Rui Tavares: “Uma coisa é gritar ‘mentira’, outra coisa é refutar”

Rui Tavares afirma que a assembleia do Livre fez inúmeros contactos e tentativas para cessar os conflitos, sem sucesso.

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Rui Tavares é um dos fundadores do Livre e uma das caras mais conhecidas do partido daniel rocha

“As pessoas falam efusivamente quando não conseguem calmamente refutar os factos.” Foi assim que Rui Tavares resumiu o primeiro dia de congresso do partido, marcado pela tensão e confronto entre a direcção do Livre e da deputada Joacine Katar Moreira, a quem a assembleia que agora cessa funções propõe retirar a confiança política. O fundador do Livre fez um balanço na RTP3 do primeiro dia do IX congresso do partido e falou dos conflitos internos do partido, que se arrastam praticamente desde as eleições.

No espaço de comentário televisivo, Rui Tavares notou que até à data do congresso não foi apresentado nada que “contrariasse” os factos relatados pela assembleia do partido e sublinhou que “houve oportunidade para isso”. “Uma coisa é eu gritar que algo é mentira, outra coisa é eu explicar por que digo que é mentira, é refutar”, disse.

“Praticamente todos os membros que falaram estavam imbuídos da seriedade que exige um momento daqueles e a tentar limitar os danos de uma ruptura de confiança entre partido e deputada”, assinalou. “Do lado da Joacine há uma resposta que é enfática ao nível dos decibéis, mas escassa ao nível das respostas concretas”, afirmou Rui Tavares.

Para o fundador do Livre, a entrega aos órgãos a eleger neste domingo da palavra final sobre a manutenção da confiança política em Joacine dá mais legitimidade à decisão. No entanto, ressalva que este deve ser uma decisão tomada a curto prazo. “Um congresso não é uma sala de audiências e não é um lugar adequado para concluir este processo”, disse. “O Livre não pode esperar mais e, acima de tudo, o país precisa que os partidos honrem a política em Portugal. E o que se está a passar, infelizmente, dizemo-lo com dor na alma, não está a honrar a política em Portugal”, afirmou Rui Tavares, pedindo celeridade no processo.

Reconhecendo que “este é um tema evidentemente muito difícil para um partido que lutou muito para chegar à representação parlamentar”, Rui Tavares ressalvou, como já tinha feito no congresso, que “ao contrário a qualquer outro partido” que conheça em Portugal, o Livre, “quando as coisas não estão a correr bem, tem a integridade de dizer publicamente que as coisas não estão a correr bem”. “Não varre para debaixo do tapete”, disse.

Para sublinhar a importância da unanimidade neste assunto, o historiador sublinhou que, ao contrário de outros partidos, a assembleia do Livre não é eleita por lista. “A assembleia é eleita por membros que se propõem individualmente. Por isso, conseguir unanimidade num órgão destes é muito mais difícil”, notou.

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Joacine Katar Moreira e Rui Tavares estiveram sentados na primeira fila do auditório daniel rocha

E foi essa unanimidade que foi logo conquistada ainda em Novembro, numa primeira resolução da assembleia sobre os conflitos entre a direcção e a deputada eleita. “Havia uma série de exigências mínimas de colaboração com órgãos do partido, da assembleia e da própria direcção do partido que não estavam a ser cumpridas. E depois a assembleia faz uma reavaliação, porque ia haver um congresso e ia encerrar o mandato, volta a olhar para essa resolução e verifica que essa resolução está a ser incumprida também.”

E dá exemplos. “Ter havido uma reunião com o Governo que não foi comunicada à direcção do partido, apesar de a direcção do partido ter pedido para participar, como seria normal. Desde as eleições que se determinou a equipa que negociaria com o Governo - por exemplo, no Orçamento teria elementos da direcção”, afirmou. Recorde-se que, na primeira reunião do Livre com o Governo, representaram o partido, além de Joacine Katar Moreira, os membros da direcção cessante Carlos Teixeira, Patrícia Gonçalves, Pedro Mendonça, Isabel Mendes Lopes e Paulo Velez Muacho.

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