Presidente iraniano rejeita negociar novo acordo nuclear com Trump

Hassan Rohani criticou os países europeus por não terem conseguido manter-se unidos na defesa do acordo assinado em 2015.

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Rohani diz que proposta de negociar um novo acordo é "estranha" EPA/IRANIAN PRESIDENTIAL OFFICE HANDOUT

O Presidente iraniano, Hassan Rohani, rejeitou a proposta de um novo acordo nuclear avançada recentemente pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e criticou os países europeus, um dia depois de ter sido accionado o mecanismo de incumprimento.

Rohani disse que a proposta de renegociar o acordo nuclear – assinado em 2015 por um grupo de seis países – é “estranha” e pediu que se regresse ao anterior. Na véspera, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, quebrou o consenso europeu e deu apoio público à ideia de um “acordo Trump”.

“Escolham o caminho correcto”, pediu Rohani, numa declaração televisiva esta quarta-feira. “O caminho correcto é o regresso ao acordo nuclear”, afirmou o chefe de Estado.

Rohani criticou a União Europeia por não se ter conseguido manter unida em relação à manutenção do acordo em vigor e exigiu um pedido de desculpas pelo “incumprimento das suas promessas”. “A UE fracassou e não conseguiu actuar como um bloco independente [face aos EUA]”, declarou Rohani.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, garantiu que o acordo “não está morto”, mas rejeitou entrar em novas negociações com os EUA. “Eu tinha um acordo com os EUA e eles quebraram-no. Se tenho um acordo com Trump agora, quanto tempo irá durar?”, questionou Zarif durante uma conferência em Nova Deli.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, defendeu que o mecanismo de disputa do acordo nuclear, accionado pela França, Reino Unido e Alemanha na terça-feira, serve para procurar uma solução diplomática para as diferenças que os separam do Irão. “O acordo nuclear está em perigo, o Irão deve respeitar os seus compromissos”, declarou, citado pela Reuters.

O acordo nuclear assinado em 2015 pelos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia recebeu um forte golpe com a saída de Washington. Ao abrigo do acordado, o Irão comprometia-se a congelar o seu programa nuclear civil, e a sujeitá-lo a supervisão internacional, a troco do levantamento das sanções económicas. Os críticos atacaram sempre a falta de restrições ao desenvolvimento do programa de mísseis e tecnologia militar, o que levou Donald Trump a retirar os EUA do acordo.

Desde que anunciou a saída, em 2018, Trump voltou a impor sanções que impedem a exportação de petróleo iraniano, privando Teerão da sua principal fonte de rendimento. O Presidente dos EUA quer negociar um novo documento que inclua não apenas o desenvolvimento nuclear, mas também aquilo que chamou de interferência iraniana noutros países do Médio Oriente.

Nos últimos tempos, os signatários europeus do acordo têm tentado mantê-lo vivo através de um mecanismo financeiro para contornar as proibições impostas por Washington, que, no entanto, se tem revelado insuficiente para manter a economia iraniana à tona. Passado um ano do abandono do acordo pelos EUA, o regime iraniano anunciado que iria gradualmente reduzir o seu grau de compromisso com com o acordo, insistindo porém que todos os passos dados seriam reversíveis, se as sanções fossem levantadas.

A crise aberta pelo assassínio do antigo líder da Força Al-Quds, Qassem Soleimani, numa operação dos EUA, levou o Irão a anunciar que iria deixar de respeitar os limites de enriquecimento de urânio, o que representou o passo mais sério de incumprimento do acordo.

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