainda hoje se mantém em actividade, comercializando, essencialmente, para a região envolvente.

Marca de café e de vinho

Entre as dezenas produtos lembrados nesta exposição – que surge enquadrada no âmbito do 1.º Capítulo da Confraria Gastronómica de Santo Amaro – encontra-se também o Café Flor de Beduído, outrora Café Pinho. “Tem o nome de uma freguesia do concelho e ainda hoje existe”, refere Marco Pereira, a propósito da marca cuja origem remonta aos anos 50 do século passado.

Destaque, ainda, para as referências à EVA – Empresa Vinícola Abastecedora de Estarreja, L.da - de comércio de vinho, vinagre e aguardente -, e o mapa turístico do concelho de Estarreja de 1954, que mostra vários produtos alimentares do município. “Fizeram-se estes mapas para muitos municípios portugueses, especificando os produtores alimentares de cada território”, explica o historiador.

Também ali existem artigos de jornal alusivos a restaurantes da terra, bem como panfletos e publicidade de eventos e de estabelecimentos de restauração locais, sendo certo que esta é “uma colecção em construção”. “À medida que for encontrando mais artigos, será alargada”, promete Marco Pereira. Para já, há esta amostra de produtos alimentares de Estarreja para descobrir, numa exposição que vai estar patente até ao final deste mês.

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