Vírus na China pode ter infectado muito mais de mil pessoas, dizem cientistas

Especialistas em epidemiologia a trabalhar com a Organização Mundial de Saúde calculam que o número de infecções conhecidas será apenas o pico do icebergue. “Para Wuhan exportar três casos para outros países, deve haver muito mais casos do que o anunciado”, disse Neil Ferguson à BBC.

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O vírus espalhou-se durante o Ano Novo Chinês, quando milhões de asiáticos viajam, ajudando a sua propagação Jason Lee/REUTERS

O número de pessoas infectadas com o novo tipo de coronavírus que já matou duas pessoas na China ultrapassa provavelmente o milhar de casos e será muito superior ao reconhecido pelas autoridades locais, dizem investigadores britânicos, que estimam que mais de 1700 pessoas tenham sido infectadas. “Para que a cidade chinesa de Wuhan tenha exportado três casos para outros países, deve haver muito mais casos do que o anunciado”, disse o especialista em epidemiologia Neil Ferguson à BBC.

As autoridades chinesas dizem que o surto de pneumonia viral afectou pelo menos 45 pessoas e que o foco da epidemia está em Wuhan, uma cidade de 11 milhões de pessoas no centro da China, na província de Hubei, onde se localiza a monumental barragem das Três Gargantas, no rio Yangtzé, a maior do mundo. Um mercado de peixe e marisco em Wuhan é dado como o foco primordial da infecção do novo tipo de coronavírus 2019-nCoV, relacionado com a síndrome respiratória aguda grave (SARS), que matou cerca de 800 pessoas entre 2002 e 2003.

Numa comunicação divulgada sexta-feira pela equipa de Ferguson, do Centro de Análise Global de Doenças Infecciosas do Imperial College de Londres, uma unidade de investigação que colabora com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os cientistas aplicam métodos reconhecidos para calcular quais serão os números reais de infecções humanas.

Para esses cálculos, usam os números de tráfego do aeroporto do aeroporto de Wuhan, os 20 principais destinos internacionais a partir daquela cidade, o número de casos detectados fora da China confirmados (três, um no Japão e dois na Tailândia), bem como os dez dias que decorrem entre a infecção e a detecção da doença, os cinco a seis dias estimados de incubação do vírus, e um período de quatro a cinco dias que costuma decorrer entre a detecção e a hospitalização de um paciente.

O vírus surgiu durante o período de férias do Ano Novo Chinês, em que milhões de pessoas viajam na Ásia – o que pode ainda ter ajudado à sua propagação.

É a partir de fórmulas usando estes factores que chegaram à conclusão de que a 12 de Janeiro deveriam existir 1723 casos do novo coronavírus com sintomas na cidade de Wuhan. Estes seriam doentes com sintomas graves, a precisar de hospitalização – não casos de doença ligeira ou assintomáticos, frisam os cientistas.

“Estou muito mais preocupado do que estava há uma semana”, disse Neil Ferguson à BBC.

Quatro novos casos identificados

Quatro novos casos deste novo tipo de pneumonia viral foram identificados como tendo origem na cidade de Wuhan, na China, revelaram este sábado as autoridades de saúde chinesas. Estes casos fazem subir para 45 o número de pessoas que contraíram a doença, num balanço que conta com duas mortes e cinco pacientes que permanecem em estado grave.

Em Hong Kong e em Macau, as autoridades intensificaram as medidas de detecção do novo vírus, que inclui o rigoroso controlo de temperatura para viajantes e turistas, com o antigo território administrado por Portugal a realizar estas acções também à entrada dos casinos, numa cidade que recebe em média mais de três milhões de visitantes por mês, diz a Lusa.

Os Estados Unidos já anunciaram que vão começar neste sábado a verificar sinais de infecção em os passageiros de voos directos de Wuhan para os aeroportos de São Francisco e Nova Iorque, assim como em Los Angeles, onde são garantidas inúmeras ligações.

Para já, as autoridades internacionais de saúde admitem que possa ter havido um caso de contágio entre pessoas no surto de pneumonia viral na China, mas afirmam que “não há uma indicação clara e sustentada de transmissão” entre humanos. O Centro Europeu de Controlo de Doenças afirmou também que é “impossível quantificar o potencial de transmissão entre humanos” deste novo vírus.

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