Pequim alicia investimento de Taiwan nas vésperas das presidenciais na ilha

Governo de Taipé vai aprovar um a lei anti-infiltração para impedir a interferência da China. Discurso de Xi e situação em Hong Kong podem reeleger a Presidente Tsai.

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Manifestação de apoio aos protestos de Hong Kong em Taipé,Manifestação de apoio aos protestos de Hong Kong em Taipé YIMOU LEE/Reuters,YIMOU LEE/Reuters
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Comício do Kuomitang em Taipé ANN WANG/Reuters
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A Presidente Tsai subiu nas sondagens depois de Hong Kong DAVID CHANG/EPA

O Parlamento chinês, um órgão que basicamente cumpre ordens do Governo, aprovou este sábado uma alteração na lei que simplifica os mecanismos de investimento das empresas de Taiwan. É mais uma tentativa do Governo de Pequim atrair a ilha cuja soberania reclama e que tem eleições presidenciais a 11 de Janeiro.

A China, com os seus 1.3 mil milhões de pessoas, é o destino favorito das empresas de Taiwan, que, atraídas por uma cultura comum e pelos baixos custos, ali investiram mais de cem mil milhões de dólares desde que Pequim deu início às reformas económicas no final dos anos de 1970. 

Com esta alteração legislativa, a China também abre novos sectores aos investidores taiwaneses. Medidas que têm como objectivo incitar a ilha a aceitar o controlo de Pequim, mostrando-lhe os benefícios que daí pode tirar.

O Governo de Taiwan advertiu para os perigos destas manobras de incitamento de Pequim e disse que este deve, antes, garantir democracia e liberdade de expressão ao seu próprio povo. A China nunca pôs de parte a possibilidade de usar a força para recuperar Taiwan, a ilha onde o nacionalista Chiang Kai-shek estabeleceu a República da China depois de perder a guerra contra o Partido Comunista em 1949.

Vigora desde 1992 o Consenso, em que as duas partes se comprometeram com três “nãos": não haverá unificação, não haverá declaração de independência e não haverá agressão.

O ministro chinês do Comércio, Jiang Chenghua, disse que o Governo está “muito atento” e que proteger e incentivar o investimento de Taiwan e que essa política tem o apoio das mais altas instâncias, incluindo do Presidente Xi Jinping.

“Apesar de as alíneas revistas não serem muitas, são de grande significado e visam optimizar o ambiente para o investimento dos compatriotas de Taiwan e alargar as trocas económicas e o comércio entre os dois lados”, disse Jiang, citado pela Reuters.

Esta revisão faz parte da nova política de investimentos que vai entrar em vigor na China a 1 de Janeiro. E o ministro do Comércio, Zhong Shan, disse esta semana que quer que “os compatriotas de Taiwan partilhem dos benefícios desta grande mudança”.

Taiwan, cada vez mais isolada internacionalmente, considera esta medida uma tentativa de interferir com as eleições e o Governo de Taipé anunciou que vai avançar com uma “lei anti-infiltração”, que espera aprovar na semana que vem.

No dia 11 de Janeiro, nas presidenciais, defrontam-se a Presidente Tsai Ing-wen, pró-independência e do Partido Progressista Democrático, e Han Kuo-yu, do principal partido da oposição, o Kuomintang, que defende uma política de apaziguamento e de reforço de laços com a China.

As sondagens dizem que Tsai tem possibilidade de ser reeleita, apesar de o seu partido ter perdido as eleições locais do ano passado e de a sua popularidade ter baixado. A situação começou a mudar no início deste ano, quando Tsai ganhou o apoio sobretudo da população mais jovem que se começou a posicionar do seu lado depois de Xi Jinping ter feito um discurso sobre Taiwan em que sublinhou que não aceita o Consenso e quer unificar o território sob o princípio “um país, dois sistemas”. 

Mas a viragem a favor de Tsai aconteceu sobretudo depois de Junho, quando os protestos eclodiram em Hong Kong. “Os taiwaneses perceberam que o assunto [o princípio ‘um país, dois sistemas'] era mais importantes do que pensavam e que a Hong Kong de hoje pode ser o Taiwan de amanhã - os que ficaram impressionados e até desanimados com o que se estava a passar em Hong Kong viraram-se para Tsai e os seus números começaram a subir nas sondagens”, escreveu Yoshiyuki Ogasawara na revista sobre a Ásia-Pacífico The Diplomat.

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