Johnson fecha a porta a novo referendo independentista na Escócia

Primeiro-ministro britânico enviou carta a Sturgeon, argumentando que o referendo de 2014 foi algo que só acontece “uma vez numa geração” e rejeitou transferência de poderes para o parlamento escocês. Líder do SNP fala em “inevitabilidade”.

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Manifestação pró-independência em Glasgow, na semana passada EPA/Robert Perry
,Primeiro Ministro do Reino Unido
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Boris Johnson visitou Aberdeen (Escócia) em Setembro Reuters/POOL

O primeiro-ministro britânico formalizou esta terça-feira a recusa do Governo em permitir que a Escócia realize um novo referendo independentista num futuro próximo. Numa carta enviada à primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, Boris Johnson remeteu a decisão para a rejeição popular da separação do Reino Unido em 2014 – por 55% –, declinando, ao mesmo tempo, a transferência de poderes para a convocação de referendos secessionistas para o parlamento escocês.

“A população escocesa votou decisivamente na promessa de manter o nosso Reino Unido. O Governo britânico continuará a defender essa decisão democrática”, escreveu Johnson numa missiva em que recorda que Sturgeon e o seu antecessor, Alex Salmond, “fizeram uma promessa pessoal” de tratar o referendo de 2014 como um evento “que só acontece uma vez numa geração”.

Em resposta, a líder do Partido Nacional Escocês (SNP) acusou o Partido Conservador de estar “aterrorizado” com a possibilidade de a Escócia “ter o direito a escolher o seu próprio futuro” e garantiu que um novo referendo é uma “inevitabilidade”.

“O problema do Governo britânico é que quanto mais tempo dedicar a tentar bloquear o referendo (…) maior será o crescimento do apoio à independência [da Escócia]”, reagiu Sturgeon. “A única questão é saber quanto tempo demorará até que os tories e o resto do sistema de Westminster aceitem esta inevitabilidade”.

A estratégia da líder do SNP para a independência alterou-se na sequência do referendo de 2016 sobre o “Brexit”. A Escócia votou maioritariamente pela permanência na União Europeia (62% contra 38%) e o partido acredita que a saída do Reino Unido do mercado único corresponde a um “hard-‘Brexit’” que não representa nem os interesses nem a vontade da população.

A vitória convincente do Partido Conservador nas legislativas de Dezembro tornou, no entanto, inevitável o divórcio com os 27, nos moldes definidos por Johnson, ou seja, com o abandono de todo o território britânico do mercado único e da união aduaneira europeia.

Um desfecho eleitoral que, aliado ao excelente desempenho do SNP na mesma eleição, depois de fazer campanha com a bandeira da independência – conquistou 47 dos 59 lugares escoceses na Câmara dos Comuns de Westminster –, levou Sturgeon a declarar que tem agora um mandato claro para novo referendo e a enviar uma primeira carta ao primeiro-ministro britânico, que lhe respondeu agora.

Nessa primeira comunicação, a first minister escocesa anexou um documento de 38 páginas, intitulado “O direito da Escócia a escolher”, onde, para além de formalizar um pedido ao Parlamento britânico para agendar um novo referendo à independência, exigiu que essa fosse transferida, com carácter permanente, para Holyrood – o parlamento em Edimburgo.

“Não posso concordar com qualquer pedido de transferência de poderes que possam levar a posteriores referendos independentistas”, respondeu-lhe, porém, Boris Johnson que, na carta desta terça-feira, não deixou de dar uma alfinetada à estratégia política do SNP.

“Outro referendo contribuiria para a estagnação política que a Escócia tem enfrentado na última década, onde as escolas, os hospitais e os postos de trabalho escoceses têm sido abandonados por causa da campanha para a separação do Reino Unido”, atirou o primeiro-ministro.

Enquanto prepara nova investida para alcançar o seu objectivo, o SNP será, naturalmente, um espectador atento ao desenrolar das negociações entre Londres e Bruxelas, tendo em vista um novo acordo comercial entre os dois blocos. 

O Reino Unido vai abandonar a União Europeia no final do dia 31 de Janeiro e o período de transição – durante o qual o país continuará a beneficiar de todos os direitos e a respeitar todas as obrigações do mercado único – decorrerá até ao final de Dezembro. As negociações formais para a nova parceria económica e política arrancam a 1 de Março.

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