Há flores a florir em Moscovo em vez de neve - é o ano mais quente na Rússia desde que há registos

A única neve que Moscovo vai ter na passagem de ano será artificial e não vai chegar para cobrir a cidade de branco. As previsões meteorológicas dizem que vai chover em vez de nevar.

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Reuters/ANTON VAGANOV

O ano 2019 foi o mais quente na Rússia em mais de 120 anos, anunciaram esta segunda-feira os serviços meteorológicos locais, numa altura em que Moscovo enfrenta um raro inverno sem neve. “Este foi o ano mais quente da Rússia de todo o período de observações instrumentais”, observou o director do Centro Hidrometeorológico Roman Vilfand, citado pelas agências russas.

A temperatura na capital russa subiu até 5,4 graus a 18 de Dezembro, batendo o anterior recorde para este mês, que era de 1886. A temperatura normal ronda estes valores - só que na escala negativa.

As autoridades municipais de Moscovo decidiram despejar neve artificial no centro da cidade para manter a cidade com um cenário mais de acordo com o habitual nas festividades do Ano Novo, quando é habitual as pessoas saíram para a rua para fazerem snowboard. Mas não é a mesma coisa. “Não é nada festivo”, disse uma muscovita vestida como a donzela do gelo Snegurochka, figura dos contos de fada russos, citada pelo jornal Moscow Times. “Já está a ficar cinzenta”, disse outro morador, vestido de Pai Natal.

A decisão tem sido alvo de várias mensagens na rede social Twitter, com os moscovitas a afirmarem que “o orçamento de Moscovo pode comprar qualquer coisa – até o Inverno”, ou que o cenário “está muito longe do general Inverno” - as temperaturas abaixo de zero que ajudaram a derrotar os exércitos com que Napoleão e Hitler pretenderam invadir a Rússia e a União Soviética.

Noutra rede social, o Instagram, têm-se multiplicado os vídeos que mostram camiões a transportar e espalhar neve na cidade. “Esta é toda a neve que há em Moscovo. Está toda guardada na Praça Vermelha”, escreveu um utilizador, a acompanhar uma fotografia tirada perto do Kremlin.

Embora seja um país bastante céptico em relação às alterações climáticas - sondagens recentes dizem que menos de metade dos russos acredita que a mudança do clima é uma ameaça de peso para o seu país - as preocupações com os efeitos do aquecimento global na Rússia têm vindo a crescer. O permafrost ou pergelissolo — o tipo de solo encontrado na região do Árctico, constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados – está a derreter-se lentamente e a fazer recuar o gelo árctico, o que leva os ursos polares famintos a procurar comida em áreas urbanas.

No Verão passado, incêndios gigantescos nas regiões árcticas da Rússia duraram meses - foi um prenúncio do futuro que se se aproxima com a mudança do clima, tornando-se mais quente dos que nos últimos milhares de anos. O aquecimento nas zonas polares acontece muito mais rápido, dizem os cientistas, analisando os dados recolhidos.

O clima ameno que se tem registado este mês naquele país interrompeu a hibernação de vários animais no jardim zoológico de Moscovo, o que obrigou a colocar alguns animais em jaulas refrigeradas, para que continuassem em hibernação, diz o Guardian. Fez ainda com  que as flores no Jardim Botânico da Universidade de Moscovo começassem a florir fora de época: açafrões, lilases e magnólias abriram as suas pétalas, tornando-se notícia na Rússia e no mundo fora.

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