Trapero nega colaboração dos Mossos no processo independentista catalão

Ex-chefe da polícia autonómica da Catalunha é um dos quatro dirigentes policiais acusados de rebelião no segundo julgamento sobre o referendo secessionista de 2017. Pena pode ir até 11 anos de prisão.

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Josep Lluís Trapero, ex-chefe dos Mossos d'Esquadra EPA/Fernando Villar / POOL

Josep Lluís Trapero, antigo chefe dos Mossos d’Esquadra, rejeitou esta segunda-feira, perante a Audiência Nacional espanhola, que tenha havido colaboração ou “passividade” na actuação da polícia autonómica da Catalunha durante os dias que antecederam a realização do referendo secessionista de 1 de Outubro de 2017, declarado ilegal por Madrid, bem como no próprio dia.

No arranque do segundo julgamento que tem como pano de fundo o processo que levou à declaração de independência catalã – e cujo primeiro capítulo deu a conhecer penas de prisão históricas para 9 dos 12 dirigentes condenados –, o major negou qualquer facilitismo ou favorecimento dos Mossos a pedidos vindos de líderes políticos ou civis envolvidos na organização do referendo e garantiu que a polícia actuou de acordo com “as ordens recebidas”, para impedir a sua realização.

“Dissemos [ao governo catalão] que não iríamos tolerar nenhuma ruptura com a legalidade e com a Constituição”, afiançou Trapero, citado pelo jornal La Vanguardia, insistindo terem sido respeitados e postos em prática todos as ordens judicias e protocolos policiais, mas admitindo que o cenário de caos generalizado – centenas de pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia – impediu uma actuação mais efectiva. 

“Sempre imaginámos que no dia 1 de Outubro haveria resistência pacífica. Mas era inimaginável que as pessoas defendessem as urnas da forma que defenderam, parecia que lhes queriam tirar a vida, era difícil de prever.

Podem dizer-me que interpretámos mal algumas ordens, mas fizemos tal e qual o que nos disseram para fazer em cada ocasião”, justificou, relatando que foram encerradas mesas de voto e solicitados reforços.

Trapero é um dos três líderes policiais acusados pelo Ministério Público pelo crime de rebelião e enfrenta uma pena de encarceramento que pode ir até a 11 anos. Os outros são Pere Soler, ex-director dos Mossos, e César Puig, antigo secretário-geral do Interior da Generalitat.

De acordo com a sentença do Supremo Tribunal de Espanha, conhecida há cerca de três meses, o ex-conselheiro do Interior e superior hierárquico de Trapero, Joaquim Forn – condenado a 10 anos e seis meses pelo crime de sedição – ordenou um comportamento policial que “permitisse simular o aparente cumprimento das ordens judiciais legitimas”.

A isto acresceu a “colaboração de alguns integrantes do corpo dos Mossos para consumar a votação”, tendo “sido evidentes”, refere o texto, citado pelo site El Nacional, situações de “cumplicidade autêntica e quase conivência, motivadas por coincidência ideológica o pela certeza de que poderiam ganhar o aplauso e o beneplácito dos cidadãos rebeldes ou dos responsáveis políticos”.

Josep Lluís Trapero contestou todas estas denúncias, negou ter uma relação pessoal próxima com o ex-presidente do governo, Carles Puigdemont, e rotulou de “barbaridades” algumas das resoluções do parlamento e do governo autonómico que os encaminharam para a ruptura unilateral com Espanha.

Para além disso, o major garantiu que não acatou as indicações de Jordi Sànchez – ex-presidente da organização independentista ANC, condenado a nove anos – sobre como actuar durante uma manifestação que juntou cerca de 40 mil pessoas junto ao Departamento de Economia da Generalitat, em Barcelona, no dia 20 de Setembro, quando a Guarda Civil punha em marcha uma operação para identificar e deter os responsáveis pela organização do referendo.

“Uma pessoa que representa uma entidade que organiza uma concentração não impõe condições à polícia”, assegurou o major, rejeitando as acusações de “passividade”. “Não posso admitir que se fale em passividade. Não se pode inferir que não fizemos, ou não quisemos, fazer nada”.

Uma quarta pessoa é ainda acusada de sedição e pode ter de cumprir até quatro anos de prisão se for essa a decisão do juiz. Trata-se da intendente Teresa Laplana, que na altura era responsável pela segurança no bairro de Eixample, onde fica o Departamento de Economia.

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