Chega vai retirar confiança política aos dirigentes com ligação a movimentos extremistas e controlar admissões

André Ventura diz que o partido vai cruzar informação pública sobre militantes e mudar as fichas de inscrição para perguntar a origem ideológica e percurso político dos últimos cinco anos.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

Confrontado com uma investigação da revista Sábado que revela que haverá membros dos órgãos sociais do Chega que estiveram ligados a partidos de extrema-direita e a movimentos neonazis, André Ventura veio garantir que o partido vai fazer um “controlo o mais efectivo possível da origem, objectivos e militância ideológica" dos seus dirigentes e militantes. E, se se provar que há dirigentes nessas condições, ser-lhes-á retirada a confiança política, ao passo que os casos dos militantes serão entregues ao conselho de jurisdição, liderado por Fernanda Marques Lopes. Ventura promete tornar públicas essas decisões.

Para já, exigiu aos dirigentes envolvidos que “desmentissem de imediato qualquer ligação actual ou passada a movimentos como o Nova Ordem Social” ou outros do género.

O deputado faz questão de vincar que “enquanto for líder do Chega não haverá nenhuma possibilidade de que o partido seja conotado, envolvido ou associado com quaisquer movimentos extremistas, subversivos ou racistas”. “Não é essa a minha posição ideológica. Não tolerarei nem admitirei qualquer presença em órgãos dirigentes de militantes que estejam ou tenham estado ligados quer a actos violentos, ou subversivos, quer ligados a movimentos extremistas, violentos ou racistas. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que isso não aconteça porque é a saúde da nossa democracia que está em causa e é a imagem do Chega enquanto partido parlamentar que está em causa”, insistiu André Ventura em declarações aos jornalistas no Parlamento.

A revista Sábado aponta que pelo menos cinco dirigentes do partido têm esse passado de ligação a movimentos violentos: Luís Filipe Graça, presidente da Mesa da Convenção do partido; Nelson Dias da Silva, secretário da Mesa; Tiago Monteiro, líder do núcleo de Mafra do Chega; Hernâni Costa, que está à frente da concelhia de Torres Vedras; e Jorge Malheiro, que lidera a concelhia da Maia.

Luís Filipe Graça terá pertencido ao conselho nacional do PNR de José Pinto Coelho, terá liderado o núcleo de Cascais da Nova Ordem Social (NOS, o movimento neonazi de Mário Machado), à Associação Portugal Primeiro, ao Escudo Identitário e, na adolescência, ao Movimento Independente para a Reconstrução Nacional.

Para já, o presidente da mesa da convenção do Chega, Luís Filipe Graça, foi o único a aceder à exigência de André Ventura e veio a público desmentir a versão da revista e garantir que nunca pertenceu ao NOS e que nunca teve qualquer contacto com Mário Machado. Apenas admite ter militado no PSD e no PNR. E prometeu agir judicialmente contra quem (de dentro e de fora do Chega) o tenta colocar em reuniões onde nunca esteve ou em contactos que não fez.

Já Nuno Dias da Silva, secretário da Mesa da Convenção, é apontado como porta-voz da Associação Portugal Primeiro, um movimento anti-refugiados que é seguido de perto pelas autoridades e que tem na cúpula João Martins, que foi condenado no processo da morte de Alcindo Monteiro. No caso dos dirigentes concelhios, a Sábado refere que Hernâni Costa foi presidente da Mesa da Convenção do PNR, e Tiago Monteiro liderou o núcleo de Sintra do NOS.

André Ventura argumenta que o partido é novo (tem apenas sete meses) e ainda não dispõe de estruturas que lhe permitam fazer a triagem dos militantes que, aponta, passaram de cerca de mil antes das eleições para mais de oito mil neste momento. Questionado pelo PÚBLICO sobre como vai fazer esse prometido “controlo interno” e averiguar o passado dos militantes, o deputado respondeu que tentarão fazer o cruzamento da informação existente sobre os militantes com os perfis públicos em redes sociais e nos sites desses movimentos, e que na próxima semana serão alteradas as fichas de inscrição no partido para terem “perguntas [de resposta] obrigatórias” sobre a pertença a movimentos e partidos nos últimos cinco anos e qual a origem ideológica do militante.

Consciente do perigo das inscrições em massa – motivadas, diz também a Sábado, pela extinção do NOS em Novembro, cujos associados se viram agora para o Chega –, Ventura promete que o partido vai fazer um “levantamento exaustivo do fluxo de militantes que deram entrada nestes dois meses para conseguir fazer um controlo o mais efectivo da sua origem, objectivos e militância ideológica”. Há a identificação de casos em que se inscreveram em simultâneo 100 ou 150 pessoas. E remeterá ao conselho de jurisdição todos os factos que se entender que “mereçam nota disciplinar”.

André Ventura afirma que o partido tem de “ganhar a confiança dos portugueses” e admite que “não é com estas situações que ela se ganha”. Por isso, e sabendo que depois de ter sido eleito para o Parlamento o Chega se tornou muito apetecível, avisa que irá lutar contra “qualquer tentativa, nas próximas eleições, de controlo externo dos órgãos do partido” por quaisquer “forças estranhas”.

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