Queda de avião: há dúvidas sobre a integridade da investigação iraniana

Local onde estavam os destroços do aparelho foi limpo. As caixas negras, segundo Teerão, podem estar danificadas. Zelensky e Pompeo trocam esta sexta-feira informações. Irão volta a negar tese do míssil.

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Destroços após a queda do avião da Ukraine International Airlines Reuters/Wana News Agency

O Irão abriu uma investigação à queda do avião ucraniano esta quarta-feira, em Teerão, a duas entidades americanas, mas não se sabe como ou ao que vão ter acesso: os destroços já foram retirados, o conteúdo das caixas negras pode estar danificado e há quem questione a forma como o país está a conduzir o processo.

Convidadas a participar foram a agência de segurança nos transportes dos Estados Unidos (NTSB) e a construtora do avião, a Boeing. Porém, não foi esclarecido que tipo de participação vão ter. A Ucrânia está também a colaborar nas investigações ao desastre, que matou as 176 pessoas a bordo.

Segundo a estação de televisão americana CBS, os destroços já foram praticamente todos removidos, o que impede outros intervenientes de procurarem pistas e recolherem provas no local.

Graham Braithwaite, professor de investigação de acidentes na universidade britânica de Cranfield, disse ao jornal The Guardian que a forma como o Irão está a tratar o local do acidente, com a rápida remoção dos destroços, levanta “sérias preocupações sobre a integridade da investigação”. “Quando temos os registos do voo a dizer-nos o que se passou, podemos limpar rapidamente o local de um acidente. Mas se as gravações estão danificadas [como disseram os iranianos] têm que ser as provas forenses a contar-nos a história”, explicou Braithwaite.

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Uma fotografia de satélite captada na quinta-feira mostra a zona em que o avião se despenhou DigitalGlobe

Fotografias tiradas logo no dia do acidente mostram máquinas pesadas a remover grandes pedaços de destroços. 

As caixas negras foram abertas nesta sexta-feira, anunciou a agência noticiosa iraniana IRNA. O Irão disse que vão ser os seus especialistas a recolher a informação nelas contida, mas advertiu que as caixas estão danificadas, o que pode ter comprometido os dados que registam, e a operação pode demorar meses, avança a BBC. Porém, foi depois divulgado que a equipa de investigadores ucranianos, 45 pessoas, teve acesso ao conteúdo.

Avião não foi atingido por um míssil, garante Irão

O Irão voltou esta sexta-feira a negar que o avião civil ucraniano tenha sido derrubado por míssil. Pediu que o acidente não seja politizado, depois de ter surgido a tese entre países ocidentais de que o aparelho pode ter sido derrubado por erro pelas defesas iranianas

“O que está claro para nós e que podemos dizer com toda a certeza é que este avião não foi atingido por um míssil”, disse numa conferência de imprensa em Teerão o chefe da organização de aviação civil iraniana, Ali Abedzadeh. “Como já tinha dito, este avião esteve a voar mais de um minuto e meio com um incêndio, e a zona onde caiu mostra que o piloto estava a tentar voltar para trás”, disse, reforçando a tese inicial das autoridades iranianas.

O acidente aconteceu poucas horas depois de o Irão ter atacado com mísseis duas bases no Iraque onde estão estacionadas tropas dos Estados Unidos, em retaliação pelo assassínio, num ataque americano com drones, de um dos seus principais militares, e número dois do regime, Qassem Soleimani.

Na quarta-feira, a revista Newsweek, citando fontes do Pentágono, um alto funcionário dos serviços secretos dos EUA e um funcionário dos serviços secretos iraquiano, escreveu que todas estes acreditam que o avião da Ukraine International Airlines foi atingido por um míssil Tor, de fabrico russo. E o jornal The New York Times divulgou um vídeo que mostra um míssil a cruzar o céu de Teerão e a explodir em contacto com um avião.

Um vídeo obtido, em exclusivo, pelo New York Times mostra o momento em que o avião terá sido abatido por um míssil iraniano junto ao aeroporto de Teerão New York Times

A imprensa dos EUA sugeriu que o avião pode ter sido confundido com um avião de guerra inimigo.

Todos os que seguiam a bordo morreram – 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos e uma pessoa de cada uma destas nacionalidades: sueca, britânica, afegã e alemã.

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Homenagem aos tripulantes do avião em Kiev, Ucrânia SERGEY DOLZHENKO/EPA

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu de forma cautelosa – disse que o acidente gera “suspeita”. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, afirmou que os dados dos serviços secretos parecem credíveis, mas pediu uma investigação completa e imediata ao que se passou. O mesmo fez o Governo do Reino Unido.

Esta sexta-feira, os Estados Unidos passaram ao Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, dados descritos como importantes sobre o acidente. Zelensky discutiu nesta sexta-feira com o secretário de Estado americano (o chefe da diplomacia), Mike Pompeo, a investigação à queda do aparelho que fazia a rota Teerão-Kiev-Toronto.

“Falei com o Presidente ucraniano, falei com o meu homólogo canadiano, eles querem levar gente ao terreno para se saber o que aconteceu àquele avião”, disse Pompeo numa conferência de imprensa em Washington. Questionado sobre o que farão os EUA se ficar provado que foi derrubado por um míssil iraniano, Pompeo disse apenas: “Quando soubermos o que aconteceu decidiremos o que fazer.”

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