Entre atrasos e voos cancelados, sindicato avança para nova greve

Trabalhadores da Portway, em greve desde sexta-feira, fazem nova paralisação às horas extra já a partir de 1 de Janeiro e ameaçam manter o protesto até ao fim de Março.

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A greve dos trabalhadores que prestam assistência em terra começou na sexta-feira LUSA/MIGUEL A. LOPES

Ao terceiro dia de greve, os impactos da paralisação dos trabalhadores da Portway nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Funchal pareceram mais expressivos do que na sexta-feira e no sábado. Já a partir de quarta-feira inicia-se uma nova paralisação, em moldes diferentes.

Além dos atrasos nos voos, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (Sintac) diz ter a indicação de que haveria 19 cancelamentos nas partidas no Aeroporto Humberto Delgado, na capital, até ao final do dia deste domingo, a que se somaria um 20.º caso referente a uma aeronave que deveria ter ido para Lisboa mas não chegou a fazê-lo. Já a partir de quarta-feira inicia-se uma nova paralisação que pode durar até Março, desta vez às horas extraordinárias.

A gestora aeroportuária ANA, detida pelo mesmo grupo francês que controla a Portway, a Vinci, não prestou qualquer comentário ao PÚBLICO sobre o último dia da greve até ao momento de publicação e actualização desta notícia, ao contrário do que fizera no sábado, quando apontava para um impacto “reduzido” em Lisboa e pouco “assinalável” no Porto, em Faro e no Funchal.

Já o dirigente do Sintac Fernando Simões admitia que a participação dos funcionários da Portway neste domingo fosse “eventualmente superior” aos 70% que calcula terem sido alcançados no sábado, “tendo em conta o impacto que a greve” já registava durante a manhã.

Ao final do dia, o sindicalista arriscava uma adesão entre 80 a 85% no aeroporto de Lisboa, sem, no entanto, adiantar números globais sobre o conjunto dos quatro aeroportos. Os dados mais concretos diziam respeito ao aeroporto do Porto, onde as contas da Sintac apontam para 50% de adesão na área dos passageiros (check-in, embarque e desembarque) e de 90% nas áreas de placa e carga (rotação das aeronaves, cargas e descargas).

Os trabalhadores partiram para o protesto acusando a Portway de não estar a cumprir o acordo de empresa assinado em Junho de 2016, ao não descongelar as progressões nas carreiras profissionais a partir de 1 de Janeiro de 2019. O protesto de Dezembro, entre o Natal e o Ano Novo, é o primeiro do ano que agora acaba, uma decisão que o sindicato diz ter sido tomada após tentar “ir pela via do diálogo em várias reuniões com a empresa”.

Sindicato diz haver “ameaças”

Terminada esta paralisação, começa uma nova dentro de dias, já na quarta-feira, 1 de Janeiro, agora ao trabalho suplementar (horas extraordinárias), ao banco de horas (o chamado regime de elasticidade em turnos) e aos dias de folga em que os funcionários são chamados a trabalhar. Apesar de se esperar um impacto distinto, porque é uma greve parcial, o sindicato entregou um pré-aviso que permite manter o protesto durante três meses, até 31 de Março, caso o impasse entre o sindicato e a Portway continue.

Pelo pré-aviso de greve são abrangidos todos os funcionários da Portway que prestam assistência em terra nos quatro aeroportos. Serão cerca de dois mil, divididos em três categorias profissionais: a carreira técnica (subdividida nas categorias de especialistas, técnicos e assistentes); a carreira operacional (os operadores de assistência em escala e os técnicos de tráfego) e a carreira de manutenção (técnicos e assistentes de manutenção).

Questionado se houve reuniões entre o Sintac e a Portway desde que a greve começou, o dirigente Fernando Simões afirma que houve um único contacto na manhã desde domingo, “com a empresa a dizer que entende que isto já não é greve, porque tem um entendimento de que não pode haver trabalhadores que já entraram ao serviço e decidem, durante o seu turno, sair e aderir à greve”. A Portway, alega o representante sindical, “diz que se os trabalhadores continuarem a fazer isto, haverá repercussões tanto para os trabalhadores como para o sindicato”.

Fernando Simões afirma que os funcionários que foram trabalhar “estão a ser alegadamente ameaçados com processos disciplinares se saírem dos seus postos de trabalho — o que a lei permite — para aderirem à greve”.

O sindicalista afirma que estas ameaças chegaram através de mensagens e “verbalmente” por parte de chefias locais “e, inclusivamente, por administradores do grupo Vinci”. Questionado sobre quem são os alegados representantes da empresa em causa, o dirigente sindical não quis precisar.

O PÚBLICO pediu um comentário à Portway na sequência desta acusação, mas não foi possível obter resposta até à publicação e actualização desta notícia.

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