Cientista da ONU diz que Madeira é “particularmente vulnerável” às alterações climáticas

A especialista alerta que a subida do nível médio do mar promove a erosão de toda a região costeira e uma maior ocorrência de períodos de chuva, que podem depois desenrolar-se em cheias.

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Funchal, Madeira RAFAEL MARCHANTE/Reuters

A ilha da Madeira está “particularmente vulnerável” às alterações climáticas, devido à “maior incidência” de eventos extremos e aos “perigos” associados à subida do nível médio do mar, alertou esta segunda-feira a cientista da ONU Joana Portugal Pereira.

“Esta subida do nível médio do mar promove também a erosão de toda a região costeira, eventualmente deslizamentos de terra, e maior ocorrência de períodos de grandes precipitações, que podem depois desenrolar-se em cheias”, explicou Joana Portugal Pereira, numa conferência organizada pela presidência da Assembleia Legislativa da Madeira, no Funchal.

A cientista, coordenadora de um grupo de trabalho do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), alertou ainda para o aumento das temperaturas, que se vai traduzir em Verões cada vez mais extensos e secos, potenciando a ocorrência e o risco de incêndios florestais.

“A ilha da Madeira, sendo uma pequena ilha, está particularmente vulnerável às alterações climáticas, não apenas por maior incidência da ocorrência de eventos extremos, mas também pelos perigos associados à subida do nível médio do mar”, reforçou.

Para mitigar o impacto das alterações climáticas ao nível local e mundial, é necessário “actuar em todas as frentes”, advertiu Joana Portugal Pereira, sublinhando, desde logo, a necessidade de desenvolver políticas de baixo carbono, que sejam “inclusivas” e promovam “várias dimensões de desenvolvimento sustentável”.

Criar oportunidades económicas associadas a tecnologias de baixo carbono, expandir a capacidade instalada de energias renováveis, alterar os padrões de consumo, repensar os padrões de mobilidade e adoptar meios de transporte menos dependentes de combustíveis fósseis são outros passos fundamentais para minimizar o impacto. “As alterações climáticas tornaram-se um tema muito actual e acredito que a maioria da população está ciente dos riscos associados e das formas de reduzir o nosso impacto sobre as emissões de gases de efeito estufa”, disse.

Joana Portugal Pereira sublinhou, no entanto, que falta agora passar da consciência para a actuação e as acções práticas, o que implica “vencer as nossas inércias pessoais, institucionais e políticas”, bem como “alterar os nossos padrões de consumo e comportamentais”.

A cientista da ONU, cujo grupo de trabalho está sediado no Centre of Environmental Policy no Imperial College London, no Reino Unido, elogiou, por outro lado, o trabalho da jovem activista sueca Greta Thunberg e de todos os adolescentes activistas no campo das alterações climáticas.

“Vejo com muito bons olhos a actuação destes adolescentes. Precisamos de actuar em diferentes frentes e esferas da sociedade e, de facto, as populações mais jovens vão ser aquelas que vão viver mais tempo com as consequências das alterações climáticas”, disse.

Joana Portugal Pereira foi a primeira conferencista convidada da Assembleia Legislativa da Madeira, no âmbito de um ciclo designado Parlamento com Causas, que pretende abordar os “grandes temas da actualidade”, bem como “consciencializar, debater e apontar soluções” para as questões mais prementes da sociedade.

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