Morreu o produtor Henrique Espírito Santo (1932-2020), um histórico do cinema português

Produtor, cineclubista e ocasional actor, foi um dos protagonistas da renovação do cinema português dos anos 60 e 70. Morreu este domingo aos 87 anos.

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O produtor, cineclubista e actor Henrique Espírito Santo, um dos nomes “incontornáveis” do cinema português, como o classificou a Cinemateca Portuguesa, morreu este domingo, aos 87 anos, anunciou a Academia Portuguesa de Cinema.

Nascido em 1932, em Queluz, Henrique Espírito Santo foi, segundo a Cinemateca, “cineclubista de formação, antifascista militante por convicção, director de produção e produtor de profissão e, “last but not the least”, formador de toda uma geração de profissionais de cinema na área da produção”.

Crítico de cinema em várias publicações, foi professor na Escola de Cinema do Conservatório Nacional. Director de produção do Centro Português de Cinema, que marcou o movimento renovador das décadas de 1960 e 1970, trabalhou com cineastas como Luís Filipe Rocha, José Álvaro Morais, José de Sá Caetano, Solveig Nordlund, Jorge Silva Melo, João Mário Grilo e Alberto Seixas Santos.

O nome de Henrique Espírito Santo está associado à produção de A Promessa, de António de Macedo, que entrou na selecção oficial do Festival de Cannes, em 1973, de Jaime, de António Reis, pioneiro do documentarismo em Portugal, Benilde ou a Virgem Mãe e Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira, entre mais de duas dezenas de filmes.

Em 2014, quando de uma homenagem que lhe foi prestada pelo Fantasporto, Henrique Espírito Santo fez votos de que o cineclubismo recuperasse a importância que teve no passado. Em declarações então prestadas à Lusa, considerou que “o cineclubismo foi o grande movimento cultural de massas antes do 25 de Abril" e deixou um apelo: “Os cineclubes continuam, há uma federação, e é preciso que estejam atentos e lutem ao lado dos cineastas, das associações de realizadores, das associações de produtores, de técnicos, porque estamos de novo numa situação difícil, sabe-se lá o que é que vai acontecer”.

O movimento cineclubista, “aliado aos intelectuais de esquerda de então e aos jornalistas”, conseguiu pressionar o poder “a pouco e pouco”, para que fizesse “cedências”, levando a uma “sensibilização da Gulbenkian” para que fossem apoiados os filmes dos jovens realizadores da altura, recordou ainda o produtor, que na mesma ocasião defendeu que os subsídios atribuídos pelo Estado não podem ser “desbaratados” em filmes comerciais, mas sim aplicados em projectos que dêem novos conhecimentos a quem os vê.

Em 2017, Miguel Cardoso realizou um documentário biográfico que traça o longo percurso de Henrique Espírito santo no cinema português: Até Amanhã, Henrique!.

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