De Reunião, no meio do Índico, chega a grande surpresa do futebol francês

Com o triunfo na Taça de França - até onde viajou mais de nove mil quilómetros -, o Saint-Pierroise tornou-se o primeiro representante de Reunião a chegar aos 16 avos-de-final da prova. Sinama-Pongolle, ex-jogador do Sporting, acompanha esta equipa como assessor e conselheiro, depois de ter chegado a jogar uns meses pelo clube.

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Jogadores em festa neste sábado DR/FFF

Em pleno Oceano Índico, ligeiramente a leste de Madagáscar, fica a pequena ilha de Reunião. É lá que mora um clube chamado Saint-Pierroise, que é, desde este sábado, a maior surpresa da temporada no futebol francês. Possivelmente será, até, a maior surpresa da década.

A Taça de França é, porventura, a competição mais inclusiva do futebol europeu, já que engloba todas as divisões do país, às quais se juntam equipas de territórios ultramarinos gauleses. O Saint-Pierroise tem feito dessa honra um momento histórico e, depois de ultrapassar duas eliminatórias – algo já elogiável e raro –, eliminou o Niort (1-2), equipa da segunda divisão (!) francesa.

Com o triunfo na zona oeste de França - até à qual os visitantes viajaram mais de nove mil quilómetros -, o Saint-Pierroise tornou-se o primeiro representante de Reunião a chegar aos 16 avos-de-final da Taça de França e é, apenas, a segunda equipa de território ultramarino a atingir essa fase – a outra foi o Geldar de Kourou, de Guiana, já em 1989.

Esta é a equipa pela qual já passaram Jean-Pierre Papin, Roger Milla e Djibril Cissé, em final de carreira, mas pela qual também passaram os na altura ainda jovens Payet, Laurent Robert (ex-Benfica), Trémoulinas ou Hoarau. Por lá também andou – e muito recentemente – o ex-Sporting Sinama-Pongolle, que saiu da reforma para “fazer uma perninha” no Saint-Pierroise, enquanto gozou os prazeres da vida em Reunião. O ex-internacional francês explicou que queria transmitir experiência e conhecimento como conselheiro – e é o que faz neste momento pelo clube.

Não foi obra do acaso

O Saint-Pierroise teve sorte? Venceu nos penáltis? Beneficiou de uma expulsão no adversário? Nada disto se passou. Na verdade, o Saint-Pierroise não só venceu nos 90 minutos – e em 11 contra 11 – como foi superior ao seu adversário, claramente mais poderoso, e que conta, no plantel, com o ex-FC Porto Thibaut Vion. “As quatro divisões de diferença não se fizeram sentir, já que a equipa de Reunião se mostrou a mais perigosa ao longo do jogo”, pode ler-se na crónica do jornal francês L’Équipe.

Logo na primeira parte, a equipa de Reunião somou três boas oportunidades de golo, mas, ao intervalo, era apenas uma equipa a conseguir parar, temporariamente, o Niort. Nada mais.

Aos 59 minutos, Hubert fez o 0-1, de cabeça, e, pouco depois, o Saint-Pierroise mostrou que era mesmo a única equipa a saber encontrar as redes: houve autogolo de Randrianarisoa. O nome invulgar deste jogador não é caso único na equipa: o Saint-Pierroise tem Randrianarisoa, mas também tem Raheriharimanana, Souevamanien, Razakanantenaina ou Rakotondraibe: todos nomes de Madagáscar, país que fornece boa parte do talento desta equipa.

Os nomes não são, porém, tão invulgares como o que se passou no relvado. Aos 76’, Ponti promoveu-se a “herói nacional”, ao marcar o golo da vitória. O golo que chocou um país. O Niort ainda tentou empatar, mas em vão. A tarde foi dos ultramarinos.

Eram assustadoramente mais pequenos, profundamente favoritos à derrota, mas foram claramente melhores. E tiveram cerca de 100 pessoas a festejar na bancada, em tons de preto e branco.

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