A lenda de Joaquín perdura — a reforma pode esperar

Extremo espanhol continua a ser determinante no Betis, aos 38 anos. Nesta quinta-feira, anunciou a renovação do contrato até 2021.

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LUSA/QUIQUE GARCIA

No Estádio Benito Villamarín, chamam-lhe Joaking, fusão de nome próprio e aura de rei há muito coroado pelos adeptos andaluzes. Foi lá, com a camisola do Betis, que Joaquín Sánchez Rodríguez se deu a conhecer ao futebol, na década de 1990, e é lá, com o mesmo equipamento, que vai continuar a dar corpo a uma carreira ímpar. Joaquín, simplesmente Joaquín, renovou nesta quinta-feira por mais uma temporada. Aos 38 anos.

A idade é sempre uma unidade de medida muito limitada quando se fala de um desportista de topo, mas é inegável que a maratona deste extremo de enormes recursos se aproxima a passos largos do fim. Por isso é que o Betis, no mesmo vídeo em que anunciou o prolongamento do vínculo até Junho de 2021, desenhou um guião em torno do adeus ao futebol com um inesperado twist final.

“Não há coisa mais bonita do que ser feliz e poder fazer-vos felizes a todos”, acabou por resumir Joaquín, desafiando os adeptos a comparecerem no estádio no dia 30 de Dezembro para uma “cerimónia” que já havia sido revelada pelo clube. Quantos futebolistas ainda no activo podem dizer que foram alvo de uma homenagem depois de terem renovado o contrato?

O percurso de Joaquín ajuda a explicar esta invulgar ligação ao Betis. Entrou no clube ainda nas camadas jovens, fez-se profissional em 2000 e saiu em 2006, para representar o Valência — e mais tarde o Málaga e a Fiorentina. Em 2015, regressou “a casa”, como gosta de enfatizar, tendo-se provado francamente influente, com uma média de 35 jogos por época. Em 2019-20, já leva 17, com o bónus de se ter tornado, no início deste mês, no jogador mais velho a conseguir um hat-trick na Liga espanhola — feito alcançado diante do Athletic Bilbau.

No total, são já 781 as partidas disputadas nos principais campeonatos (o espanhol e o italiano, neste caso) e 101 os golos apontados. Se reduzirmos a análise ao Betis, são 398 jogos realizados e 54 golos marcados, que fazem de Joaquín um jogador que junta números fantásticos a uma longevidade incomum.

Num país com outros exemplos de rendimento e longa duração, como Aritz Aduriz (38 anos, Athletic Bilbau), Ruben Castro (38 anos, Las Palmas), Nino (39 anos, Elche) ou Jorge Molina (37 anos, Getafe), Joaquín tem todas as condições para atingir a barreira dos 40 anos ao mais alto nível. Quem o atesta é Marcos Álvarez, preparador físico do Betis: “Posso dizer com clareza que vai jogar sem problemas até aos 40 anos. Os dados demonstram-no”, revelou ao jornal El País. “Todos os registos de velocidade, resistência e restantes parâmetros do Joaquín nos jogos são como os do [Nabil] Fekir [26 anos]”.

Para uma carreira tão estável — que conta ainda com 51 internacionalizações e quatro golos por Espanha — têm também contribuído os desencontros com o azar, numa modalidade muito exposta ao contacto físico e ao choque. “Não me recordo de uma lesão grave. Ele tem, realmente, uma genética espectacular e uma capacidade de recuperação incrível depois dos jogos”, revela Tomás Calero, director do departamento médico do Betis até 2018.

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