Produtividade e qualidade da gestão em Portugal

Independentemente de estarmos perante mais um governante a fazer considerações desproporcionadas, numa área em que não se lhe reconhecem competências, mais importante é ver como podem ser dadas contribuições políticas para ultrapassar esta situação

O Ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou recentemente que a qualidade da gestão das empresas em Portugal era “fraquíssima”. Essa afirmação provocou uma onda de reações no meio empresarial, político e na comunicação social e continuará, provavelmente, a manter-se como um tema a ser discutido durante algum tempo.

Na medida em que é fácil e tradicional nas polémicas em Portugal as posições e argumentos aparecerem a preto e branco – o que, aliás, dá azo a que sejam alimentadas pela comunicação social – torna-se por isso importante recolocar a questão num enquadramento mais amplo.

A produtividade da economia portuguesa é baixa comparada com a média da OCDE e, em particular, com os países da União Europeia. Essa situação, como a CCP tem afirmado, decorre de vários fatores que é necessário ter em conta.

- Fraca qualificação da mão-de-obra, em particular escasso número de pessoas com competências técnicas e tecnológicas, ainda que existam nichos importantes com pessoas altamente qualificadas;

- Atraso global na digitalização e na inovação tecnológica, apesar de existirem empresas e sectores perfeitamente competitivos em termos internacionais;

- Qualidade de gestão de uma parte significativa do tecido empresarial português, muito atomizado e de que um indicador claro é a baixa qualificação escolar média dos empresários (é óbvio que para se ser um bom empresário não é necessário ser licenciado), mas com dinamismo e iniciativa em resposta às dificuldades do  mercado ;

- A referida atomização do tecido empresarial, (cerca de 400 mil empresas) que por si só, é um entrave a um aumento significativo da produtividade.

Independentemente de estarmos perante mais um governante a fazer considerações desproporcionadas, numa área em que não se lhe reconhecem competências, mais importante é ver como podem ser dadas contribuições políticas para ultrapassar esta situação.

Apesar do esforço de qualificação feito nas últimas décadas com fundos europeus, é necessário definir prioridades e, em articulação com universidades e institutos politécnicos, definir um modelo de gestão desses projetos em termos nacionais. Sem capelinhas nem fragmentações para satisfazer clientelas seja de que tipo for.

Nesse sentido, há que considerar que devem ser as empresas, através do movimento associativo, a tomar a posição de pivot desse processo, devidamente fiscalizado, mas reduzindo drasticamente o peso do Estado cujo valor acrescentado é historicamente muito fraco.

A difícil elegibilidade de projetos de formação para a qualificação da gestão das PME e das micro empresas, verificada nos diversos quadros de apoio, é outro fator decisivo a alterar.

Utilizar os incentivos ao investimento e ao financiamento para dar prioridade a projetos de fusão, associação ou trabalho em rede das empresas de menor dimensão em vez de, por razões nem sempre as melhores, dispersar apoios que, ainda que possam ser válidos, pouco contribuem para a melhoria real da produtividade.

Por tudo isto, o próximo quadro financeiro europeu é uma oportunidade que não pode ser perdida, como o foram os anteriores.

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