Rio é reeleito e mostra-se disposto a gerar unidade no PSD

Luís Montenegro saiu derrotado, mas garante que ainda tem futuro político e que vai ao congresso. Rio diz que “cabem todos no PSD”, mas não vai apresentar uma lista conjunta ao conselho nacional como fez há dois anos, depois de vencer Santana Lopes.

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Adriano Miranda
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O actual líder do PSD venceu a segunda volta das eleições directas com 53% dos votos, contra 46% de Luís Montenegro, números divulgados à hora de fecho desta edição. O resultado é “inequivocamente claro”, assumiu Rui Rio, que colocou a unidade no partido como não dependente apenas da sua vontade. Ficou uma certeza: Rio não vai fazer uma lista conjunta ao conselho nacional como fez com Santana Lopes há dois anos. Da parte de Luís Montenegro ficou uma pista sobre o seu futuro: o anúncio da sua “morte política” é “claramente exagerado”. 

Ao final da noite, já depois do candidato derrotado ter feito a sua declaração, Rui Rio disse poder esperar “trabalhar com estabilidade”. “Foi tempo de marcar as diferenças, vamos iniciar agora o momento para marcar a unidade. O PSD, por ter umas eleições disputadas, não está partido”, disse, dando no discurso um tom de agregação. “Para mim, cabem todos cá dentro. O nosso adversário comum é o PS e a ‘geringonça’, não é, naturalmente, o PSD”, disse, antes de anunciar os três objectivos mais imediatos: o “reforço da implantação autárquica e regional nos Açores”, “a abertura do PSD à sociedade civil”, “fazer uma oposição forte ao PS, construtiva e credibilizadora e prestar um serviço ao país”.

Rui Rio foi repetindo, ao longo do discurso, que não está preso a nada, recebendo palmas com entusiasmo dos seus apoiantes, que se juntaram num hotel do Porto onde decorreu a noite eleitoral. 

Por contraste, o semblante carregado dos apoiantes de Luís Montenegro só se quebrou quando o candidato entrou na sala de um hotel em Lisboa, e foi recebido com palmas ao som do hino “Paz, pão, povo e liberdade”. 

Ao lado da ex-ministra Maria Luís Albuquerque e outros ex-deputados e dirigentes, Luís Montenegro sublinhou a importância de haver “unidade” no partido, mas rematou o discurso com uma pista sobre o seu futuro, com o capital dos 47% de votos. “Não tenho nenhuma previsão sobre o que será o futuro. Mas quero dizer: não vale a pena anunciarem a minha morte política, porque essa notícia é claramente exagerada”, afirmou. 

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Apesar de sublinhar que não quer pôr em causa “de maneira nenhuma os resultados” desta segunda volta, o candidato apelou ao líder eleito e à sua futura direcção que “saibam interpretar os resultados eleitorais que o PSD obteve no último ano e o que resulta da avaliação” que os militantes fizeram nestas directas. 

A unidade “começa no líder"

Montenegro sublinhou a importância de que “o PSD tenha paz e unidade”, mas não deixou de apontar responsabilidades a Rui Rio nessa tarefa. “Todos temos de contribuir para acabar com a cultura de facção, divisões insustentáveis e agressividades intoleráveis”, disse, defendendo que “todos” têm de colaborar para esse objectivo. Mas sublinhou que “que essa unidade começa no líder” e disse esperar que Rio “tenha a capacidade de devolver a unidade ao PSD”. A frase foi recebida na sala com um “muito bem” e aplausos. 

Depois de cerca 12 minutos de discurso, Luís Montenegro afastou a ideia de vir a assumir “algum cargo no PSD nos próximos tempos”, mas mostrou-se disponível para os “combates, na medida em que o partido quiser”. Na fase das respostas aos jornalistas, o candidato não quis deter-se no que falhou na sua candidatura, referindo que o resultado “relegitimou Rui Rio” e “deu-lhe uma nova oportunidade para inverter os resultados”. Os mais próximos não quiseram deixar o candidato derrotado sozinho no palco e colocaram-se a seu lado. Nessa fila estavam a mandatária nacional, Margarida Balseiro Lopes, e os ex-deputados António Leitão Amaro, Nuno Serra e Pedro Pimpão, além de Hugo Soares e do director de campanha Pedro Alves. 

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Quanto ao congresso de Fevereiro, no qual vão ser eleitos os órgãos nacionais, Montenegro lembrou ter sido eleito delegado e que não tenciona abdicar de participar na reunião magna. 

A noite eleitoral foi mais curta. Na primeira hora e meia a seguir ao encerramento das urnas. Rui Rio esteve a vencer, destacadamente, com quase 60% dos votos, mas por volta das 21h30, os dois candidatos mantinham-se taco-a-taco: 50% dos votos para um, 50% para outro. Com os distritos de Lisboa e do Porto fechados, Rio e Montenegro começaram depois a afastar-se e o primeiro dedicou-se a escrever o discurso da vitória. Às 22h15 horas, quando já se sabia que Rio ficara à frente por mais de mil votos, o derrotado telefonou ao vencedor a dar-lhe os parabéns.

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O Porto rendeu-se ao líder, que neste distrito deu a Rio uma vitória clara. Montenegro venceu por mais de 1100 votos em Lisboa.

Já antes, à chegada ao hotel portuense onde estavam concentrados os seus apoiantes, Rui Rio surgiu sorridente e com sentido de humor. E chegou mais cedo do que o previsto, supostamente por já só estar à espera do telefonema de Luís Montenegro a assumir a derrota. Rio disse não estar a acompanhar os resultados no site do PSD ao segundo, mas mostrou satisfação por as eleições terem decorrido sem incidentes.

O traquejo que leva em muitos combates eleitorais — ao todo já são sete, nas contas do líder social-democrata - dão-lhe tranquilidade. “Sinto-me tranquilo. Já passei por muitas situações destas.” Fez este sábado um ano que Rui Rio venceu a moção de confiança lançada na sequência do desafio de Luís Montenegro para que a direcção do PSD fosse apeada no conselho nacional extraordinário do Porto.

Quanto à campanha, disse: “Acho sinceramente que a campanha correu bem, não aconteceu nada de transcendente que alterasse o que tivesse de ser alterado”.

Na Madeira “não foi bonito"

O líder reeleito mostrou-se satisfeito pelo facto de a mobilização ter crescido particularmente no Porto e disse que a chuva não perturbou as eleições directas. E lamentou o boicote na Madeira, afirmando que “não foi bonito” o que aconteceu, não foi correcto”. “Há 104 pessoas na Madeira que não puderam votar e fizeram exactamente o mesmo que os 41 mil militantes que têm direito a votar!”, criticou.

Na primeira volta, que se realizou há uma semana, Rio foi o candidato mais votado com 49,02% dos votos expressos, enquanto o antigo líder parlamentar social-democrata conseguiu 41,42%. Miguel Pinto Luz obteve 9,55% (3030 votos) e ficou fora da segunda volta.

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