Par de sexagenários confessa crime e devolução do quadro roubado de Klimt: “Oferecemos um presente à cidade”

Parte de uma rede que praticava há décadas assaltos a casas e instituições da zona de Piacenza, os dois ladrões confessaram serem os autores do roubo ocorrido em 1997. Esperaram mais de duas décadas para que, prescrito o crime, não pudessem ser julgados por ele. A confissão foi feita em carta enviada ao Libertà, um jornal regional de Piacenza.

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O quadro foi recuperado a 10 de Dezembro de 2019, escondido numa reentrância de uma parede exterior da Galeria de Arte Moderna Ricci Oddi Polizia di Stato / via REUTERS

Era o mistério que faltava resolver no caso do Klimt desaparecido em Piacenza, Itália, em 1997 e recuperado 22 anos depois, escondido numa parede exterior do museu que o detinha. A pergunta que se fazia, redescoberto Retrato de uma Senhora a 10 de Dezembro de 2019 e confirmada a sua autenticidade na semana passada, era: quem roubou o quadro e porque o deixou escondido nos terrenos da Galeria de Arte Moderna Ricci Oddi? A resposta chegou agora, de forma surpreendente. “Somos os autores do roubo de Retrato de uma Senhora, de Gustav Klimt (1862-1918), e oferecemos um presente à cidade ao devolver a tela”, escreveram os ladrões, hoje sexagenários, numa carta enviada ao repórter de um jornal regional, o Libertà.

O plano da dupla foi, no entanto, sabotado inadvertidamente quando dois jardineiros do museu descobriram o quadro guardado num saco de lixo num nicho de uma parede exterior oculto por uma placa de metal. “Não previmos a intervenção do jardineiro que, de qualquer modo, só se nos antecipou um pouco”, escreveram os responsáveis pelo roubo na carta endereçada a Ermanno Mariani. Repórter do Libertà, Mariani entrevistara um dos ladrões há alguns anos, no decorrer de um julgamento por assalto, e aquele terá confessado o roubo, alegação que não foi considerada credível.

Integrante de uma rede criminosa responsável por dezenas de roubos em Piacenza e nas zonas circundantes da cidade, a dupla parece ter-se tornado especialmente hábil no furto de património histórico. Em 1984 levara da Biblioteca de Passerini-Landi 300 manuscritos iluminados. “Os roubos foram feitos de forma semelhante — a biblioteca estava encerrada para obras de restauro e, dessa forma, os manuscritos podiam ser facilmente retirados”, explicou ao Guardian Ermanno Mariani. Em Fevereiro de 1997, o roubo de Retrato de uma Senhora, obra tardia do mestre austríaco, pintada entre 1916 e 1917, aconteceu também num período em que o museu se encontrava encerrado para preparar uma exposição que teria o quadro de Klimt como tema principal.

Há, porém, uma razão para a generosidade tardia, chamemos-lhe assim, da dupla de ladrões. A primeira confissão do roubo foi feita precisamente 20 anos depois daquele ter ocorrido, ou seja, após se ter cumprido o período necessário para a prescrição do crime. Segundo a versão que têm defendido, o quadro não esteve escondido o tempo todo na parede em que foi encontrado, tendo sido para ali transportado recentemente. O plano de devolução não correu, porém, como idealizado pelos assaltantes, culpa de dois jardineiros do Ricci Oddi. “É uma história muito estranha… Podiam tê-lo vendido ou queimado, o que quer que fosse”, comentou o advogado de defesa dos assaltantes. “Não irão para a prisão por isto, mas as boas notícias são que encontrámos o quadro”, concluiu. Aparentemente, nem ele sabe ainda os contornos exactos do misterioso caso deste Retrato de uma Senhora.

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