Radiologia: “Tenho algum receio que se não forem contratados mais recursos humanos o SNS impluda”

Director do Serviço de Radiologia do IPO de Lisboa diz que seria possível fazer mais exames se existissem mais recursos humanos. Instituto recebe encontro internacional sobre protecção radiológica e radiações ionizantes.

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O encontro que hoje começa no IPO reúne profissionais de todo o mundo Rui Gaudencio

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) precisa de mais recursos humanos na área da radiologia, alerta o director do Serviço de Radiologia do IPO de Lisboa. O hospital recebe a partir desta segunda-feira, e durante três dias, um encontro internacional da Agência de Energia Nuclear da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que reúne peritos em protecção radiológica e radiações ionizantes de todo o mundo.

“O problema do SNS não é tanto a qualidade e quantidade de equipamentos, mas sim a falta de recursos humanos adequados, que permitiria fazer mais” exames, diz ao PÚBLICO o director do serviço de radiologia do IPO de Lisboa. José Venâncio lembra que “mesmo os grandes hospitais não conseguem fazer urgências de 24 horas de radiologia”, recorrendo a empresas prestadoras de serviço para fazer a leitura de alguns exames.

“A questão não é só falta de médicos, mas também de técnicos. O parque [equipamentos] instalado que temos permitirá fazer muito mais com um número de recursos humanos adequado”, aponta José Venâncio, lembrando também a necessidade de físicos médicos, que são fundamentais nesta área.

No IPO de Lisboa precisariam de mais um físico médico, mas também de técnicos e assistentes operacionais. Apesar do empenho da administração, não tem sido possível contratar. Por ano, o IPO faz cerca de 100 mil exames (de todos os tipos). José Venâncio estima que poderiam conseguir fazer 150 mil por ano com mais técnicos e assistentes operacionais.

O médico lamenta a saída de profissionais para o sector privado e a dificuldade de contratação por parte do SNS. “Tenho algum receio que se não forem contratados mais recursos humanos o SNS impluda. As noticias que vemos de profissionais em exaustão é porque não contratam mais pessoas”, diz.

Quanto à segurança, José Venâncio refere que “todos os exames são feitos com todas as condições devidas” e que existe regulamentação internacional já transposta para a legislação portuguesa. Uma das alterações que trouxe foi a concentração da fiscalização da Agência Portuguesa do Ambiente.

Entre os aparelhos que emitem radiação ionizante estão o Raio-X e a TAC (Tomografia Computorizada) –​ esta última é um dos exames “mais feitos no mundo”. A instalação deste tipo de equipamentos obriga a regras de segurança e de controlo da radiação emitida, de forma a proteger os doentes e os profissionais.

No caso do IPO de Lisboa, refere, “há um registo de todas as radiações que um doente recebe num ano”, já que existem limitações por segurança. “Devia existir um cartão com essa informação para todo o sistema de saúde. É indispensável que exista para não se repetirem exames e registar todas as radiações que o doente recebe num ano”, diz, referindo que a população “pode estar descansada porque os níveis não são ultrapassados”. A medida, refere, está prevista na directiva europeia.

O médico também faz parte do grupo que publicou a Carta de Equipamentos Pesados de 2015, que indicava que havia margem para aquisição de mais equipamento para a realização de diferentes tipos de exame. O Ministério da Saúde prevê, diz a nota explicativa do orçamento da saúde para este ano, fazer a revisão da mesma e criar um mecanismo de actualização automática.

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