Quando a polícia alimenta o extremismo

Os portugueses precisam de continuar a confiar nos seus polícias. Episódios como o desta terça-feira apenas servem os propósitos dos que a querem destruir.

Só há uma forma de a PSP salvar a face no episódio de extrema violência exercida sobre uma cidadã na Amadora: provar de forma clara e inequívoca que não foi um dos seus agentes a deixar-lhe as marcas que revelam uma agressão tão bárbara como covarde. Num país onde prevalece o Estado de direito, as forças de segurança têm de ser as primeiras a respeitar regras básicas consagradas na Constituição, como as da proporcionalidade ou da igualdade, independentemente da raça ou cor.

Uma cidadã apanhada num autocarro com um filho menor sem título de transporte jamais poderia ser alvo de uma agressão com a violência que as imagens difundidas pelos jornais atestam; mesmo que essa cidadã tenha ripostado, nada justifica que, como tudo parece indicar, fosse metida num carro da polícia e sovada por agentes da autoridade.

Ainda que a prudência e o bom senso nos convidem a analisar com cautela uma situação sobre a qual ainda não sabemos tudo, o que é conhecido é suficientemente grave para que se exija ao comando da PSP e ao ministro da Administração Interna um inquérito rigoroso e imparcial. Por três razões de supremo interesse público: para que se faça justiça à cidadã agredida; para evitar que a PSP seja contaminada pela suspeita de que está a ser alvo da infiltração da extrema-direita; e para retirar argumentos aos extremistas dos movimentos antirracistas que encontram nestes tristes exemplos terreno fértil para transformar Portugal e os portugueses em expoentes máximos do racismo.

Para lá de um intolerável abuso sobre uma cidadã cujo “crime” foi não ter levado o passe de um filho menor, a agressão bárbara de um agente da PSP acentua a sensação de que, no país, caminhamos para um conflito que, em vez de demolir as graves barreiras raciais que existem, apenas servirá para as erguer mais alto.

O que aconteceu na Amadora tem de ser esclarecido rapidamente. O que sabemos é demasiado horrível para suportar a teia de procedimentos burocráticos dos inquéritos que tantas vezes esconde um propósito corporativo.

Um polícia que humilha uma cidadã em público, que alegadamente a agride dentro de um carro oficial e depois chama uma ambulância alegando uma queda está longe de cumprir os mínimos que se exigem a um agente da autoridade. Mesmo que tenha de beneficiar da presunção de inocência, deve ser suspenso das suas actividades. E enquanto tudo não se esclarecer, é urgente avançar com a obrigação de os polícias filmarem as suas intervenções.

Os portugueses precisam de continuar a confiar nos seus polícias. Episódios como o desta terça-feira apenas servem os propósitos dos que a querem destruir.

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