Quem será o próximo líder do CDS? Congresso promete ser imprevisível

Delegados vão votar primeiro as moções que já podem dar um sinal do vencedor, mas nada é dado como certo

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Adriano Miranda

Depois de uma transição suave de Paulo Portas para Assunção Cristas em 2016, o CDS pode estar a preparar-se para viver no 28º congresso uma sucessão na liderança sobressaltada. Há cinco candidatos à liderança mas o caminho para entendimentos entre os três mais fortes parece estreito, sobretudo antes do congresso. Há ainda um grupo (liderado por Nuno Melo e Telmo Correia) sem candidato conhecido mas disposto a negociar apoios e entendimentos.

A intensidade da disputa para a liderança vai depender do resultado da votação das moções de estratégia global, que se realiza no primeiro dia do congresso marcado para 25 e 26 de Janeiro em Aveiro. Todos os candidatos – João Almeida, Francisco Rodrigues dos Santos, Filipe Lobo d’Ávila, Abel Matos Santos e Carlos Meira - têm uma moção e devem levar o texto a votos. O resultado dessa votação já poderá indicar com bastante certeza o nome do líder do CDS, sobretudo, se a diferença do vencedor face ao segundo lugar for expressiva.

Mas tanto o primeiro subscritor da moção vencedora como os de outras moções votadas podem apresentar listas à comissão política nacional e a outros órgãos nacionais do partido, o que pode levar a negociações entre as candidaturas para granjear um apoio mais alargado e conquistar a maioria dos votos para a direcção.

No limite, a moção mais votada no sábado pode não ser a do nome que venha a ser eleito líder do CDS no domingo como admitiram várias fontes ao PÚBLICO. Uma situação que já aconteceu, pelo menos, num congresso da Juventude Popular.

Depois da votação das moções é que deverão acelerar eventuais negociações entre as candidaturas para a apresentação de listas conjuntas ou mesmo de desistências a favor de outros candidatos. Mas a equação não é simples. Por exemplo, Filipe Lobo d’Ávila e João Almeida são próximos pessoalmente mas politicamente estão distantes, sobretudo, em parte por causa das suas bases de apoio. Há apoiantes de Lobo d’Ávila que, caso desistisse e viesse a ficar ao lado de João Almeida, não votarão nesse candidato e preferem ficar ao lado de Francisco Rodrigues dos Santos. O mesmo acontece na base de apoio de João Almeida, que não transitará, em parte, para Lobo d’Ávila.

Já Abel Matos Santos, da corrente interna Tendência Esperança em Movimento, está mais próximo de Francisco Rodrigues dos Santos, que lidera a Juventude Popular (JP). Uma proximidade que pode levar a um entendimento para a constituição de uma lista para a direcção.

Entre os motivos de afastamento entre a candidatura de Lobo d’Ávila e a de João Almeida está o percurso político de cada um dos últimos anos. Depois de terem feito parte da mesma direcção na JP e até de se terem sucedido um ao outro na secretaria de Estado da Administração Interna no Governo PSD/CDS (2011-2015), Lobo d’Ávila tornou-se um crítico da direcção de Assunção Cristas logo no congresso de 2016 enquanto João Almeida aceitou ser porta-voz dessa mesma direcção. Ficaram em lados opostos da barricada.

Essa divergência ficou clara na moção de estratégia global de Lobo d’Ávila em que o ex-deputado (que abdicou do lugar no Parlamento em 2018 em ruptura com Assunção Cristas) foi contundente sobre o que “falhou” no CDS e apontou o dedo não só ao caminho seguido pela direcção mas também aos que ficaram “tacticamente em silêncio”. Relativamente a eventuais entendimentos de “bastidores”, Lobo d’Ávila (e é o único que se refere a este assunto na moção) avisa que não são os lugares que o movem mas sim a necessidade de “mudança” do partido e a “recuperação da credibilidade”.

Os promotores da moção Direita Autêntica, Nuno Melo (eurodeputado) e Telmo Correia (presidente do conselho nacional), temem a “balcanização” do partido e propuseram uma plataforma de entendimento entre os candidatos. Mas, para já, ainda sem resultados visíveis. Os dois dirigentes eram dados como apoiantes de João Almeida, mas surpreenderam ao avançar com uma moção própria. O aparecimento de um candidato para este texto nunca ficou totalmente excluído embora ambos se tenham já colocado de fora desse cenário.

Sem entendimentos, um candidato à liderança, em tese, pode ganhar o congresso com pouco mais do que 33% ou 34% dos votos, o que já está a levantar dúvidas sobre a real viabilidade de um líder com esta votação, com um partido atingido por uma forte derrota eleitoral, desmobilizado, e com novos protagonistas no seu espaço parlamentar. 

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