Khamenei presidiu às orações de sexta-feira para tentar voltar a unir o Irão

Só em momentos de grande crise o Líder Supremo dirige as orações. Falou na tragédia do avião ucraniano, mas para tentar conseguir de novo o apoio dos iranianos lembrou o “martírio” de Soleimani, morto pelo inimigo - os EUA.

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Ali Khamenei, o Líder Supremo do Irão EPA
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O Líder Supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, disse nas orações desta sexta-feira que os mísseis que o país disparou contra alvos americanos no Iraque são a prova de que Deus apoiou esta “bofetada na cara” da maior potência mundial. Só em casos de grande crise o ayatollah dirige as orações de sexta-feira e Khamenei não o fazia desde 2012.

O Irão está debaixo de pressão devido ao conflito com os EUA mas também devido à contestação interna pelo derrube de um avião ucraniano com 176 civis a bordo. O regime islâmico demorou três dias a admitir que o aparelho tinha sido atingido pelos seus mísseis, num dia em que o conflito com os EUA escalava após o ataque a bases americanas no Iraque em retaliação pelo assassínio, decidido por Donald Trump, do general Qassem Soleimani

"O facto de o Irão ter o poder de dar tamanha bofetada numa potência mundial mostra a mão de Deus”, disse Khamenei, lamentando o derrube do avião mas recordando aos iranianos o “martírio” de Soleimani, vítima de um “ataque terrorista”.

Milhares de pessoas juntaram-se para o ouvir numa mesquita de Mosalla, no centro de Teerão, e outras tantas apinharam as ruas à volta do edifício. Ouviu-se gritar a palavra de ordem “Morte à América”.

Vigílias e homenagem aos 176 mortos geraram protestos em que a população também pediu a demissão de Khamenei. Imagens de vídeo publicadas nas redes sociais mostram que foi usada força para dispersar estas manifestações, o que o Governo negou. 

O Líder Supremo, num discurso destinado a recuperar a união que a morte de Soleimani gerou, descreveu o acidente como uma tragédia que, disse, foi aproveitada pelos EUA e pelos seus aliados para branquearem o assassínio do general que era o comandante da poderosa Força al-Quds e o número dois do regime.  

A última vez que Khamenei, de 80 anos, presidiu às orações do meio-dia de sexta-feira, as mais importantes da semana muçulmana, foi após a chamada Primavera Árabe. A BBC nota que falou em árabe, não em farsi, para chegar imediatamente a todo o mundo árabe, dando a sua visão dos acontecimentos. Mas, analisa o jornalista iraniano Kasra Naji, as suas palavras foram uma defesa dos Guardas da Revolução, outro alvo das críticas de muitos iranianos por ter sido a responsável pelo derrube do avião ucraniano. 

As autoridades pediram à população para, esta sexta-feira, sair à rua em defesa dos Guardas da Revolução, de que a al-Quds é a unidade de elite, numa tentativa de recentrar a unidade iraniana em torno do assassínio de Soleimani. “Em Teerão faziam-se preparativos para levar o máximo de gente às ruas. Porém, os iranianos comuns dizem querer que admitam que [o reinado dos Guardas da Revolução] só trouxe miséria”, escreveu Naji na BBC.

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