Dispositivos de saúde pública activados: São João, Curry Cabral e Dona Estefânia são unidades de referência

Apesar da probabilidade de Portugal vir a receber casos infectados ser baixa, a Direcção-Geral da Saúde decidiu reforçar as medidas de prevenção. Taxa de letalidade do novo coronavírus é para já de 3%.

Fotogaleria
Hospital Curry Cabral EVR ENRIC VIVES-RUBIO
Fotogaleria
Hospital Curry Cabral EVR ENRIC VIVES-RUBIO
Saúde
Fotogaleria
Graça Freitas, durectora-geral da Saúde Miguel Manso

Os dispositivos de saúde pública em Portugal foram reforçados na sequência do aumento de casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus, que até agora está associado à cidade chinesa Wuhan. Apesar de a probabilidade de Portugal receber casos infectados ser baixa, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) decidiu reforçar as medidas de prevenção. Eventuais casos suspeitos que possam surgir serão encaminhados para os hospitais de São João (adultos e crianças), no Porto, e Curry Cabral e Dona Estefânia, ambos em Lisboa.

Em conferência de imprensa, realizada esta quarta-feira à noite, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicou que a DGS reuniu há dois dias “um grupo de conselheiros que fez a avaliação risco no nosso país e decidiu a actualização de algumas medidas”. Fizemos duas ou três coisas que considero de imensa importância. Reactivámos mecanismos anteriores, fornecendo ao SNS 24 algoritmos que permitem o esclarecimento ou encaminhamento das pessoas – para que a pessoa não vá para unidade de saúde mas que ligue – e reforçámos a linha de atendimento médico operada por médicos para a qual os profissionais podem ligar se tiverem um caso suspeito.”

Graça Freitas adiantou que também está feita a articulação com o INEM, entidade responsável pelo transporte de eventuais casos suspeitos ou confirmados de doença, com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), responsável pelas análises laboratoriais, com os hospitais “São João, que é a unidade de referência no Norte em adultos e pediatria, e em Lisboa com os hospitais Curry Cabral, para adultos, e Dona Estefânia, para a pediatria”. Haverá também uma actualização da orientação técnica para os profissionais e sobre formas fáceis de comunicar com a população sobre a doença.

A directora-geral da Saúde afirmou que não existem casos suspeitos em Portugal e a probabilidade de se registarem “é baixa”. “Através dos contactos possíveis para tentar perceber se temos ou não probabilidade elevada de ter pessoas dessa região, não temos uma resposta positiva nesse sentido. A Embaixada da China teria dito se tivéssemos essa forte probabilidade. Nada faz crer num fluxo importante de pessoas vindas [da cidade de Wuhan ou dessa província] para Portugal.”

Graça Freitas referiu que nem a linha médica nem o SNS24 foram contactados. Em relação ao centro de contacto do SNS, que é a linha para onde a população liga, Graça Freitas explicou que foi feito um contacto com o Alto Comissariado para as Migrações, que tem um serviço de tradução, incluindo mandarim, que será activado caso seja necessário.

“Até ao momento, não temos indicação para fazer rastreio nos aeroportos”, afirmou a responsável, lembrando que as recomendações da Organização Mundial da Saúde são no sentido de se fazer o rastreio de febre e de outros sintomas na altura da partida do passageiro. Ainda assim, Portugal tem um protocolo internacional para aeronaves e navios, em que caso o passageiro desenvolva sintomas são activadas as autoridades de saúde em terra.

Novo vírus com 3% de letalidade

Graça Freitas citou os números de casos confirmados laboratorialmente que o Centrou Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC) deu esta quarta-feira de manhã, embora admitindo que a informação possa estar desactualizada: “448 casos, sete deles tinham saído da China e foram identificados noutros países. Destes, 441 casos são na China, espalhados por várias províncias.” Todos os casos têm ligação directa ou indirecta a cidade de Wuhan.

Há muitos doentes internados e vários em estado grave, afirmou Graça Freitas, que confirmou 17 mortes provocadas pelo novo coronavírus. “A maior parte mortes foi em pessoas mais idosas ou com doença associada de diversas patologias, como doença respiratória, diabetes e hipertensão. A taxa de letalidade do vírus é de cerca de 3%. Ou seja, em cada cem pessoas, três terão morrido com nova doença”, explicou a directora-geral da Saúde. 

“É uma letalidade relativamente alta para uma doença infecciosa, mas por comparação com os três coronavírus que foram mais agressivos, a síndrome respiratória aguda grave [SARS] tinha uma letalidade de 10% e a síndrome respiratória do Médio Oriente [MERS] de cerca de 35%. Este [MERS] é altamente letal e grave, mas atinge poucas pessoas”, disse a responsável.

Graça Freitas explicou que “há uma grande necessidade de confirmar todos os casos reportados” de infecção deste novo coronavírus, já que ao mesmo tempo circulam outros vírus respiratórios e da gripe. “Muitas das pessoas são confirmadas com gripe ou outros vírus e por isso há diferença grande nos números. Os números transmitidos por organizações oficiais são confirmados laboratorialmente.”

Sobre o novo coronavírus, “ainda não se sabe a fonte”. “Sabemos que os casos têm uma forte ligação a um mercado onde estavam animais vivos peixe, marisco e também aves. Poderá ser que a doença se transmita de animais para pessoas, atendendo que foi assim aconteceu noutros casos”, refere a especialista. Quanto à questão da transmissão sustentada pessoa a pessoa, Graça Freitas explicou que até agrave; data não há provas de que a transmissão seja eficaz no que respeita a originar grandes cadeias de transmissão. “Quando passa de um para outro com alguma dificuldade através de contacto íntimo, considera-se que não é sustentada”, disse, admitindo que “há motivos para mais atenção” com o aumento de casos confirmados.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários