Presidente do Sri Lanka declara mortos os milhares de desaparecidos da guerra

Rajapaksa deu ordem para que sejam emitidos certificados de óbito para mais de 20 mil pessoas que desapareceram durante o longo confronto com os Tigres Tâmil.

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Presidente Gotabaya Rajapaksa era ministro da Defesa no final da guerra contra os Tigres Tâmil EPA/STR

Mais de 20 mil pessoas que desapareceram durante a guerra civil do Sri Lanka, que opôs as forças do Governo aos Tigres Tâmil durante 26 anos, foram declaradas mortas pelo Presidente Gotabaya Rajapaksa. O chefe de Estado autorizou a emissão de certificados de óbito para todos os desaparecidos e prometeu apoios para que “as suas famílias possam prosseguir com as suas vidas”.

A decisão de Rajapaksa – membro de uma poderosa família política cingalesa, ministro da Defesa nos últimos anos da guerra contra os separatistas e figura-chave no processo que levou ao fim brutal da mesma – foi anunciada no início desta semana, na sequência de um encontro entre o Presidente e um representante das Nações Unidas.

A organização mundial já acusou as duas partes de terem levado a cabo atrocidades durante o conflito e tem vindo a pedir ao Governo que abra investigações para averiguar as suspeitas de violações de direitos humanos e eventuais crimes de guerra.

A guerra entre o Exército fiel ao executivo, dominado por cingaleses, e o grupo separatista tâmil terminou em 2009 e tirou a vida a cerca de 100 mil pessoas. Entre os 23,586 desaparecidos – de acordo com os números oficiais –, mais de 5 mil eram membros das Forças Armadas, sendo que a grande maioria dos restantes são associados aos Tigres Tâmil.

O comunicado da presidência refere, no entanto, que grande parte dos desaparecidos, agora declarados mortos, “foram raptados” ou “recrutados à força” pelos rebeldes.

Uma tomada de posição que não coincide com as conclusões do Departamento de Investigação Criminal do Sri Lanka, que, em 2017 e numa altura em que a família Rajapaksa estava afastada do poder – perdeu as eleições de 2015, tendo voltado a ganhá-las em 2019 –, acusou o actual Presidente de ter autorizado a formação de “esquadrões da morte” para afastar e eliminar opositores, quando liderava o Ministério da Defesa.

Segundo a BBC, mesmo depois de 2009 continuaram a desaparecer “empresários, jornalistas e activistas” que se opunham abertamente a Gotabaya Rajapaksa e ao seu irmão e ex-Presidente, Mahinda Rajapaksa. A família nega todas as acusações

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