Mexicano mata-se na fronteira dos EUA ao ver pedido de asilo recusado

O homem com cerca de 30 anos pôs fim à própria vida na ponte internacional de Pharr-Reynosa, no Texas.

Foto
Em, 2017, um homem de nacionalidade mexicano suicidou-se atirando-se de uma ponte perto da fronteira para não ser deportado Reuters/MIKE BLAKE

Queria entrar nos Estados Unidos e viu o seu pedido de asilo recusado. Aproximou-se dos guardas fronteiriços americanos e matou-se cortando a jugular a poucos metros da linha de fronteira da ponte internacional de Pharr-Reynosa, no Texas. 

Pouco se sabe sobre o homem, apenas que tinha cerca de 30 anos e nacionalidade mexicana. 

A agência federal Protecção Fronteiriça e Aduaneira (CBP) não respondeu às perguntas que a Reuters lhe fez sobre este caso. Porém, o gabinete do procurador-geral do estado mexicano de Tamaulipas, com jurisdição de Reynosa, disse estar a investigar a morte do homem. 

Quem pede asilo para entrar Estados Unidos espera várias muitas semanas por uma resposta e, muitas vezes, é negativa. Os imigrantes abandonam as suas cidades com algumas poupanças e meses de estadia em cidades mexicanas fronteiriças obrigam-nos a gastar as poupanças. Muitos não têm como esperar na fronteira e optam por entrar sem documentos no país, ficando à mercê de redes de tráfico humano e arriscando-se a ser detidos e deportados pelas autoridades norte-americanas. 

Em Outubro do ano passado, centenas de imigrantes bloquearam a ponte fronteiriça de Pharr-Reynosa para exigir que os seus processos de asilo fossem acelerados. Em causa está a política de tolerância zero, neste caso do Protocolo de Protecção de Migrantes, da Administração Trump, que exige que imigrantes esperem por uma decisão dos tribunais, em vez de uma administrativa, sobrelotando os tribunais. 

A pedido dos Estados Unidos, o México destacou militares e polícias para fortalecer a fronteira e impedir a travessia ilegal da fronteira mais movimentada no mundo. O número de imigrantes que viajam em família subiu nos últimos dois anos, com a política de imigração da Casa Branca a separar mães e pais de filhos e a levantar um coro de condenação internacional. 

Em 2017, um mexicano atirou-se da ponte nas imediações da fronteira Tijuana-San Diego horas depois de ser deportado pelas autoridades dos Estados Unidos. Atravessou a fronteira seis vezes e seis vezes foi deportado. 

“Ele queria ir [para os Estados Unidos] para poder cuidar dos filhosa”, disse ao Los Angeles Times Yuriba Valles de Espinoza, sua sobrinha. 

As consequências da política anti-imigração de Trump na saúde mental dos imigrantes só agora começou a ser estudada por especialistas, diz o USA Today, mas os seus sinais são visíveis. O sofrimento psicológico é claro e a vasta maioria dos imigrantes não tem acesso a cuidados de saúde mental. E quem fica detido em centros de detenção, a maioria sobrelotados, vive em condições deploráveis. 

“As políticas, aliadas ao medo de deportação, resultam com frequência em depressão, ansiedade ou traumas relacionados com stress”, diz o jornal. 

“Deixei de ser uma pessoa sociável e extrovertida para passar a não conseguir ir ao supermercado quando havia pessoas à minha volta, porque sentia que estava a ter um ataque cardíaco”, disse Azul Uribe, de 35 anos.

Uribe contestou a sua deportação nos tribunais e o processo arrastou-se por anos e, a cada mês, os sintomas iam piorando e piorando. “Estava muito ansiosa. Estava sem dinheiro e quase que não conseguia satisfazer as minhas necessidades. Era simplesmente muito pobre, muito ansiosa e muito deprimida”, contou, relembrando que era muito difícil ter uma vida normal por a deportação estar sempre nos seus pensamentos. 

Sugerir correcção
Comentar