O horror, dia após dia: o sismo no Haiti, que matou 316 mil, foi há dez anos

12 de Janeiro de 2010: um devastador sismo de 7 na escala de Richter deixou 316 mil mortos e Port-au-Prince em ruínas. Dez anos volvidos, ainda há muito por fazer. Mas como se viveram aqueles dias de pânico? O PÚBLICO lembra alguns momentos-chave.

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Carlos Barria/Reuters

Há precisamente dez anos, a 12 de Janeiro de 2010, Port-au-Prince, no Haiti, a terra tremeu com tal intensidade que o país demorou anos a recompor-se. Às 16h53 (21h53 em Lisboa), a terra tremeu durante quase um minuto. O balanço do sismo de intensidade 7 na escala de Richter: 316 mil mortos e uma capital em ruínas — escolas, hospitais e edifícios governamentais deixaram de existir.

Nas horas seguintes, registou-se mais de uma dezena de réplicas. Os dias seguintes foram ocupados com as missões de procura e salvamento dos sobreviventes. Os meses seguintes trouxeram consigo furacões e cólera — que chegou à ilha acidentalmente pelos capacetes brancos da ONU e matou mais de nove mil pessoas. Nem a ajuda internacional ajudou a capital reerguer-se rapidamente. Dois anos depois da tragédia, Port-au-Prince continua em ruínas e milhares de pessoas estavam desalojadas.

Dez anos depois ainda vários edifícios continuam por reerguer. “O Haiti não tem mãe nem pai”, disse Jean Brune Wilga, haitiana ouvida pela Reuters. Falava acerca do palácio nacional, antiga residência presidencial. “Dez anos depois do sismo, este lugar não devia continuar em ruínas.” Está na mesma situação que outros edifícios históricos, como a catedral de Notre Dame de l’Assomption, que ainda não foi reconstruída. Ou a casa de dezenas de milhares de pessoas, que ainda vivem em alojamentos temporários.

Dia 13: Três milhões de pessoas afectadas no sismo do Haiti

No dia a seguir à tragédia começavam a chegar os primeiros balanços: pelo menos três milhões de pessoas tinham sido afectadas, um terço da população à época. Não se percebia ainda o “real estado em que se encontra Port au Prince”, mas “era claro que o Haiti não tinha capacidade para lidar com semelhante calamidade”. Afinal, o país era, à época, o “mais pobre do hemisfério ocidental”: 80% da população vivia abaixo do limiar da pobreza, com menos de dois dólares por dia.

“O Palácio Nacional parece ter ficado seriamente danificado, e vimos muitas paredes a ruir, estradas bloqueadas, há pessoas a gritar por todo o lado”, disse à CNN Frank Williams, director de uma organização não-governamental americana no Haiti, a World Vision.

Dia 14: Sismo pouco profundo explica destruição localizada

Dias depois, as primeiras explicações. A crosta da Terra começou a romper-se a apenas dez quilómetros de profundidade (onde foi originado o abalo) e a pouca distância da capital do Haiti, detalhava um artigo do PÚBLICO. Apesar da magnitude elevada, foi um sismo superficial, pelo que as ondas sísmicas depressa se amorteceram e as ilhas vizinhas ficaram praticamente incólumes.

Dia 15: Mundo em contra-relógio para salvar o Haiti

Dias depois da tragédia, começaram a chegar as primeiras equipas de salvamento estrangeiras ao Haiti, para resgatar os sobreviventes que ficaram todas essas horas presos nos escombros.

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Dia 19: O que já foi uma cidade

O enviado especial do PÚBLICO, Paulo Moura, chega a Port-au-Prince: “Amálgama. É essa a primeira imagem. A cidade está esfarelada e decomposta. Dissolvida. Os elementos arrancados dos seus compostos e depois misturados. Sapatos com pedaços de ferro. Carros espalmados em paredes de casas. Ecrãs de televisão com comida podre. Amálgama, traduzida na língua dos pesadelos”, escrevia.

Dia 20: Como se organiza uma cidade assolada pelo caos?

O edifício da sexagenária Rádio Caraíbas ruiu. Mas a estação continua a emitir. Com um velho jipe, microfones, dois computadores portáteis e alguns cabos, que fizeram entrar no edifício, ligando-os à antena, e começaram a emitir da rua. Uma fonte de informação segura e uma forma de reorganizar uma cidade destruída.

Dia 21: Os jornalistas que faziam as vezes de médicos e os sobreviventes que desafiaram as probabilidades

No local, os jornalistas norte-americanos fazem as vezes de médicos. Alguns colocaram talas e ligaduras em ossos partidos; outros assistiam partos. E da tragédia começam a surgir histórias felizes – como a da criança de cinco anos que conseguiu sobreviver tanto tempo nos escombros.

Dia 25: Quando o pó assenta em Port au Prince

“Não há uma única pessoa, em toda a cidade, a quem não tenha morrido alguém muito próximo”, dizia Jelmaa, que perdeu uma irmã. Em Port au Prince cada um está por si. O saque tornou-se normal. 

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9 de Fevereiro: Homem encontrado com vida quase um mês depois do sismo

Quase um mês depois da catástrofe, um homem foi retirado com vida dos escombros. O sobrevivente sofreu de extrema desidratação e malnutrição, mas não sofreu nenhum traumatismo.

5 de Novembro: Furacão Tomas ameaça sobrevivência de mais de um milhão de pessoas no Haiti

O furacão Tomas chegou ao Haiti com ventos de 140 quilómetros por hora e chuvas torrenciais, ameaçando a sobrevivência de milhares de pessoas que lutavam para recuperar do devastador tremor de terra que matou 250 mil pessoas e dizimou a capital, Port-au-Prince, em Janeiro, e de uma epidemia de cólera que rebentou há duas semanas e não está ainda controlada.

12 de Janeiro de 2011: Um ano depois do terramoto, Port-au-Prince é uma cidade em ruínas

A paisagem não mudou muito. Port-au Prince é uma cidade em ruínas, com uma ou outra excepção. “Aquele prédio em frente ao hotel Cocconut Villa, começaram hoje a trabalhar na reconstrução”, conta Rebecca ao PÚBLICO. No resto da cidade, continua tudo no chão. Apenas 5% do entulho foi removido.

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