É uma pessoa bem-sucedida?

Há vários tipos de sucesso e por isso não é fácil responder a esta pergunta. Até porque uma coisa é o “ter” e outra é o “ser”.

“Muitos sucessos no novo ano!” é das frases que mais se repetem e daquelas que sempre mais me intrigaram.

O que é isso de “ter sucesso”? É óbvio que ter bens materiais, ter comida na mesa, um tecto por cima da cabeça, o essencial a uma vida digna, são condições sem as quais não se pode ser “bem-sucedido”. Por aqui vemos que o “sucesso” é, basicamente, ter. Mais longe ainda, ser rico, ter influência. 

Outro forma diversa é a de ser respeitada/o. Aqui já se não exige necessariamente riqueza material, mas intelectual, moral, ética, deontológica. Alguém que os outros têm por modelo, a quem recorrem quando são assaltados por dúvidas e inquietações. Já conhecemos todos muita gente respeitada e analfabeta. E muita outra coberta de canudos e que só é “respeitada” por quem dele/a depende em termos económico-financeiros. Falamos, pois, na dimensão do ser.

Relacionado com este ponto, também se tem “sucesso” quando se tem uma causa que, em regra, a comunidade tem por nobre. Aqui cabem os missionários de qualquer fé, os ateus e agnósticos que dedicam as suas vidas a cuidar dos outros, os tão falados “cuidadores informais”, os que se dão aos demais pelo gosto de, a cada dia, sentirem a recompensa de um coração transbordante.

São estes os que mais se aproximam da matéria humana, por verem para além de todas as diferenças e entenderem que, por entre veias, músculos e carne, aquela coisa indescritível e intangível é sempre igual em qualquer pessoa. Também aqui estão os que lutam desinteressada e abnegadamente pela paz, pela concórdia, nos seus lares e nos seus países. 

Há, depois, o sucesso mediático. Por se ser muito bonito/a, se “ter tudo no sítio”, se ter “caído no goto” do público, se alimentar o esoterismo do sonho que todos temos em viver vidas que não são nossas e que parecem perfeitas. Mesmo que as produções fotográficas sejam isso mesmo: encenações em que tudo é feliz e harmonioso.

Mesmo que saibamos que o feed das redes sociais se enche com o que de melhor temos para mostrar e que até gostamos, aqui e além, de “esfregar na cara dos outros” que a nossa vida nunca esteve tão bem como agora. Este sucesso começa e acaba à velocidade de um tweet: hoje é-se bestial e amanhã besta, quando outro personagem mais novo, mais esbelto, mais cool tiver aparecido. Creio ser dos “sucessos” mais psicotrópicos: inebria, aproxima-nos da vida de Ícaro e faz-nos morrer sem glória.

E há o “sucesso” de conseguir chegar ao fim do dia, com vitórias e fracassos, com acções e omissões positivas e negativas, com raivas e frustrações, com a sensação tão comum de se andar sem se conhecer destino (nem tão-pouco um só “sei que não vou por aí”, de Régio). Talvez seja o “sucesso comum”, o mais “fraquinho”, uma espécie de “sucesso low cost”, mas, ao contrário do que muitos julgam, a História sempre se fez e fará à custa dos organismos obreiros que sustentam figuras que, mesmo impressionantes, apenas tiveram a sorte de nascer no momento e no tempo ideais.

Por tudo isto – e tanto mais –, deixarei de desejar os maiores “sucessos” para me limitar a esperar que tenham “dias”. Sem adjectivos como “bons” ou “maus”, tantas vezes eles – os dias – são apenas pardos. E nada há de mal em ser pardo. Desde que aqui e além haja alguma cor que tresfolgue uma pitada de marasmo sempre inevitável em tudo o que é humano.

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