SEF detém três pastores evangélicos na Amadora suspeitos de tráfico de pessoas

Os pastores, dois homens e uma mulher brasileiros, terão alojado cerca de 30 brasileiros, entre elas crianças, num armazém com condições precárias. A maioria estava em situação irregular e era forçada a doar o dízimo do seu ordenado à igreja. SEF recebeu denúncia há três meses e suspeita que haja ramificações.

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UESLEI MARCELINO/Reuters

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) deteve esta quinta-feira, na zona da Amadora, três pastores evangélicos suspeitos da prática dos crimes de associação de auxílio à imigração ilegal e tráfico de pessoas.

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O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) deteve esta quinta-feira, na zona da Amadora, três pastores evangélicos suspeitos da prática dos crimes de associação de auxílio à imigração ilegal e tráfico de pessoas.

Os pastores, dois homens e uma mulher brasileiros, terão alojado cerca de 30 brasileiros, entre eles crianças, num armazém com condições precárias. A maioria estava em situação irregular e era forçada a doar o dízimo do seu ordenado à igreja. Gonçalo Rodrigues, director central de investigação do SEF, disse ao PÚBLICO que a investigação, que durou três meses, teve origem numa denúncia que relatava “práticas enquadradas na prática de tráfico de seres humanos”. 

Isto por causa “das condições do alojamento”, pela “forma como as pessoas viviam ali” e porque “o rendimento que deviam supostamente auferir regressava à igreja”, afirmou. “Havia ali claramente indícios de exploração”, afirmou. 

O armazém onde as pessoas estão alojadas na Amadora é um espaço com divisões em pladur ​sem privacidade, com casas de banho comuns, refeitório e fracas condições de salubridade, relatou uma fonte do SEF. Apesar de haver crianças no grupo não foi identificada nenhuma situação preocupante, disse, por seu lado, o director do SEF. 

Os pastores terão convencido os imigrantes a vir para Portugal, prometendo-lhes trabalho e regularização, o que não aconteceria. Segundo a RTP, as pessoas eram obrigadas a pagar uma renda que “podia chegar aos 300 euros”. Porém, alguns dos que foram entrevistados pela televisão, sem revelarem a sua identidade, referiam estar satisfeitos: “Quando a gente tem Deus na frente tudo vai bem”, afirmou um dos crentes.

Segundo Gonçalo Rodrigues é aquela igreja, que está sediada há alguns anos em Portugal, que “gere a permanência das pessoas em território nacional, garante a sua permanência, arranja-lhes trabalho e fornece alojamento, sendo que as pessoas pagam por isso”. “É uma realidade que terá que ser esclarecida”, afirma o SEF, “ainda não conseguimos chegar a conclusões”.

As buscas foram feitas em vários locais da Grande Lisboa, inclusivamente na margem Sul do Tejo, e efectuadas depois de um mandado de detenção judicial, com acompanhamento do Ministério Público. O director afirma que “provavelmente” a igreja “terá ramificações”.

Os três pastores foram presentes esta sexta-feira a tribunal para interrogatório e aplicação de medidas de coação. Os suspeitos ficaram sujeitos à interdição de saída de Portugal e apresentações semanais​ às autoridadesA operação do SEF envolveu 55 operacionais.

Em 2018, últimos dados disponíveis, foram sinalizadas 168 vítimas pelo Observatório de Tráfico de Seres Humanos, incluindo 29 menores, e registaram-se confirmações de que 44 pessoas tinham de facto sido vítimas deste crime, entre eles três menores.​ Das confirmações, a esmagadora maioria das vítimas, 37, foram vítimas de tráfico para exploração laboral, tendência que se vem mantendo ao longo dos anos em Portugal.