Cessar-fogo na Líbia foi rapidamente quebrado pelas duas partes do conflito

Declaração conjunta de Erdogan e Putin apelando a conversações de paz foi aceite. Mas os tiros nunca deixaram de se ouvir nos arredores de Trípoli.

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Os combates regressaram aos arredores de Trípoli Ismail Zetouni/Reuters

Um cessar-fogo de iniciativa turca e russa entrou em vigor este domingo na Líbia, mas foi rapidamente quebrado pelas duas partes em conflito. A frágil trégua surgiu após nove meses combates à porta da capital, Trípoli, depois de uma intensa actividade diplomática aberta pelo risco de uma internacionalização do conflito.

​O homem forte do leste da Líbia, o marechal Khalifa Haftar, que tenta desde Abril conquistar Trípoli, proclamou o cessar-fogo, pouco antes de entrar em vigor à meia-noite. O seu rival  Fayez al-Sarraj, chefe do Governo de Unidade Nacional, sedeado em Trípoli e reconhecido pelas Nações Unidas, anunciou que o aceitava horas depois, mas falando no “direito legítimo” das suas forças responderam caso sejam atacadas.

Horas depois, porém, os dois lados acusaram-se mutuamente pelo regresso aos combates. Segundo o comandante al-Mabrouk al-Gazawi, do lado de Haftar, as “milícias do Governo de Unidade quebraram a trégua em várias áreas e com todo o tipo de armas”. O lado de Trípoli disse ter “documentado quebras das milícias de Haftar nas frentes de batalha em Salah al-Din e Wadi al-Rabie”, nos arredores da capital, cita a BBC.

Não foi criado um mecanismo de vigilância do cessar-fogo, diz a AFP, e logo aos primeiros minutos de domingo houve trocas de tiros. A única ordem que foi feita partiu do Governo de Unidade que pediu, em comunicado, que “as comissões militares dos dois campos preparem medidas relativas ao cessar-fogo, sob a égide da ONU”.

Os presidentes turco, Recep Erdogan, e russo, Vladimir Putin, depois de se reunirem e Istambul, tinham pedido às duas partes para cessarem as hostilidades. 

Depois da ofensiva de Haftar, mais de 280 civis morreram, segundo os números da ONU. E mais de dois mil combatentes perderam a vida nestes meses em que 146 mil pessoas foram obrigadas a fugir dos combates no país que mergulhou na violência e no caos político desde a queda de Muammar Khadafi, em 2011.   

A chanceler alemã, Angela Merkel, de visita a Moscovo no sábado, expressou a preocupação da Europa pelo situação no país mediterrânico e pela possibilidade de o conflito escalar – disse que a Líbia não pode transformar-se numa “segunda síria”, com o risco de a guerra ter reprecurssões para lá da sua fronteira.

Na noite de sábado, Putin e Erdogan voltaram a falar por telefone, e reafirmaram a “vontade de ajudar em todos os aspectos que permitam fazer avançar uma resolução política” para a Líbia.

O Governo turco pediu a Moscovo para forçar Haftar – apoiado pela Rússia - a respeitar o cessar-fogo. No início de Janeiro, a Turquia enviou ajuda militar para o Governo de Trípoli, mas foi igualmente acusado de ter enviado combatentes sírios pró-turcos para as fileiras de Haftar.

A Rússia, por seu lado, é acusada de ter enviado centenas de mercenários apoiar Haftar, que tem o apoio dos Emirados Árabes Unidos e do Egipto. Putin rejeitou as acusações.

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