UE reclama papel no apaziguamento da crise no Médio Oriente

Os líderes europeus não estão dispostos a denunciar o acordo nuclear que assinaram com a república islâmica.

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Augusto Santos Silva com Josep Borrell esta sexta-feira em Bruxelas EPA

Perante uma “crise aguda”, foi possível travar a escalada, mas ainda é cedo para falar em apaziguamento. Essa foi a constatação dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, que esta sexta-feira reuniram em Bruxelas, num encontro informal e extraordinário, para avaliar a “gravíssima” situação no Médio Oriente, precipitada pelo assassínio do comandante iraniano Qassem Soleimani numa acção cirúrgica dos Estados Unidos no Iraque. 

“O perigo iminente de guerra, que foi uma possibilidade real nos últimos dias, acabou”, sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Heiko Maas, que elogiou a intervenção da União Europeia e de “muitos Estados membros” no sentido de apelar à contenção dos intervenientes na crise. 

Esses esforços, protagonizados pelo Alto Representante para a Política Externa da UE, são para continuar: os 28 reforçaram o mandato de Josep Borrell para “desenvolver as iniciativas políticas e diplomáticas necessárias para o apaziguamento da situação de conflitualidade no terreno e para o restabelecimento das condições de diálogo” entre os EUA e o Irão, informou o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

Como vários dos seus homólogos, Santos Silva sublinhou o papel que pode ser desempenhado pela UE, que “não é parte da conflitualidade porque não está em antagonismo em relação a nenhuma parte do conflito”. O que não quer dizer que a Europa tenha “uma posição de neutralidade ou equidistância entre os EUA e o Irão”, acrescentou, lembrando as duras críticas dos europeus ao “comportamento agressivo protagonizado pelo Irão” que, insistiram os ministros, “não pode aceder a armamento nuclear”.

Ao contrário dos Estados Unidos, os líderes europeus não estão dispostos a denunciar o acordo nuclear que assinaram com a república islâmica, que no seu entender continua a ser o meio mais eficaz para conter as actividades atómicas do Irão e evitar a proliferação nuclear na região. O anúncio de Teerão de que deixará de cumprir vários dos parâmetros fixados no acordo preocupa a UE, mas por enquanto não se está a discutir a activação do mecanismo que permite a reintrodução de sanções contra o regime. “Ainda estamos na fase de chamar os iranianos ao cumprimento do acordo. É do seu máximo interesse que possam aproveitar a energia nuclear para fins pacíficos”, afirmou Santos Silva.

Aproveitando a participação do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, na reunião, os governantes europeus também reafirmaram o seu compromisso com o trabalho da missão de formação e treino do Exército do Iraque desenvolvida pela aliança atlântica — e que está suspensa há uma semana. “Há a plena consciência de que o alvo da coligação internacional de combate ao Daesh, que tem a missão de treino no Iraque, é derrotar o terrorismo, e esse trabalho não está terminado nem no Iraque nem na Síria”, notou Santos Silva.

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