Proposta de demolição das galerias do Bolhão no Porto não deu entrada na DRCN

Alteração do método construtivo na obra do Bolhão precisa de parecer da Direcção Regional de Cultura do Norte e da Direcção-Geral do Património Cultural. Mas, até agora, DRCN não recebeu nenhum pedido da autarquia

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Bolhão deverá ficar pronto em Maio de 2021 Inês Fernandes

A Direcção Regional de Cultura do Norte revelou esta quinta-feira que ainda não deu entrada qualquer pedido de mudança ao projecto de requalificação do Mercado do Bolhão, após a Câmara do Porto anunciar alterações que implicam a demolição das galerias.

No dia 20 de Dezembro, a Câmara do Porto anunciou que as obras de requalificação do Mercado do Bolhão, cujo término estava previsto para Maio de 2020, vão ser prolongadas por mais um ano, devido à necessidade de alterar “o método construtivo”.

“Até ao momento, não deu entrada na Direcção Regional de Cultura do Norte [DRCN] qualquer pedido de alteração ao projecto, sendo que o mesmo está sujeito a parecer da DRCN e da DGPC [Direcção-Geral do Património Cultural]”, esclareceu aquela entidade em resposta à Lusa. A DGPC e o município do Porto, não responderam às perguntas da Lusa.

Em causa está a utilização de um método construtivo diferente na contenção e construção da cave que implica a demolição e reconstrução total das galerias superiores, cujo estado de degradação, afirmava a autarquia, em Dezembro, “era, afinal bastante mais grave do que era possível apurar a partir dos estudos preliminares”.

Numa declaração lida, o presidente da autarquia, Rui Moreira, explicou que “caso as galerias se mantivessem intactas durante toda a obra, como estava inicialmente previsto, a abordagem que agora se propõe seria impossível. E a construção cave ficaria comprometida, mais morosa e menos segura. Seria mais cara e demoraria mais tempo, atirando a conclusão do restauro para Dezembro de 2021”, sustentava Moreira, à data.

Segundo o autarca, tendo em conta estas circunstâncias, o consórcio que está a executar a obra propôs ao município alterar o método construtivo da cave, que depois de validado pela equipa de projectistas, pode avançar de “imediato”.

“Depois de ter obtido a validação da equipa de projectistas quanto a estas alterações, o Conselho de Administração da GO Porto comunicou hoje à presidência da Câmara estar em condições de estabelecer um novo calendário e de se avançar de imediato com esta nova solução”, afirmou o independente.

O autarca deixou, contudo, claro que “o projecto, no seu âmago, finalidade, resultado final, mantém-se inalterado”, não sofrendo qualquer alteração “a traça do edifício e das suas características”.

Esta intervenção, tal como a anunciada para o Mercado do Bom Sucesso, levou hoje, o Bloco de Esquerda (BE) a questionou a DRCN, entidade que tutela o património, pretendendo ver esclarecido se aquela entidade ou própria DGPC apreciou e aprovou naqueles dois imóveis classificados como Monumentos de Interesse Público.

No final de Dezembro, o arquitecto Joaquim Massena, autor de um projecto de requalificação para o Mercado do Bolhão preterido pela Câmara do Porto, criticou a “demolição profunda” e “indigna” prevista para aquele espaço, que irá destruir património “desnecessariamente”. À data, Massena questionava o que ficará do Bolhão depois das demolições, estranhando o silêncio DRCN, que tem a responsabilidade de acompanhar este processo. O arquitecto considera ainda que o actual projecto em tudo se parece com aquele com que a empresa TramCroNe (TCN) venceu em 2007 um concurso da autarquia para reabilitar o Bolhão, e que previa a demolição de todo o interior do mercado.

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