Joacine deu um pontapé no estaminé do Livre

A explosão mediática da deputada foi o hara-kiri em directo do partido. O Livre, graças a Joacine, acabou por dar um pontapé no seu próprio estaminé. Joacine é maior do que o Livre

Os níveis de confiança no Livre registaram os índices mais baixos; os níveis de confusão e de guerrilha os mais elevados. O congresso adiou a votação da proposta de retirada de confiança política à sua única deputada no Parlamento, de modo a que a decisão final seja tomada pelos órgãos dirigentes que vierem a ser eleitos neste domingo, não se sabendo quando tal ocorrerá. As acusações que a assembleia do partido fez a Joacine Katar Moreira são demasiado graves e dão conta da total divergência de posições, de estratégia e de comunicação. 

E a estridência da resposta da deputada roça a soberba e a gritaria: classificou o seu trabalho parlamentar como de excelência, não renunciou ao lugar, apesar da forte contestação a que é sujeita, proclamou que “até agora” não fez “nada de errado”, e afirmou que a sua utilidade para o partido residia na subvenção que o Livre recebe do Estado (quando esta resulta dos votos a nível nacional e não do círculo de Lisboa). O Livre até teve mais votos nas europeias do que nas legislativas.

As divisões são tantas e tão violentas, a ponto de a deputada ter repetido as palavras “mentira” e “vergonha” várias vezes, que torna-se impossível qualquer relação política de confiança entre Joacine e o partido. Como dizia uma militante, há casos em que a melhor terapia de casal é o divórcio.

Tudo parece encaminhar-se para que a deputada se mantenha na Assembleia da República, ora tolerada pelo Livre, ora como deputada não-inscrita, embora ainda com menos tempo para se fazer ouvir. Se Joacine se queixa de a tentarem calar, a sua manutenção como deputada sem representação partidária equivale à mudez. 

Na prática, o partido recuou na votação da proposta, depois das intervenções de Ricardo Sá Fernandes e Rui Tavares, numa missão digna dos capacetes azuis, como a assembleia já tinha feito em Dezembro passado em outro pico do conflito, o que permite a Joacine uma meia vitória. Joacine não só enfrentou sozinha todo o congresso, obtendo um tempo de antena desproporcional face à dimensão do Livre, como se manteve intransigente quanto à sua continuidade no Parlamento, por razões que não são as mesmas pelas quais foi eleita: o programa do partido. 

A explosão mediática da deputada foi o hara kiri em directo do partido. O Livre, graças a Joacine, acabou por dar um pontapé no seu próprio estaminé. Joacine é maior do que o Livre.

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