Criado um método para tratar lesões agudas da pele

Equipa da Universidade de Coimbra desenvolveu uma formulação para a difícil tarefa de entregar moléculas nas células da pele.

Foto
Os investigadores Josephine Blersch, Vítor Francisco e Lino Ferreira DR

Um grupo de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) de Coimbra desenvolveram um método “inovador e sensível à luz”, que poderá ser útil no tratamento de lesões agudas da pele.

Trata-se de “uma formulação inovadora para a entrega de moléculas que poderá ser bastante útil para o tratamento de lesões agudas da pele”, explica a Universidade de Coimbra em comunicado de imprensa desta segunda-feira.

“Nos últimos anos têm surgido diversas estratégias de entrega de fármacos utilizando sequências de ARN não-codificantes – pequenas sequências do código genético humano com papel regulador no organismo – para o tratamento de várias doenças da pele. No entanto, estas estratégias têm tido grandes dificuldades, atendendo ao carácter sensível destas moléculas e à dificuldade de entrada nas células da nossa pele”, refere o comunicado.

Pretendia-se “desenvolver uma formulação que conseguisse entregar os ARN não-codificantes de maneira mais eficiente”, pois há “uma vasta classe de novas terapias que não têm resultado”, refere Josephine Blersch, investigadora do CNC e primeira autora do estudo, citada no comunicado.

As novas terapias não têm resultado porque, de acordo com a investigadora, há “enzimas na pele que degradam material genético externo”: “Moléculas tão grandes como esta têm dificuldade em entrar nas células da pele e, para actuarem, têm de ser integradas nas células”, explica Josephine Blersch, destacando que é preciso “uma ferramenta para tornar esta entrega possível”.

“Outras formulações já aprovadas apresentam grande toxicidade e uma resposta imunitária forte. É necessário que a ferramenta seja de rápida absorção e eficácia, sem provocar respostas indesejadas. Deste modo, decidimos desenvolver uma formulação cuja acção fosse sensível à luz, que permite controlo sobre localidade e tempo da entrega do seu princípio activo”, explica ainda a investigadora.

O estudo, publicado na revista científica alemã Angewandte Chemie International, demonstrou o desenvolvimento de uma plataforma inovadora (para a entrega destas sequências) melhor do que as existentes no mercado, para aplicação em doenças da pele.

“Para isso, os investigadores procuraram formulações baseadas em nanopartículas que fossem biodegradáveis, orgânicas e que causassem nenhuma ou pouca toxicidade. Nesse sentido, começaram com o desenvolvimento de uma biblioteca de nanopartículas que contasse com estas características, e que fossem activáveis pela luz, ou seja, que libertassem o material que transportavam dentro das células, antes de serem expulsas pelas mesmas”, refere o comunicado.

“Identificámos cerca de 160 formulações, cuja acção fosse controlável pela luz. Observámos que seis destas formulações eram bastante mais rápidas e eficientes que grande parte das formulações comercialmente disponíveis”, relata Vítor Francisco, também investigador do CNC e autor deste estudo, coordenado por Lino Ferreira, e que teve ainda a participação de Catarina Rebelo, Adrian Jiménez-Balsa, Helena Antunes, Sandra Pinto e Susana Simões, também investigadores daquele centro.

Inicialmente, os cientistas testaram as diferentes formulações em células da pele e observaram uma rápida entrada e entrega da molécula de ARN que transportavam nas mesmas após estimulação com luz.

De seguida, com um ARN de princípio activo inovador, observaram que, em modelos animais com lesões agudas na pele, promoviam uma aceleração da cicatrização, comparando com os animais controlo.

Futuramente, o grupo de investigadores quer testar as mesmas formulações noutros contextos de lesões de pele mais graves.

“Este material apresentou-se bastante promissor na aplicação local na pele, ou noutros tecidos que seja possível estimular com luz azul. Este tipo de formulações poderá ser bastante útil para o tratamento de lesões graves da pele, associadas a outro tipo de doenças com grande prevalência a nível mundial, como a diabetes do tipo II, psoríase, ou outras doenças do foro inflamatório. Gostaríamos de testar em modelos animais destas doenças”, afirma por sua vez Josephine Blersch.

“Com este estudo, pretendíamos desenvolver formulações que consigamos controlar de modo a diminuir possíveis efeitos colaterais e que, simultaneamente, aumentem a eficácia intracelular do ARN libertado. É a grande vantagem deste sistema: não só libertamos o seu conteúdo, mas também controlamos esta libertação. Poderá ter um grande impacto no futuro”, conclui Vítor Francisco.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários