Tolentino Mendonça pede “vastíssimo acordo” nacional para a Educação e a Cultura

O cardeal recebeu a Medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira, o mais alto galardão do arquipélago.

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LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

O cardeal José Tolentino Mendonça pediu ontem, no Funchal, um “vastíssimo acordo” nacional para concretizar um “investimento grande” na educação e na cultura, e um cuidado especial com as questões ambientais no arquipélago.

“Numa democracia a questão da educação é uma questão que tem de ser transversal. É de facto uma questão nacional e uma questão regional, que diz respeito a todos, e temos que conseguir sempre um vastíssimo acordo para um investimento grande na educação e na cultura”, disse José Tolentino Mendonça aos jornalistas, no final de uma cerimónia no parlamento madeirense, em que recebeu a Medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira, o mais alto galardão do arquipélago.
“Pela minha própria experiência – continuou o cardeal – a educação, a construção pessoal e o investimento na pessoa humana, na sua cultura, são a chave para o percurso que iremos fazer.”

Antes, na intervenção durante a cerimónia, José Tolentino Mendonça já tinha apelado para os deputados dedicarem “especial atenção” à causa da educação. Um desígnio, reforçou, transversal e colectivo. “O regime democrático universalizou o ensino e isso é um bem. Mas enfrentamos agora o desafio da qualidade. Tudo o que se puder fazer para qualificar o nosso ensino, do pré-primário ao universitário, reforçando as potencialidades das nossas escolas, investindo na formação das pessoas e fortalecendo as instituições de cultura seja uma prioridade”, defendeu, dizendo que os percursos de excelência não devem ser excepções. Devem ser “um possível” que se concretiza muitas vezes.

E da educação, para o ambiente. Com a ilha, e a sua “inesgotável capacidade de nos integrar na beleza”, como cenário, o cardeal, que é natural de Machico, no extremo Leste da Madeira, alerta para a necessidade de alterar hábitos e comportamentos. “A ilha que nos sonha precisa de ser protegida e cuidada, porque a ilha é também frágil, é um corpo vulnerável, agredido pelos desequilíbrios, exposto à devastação”, sublinhou, considerando fundamental encontrar soluções integradas. “Não há duas realidades separadas: uma ambiental e outra social. Mas uma única e complexa realidade sócio-ambiental.”

Por isso, insistiu, não se pode considerar a natureza como algo “separado de nós”. Como uma “mera moldura da nossa vida”. “Somos parte dela”, resumiu. 
Mais tarde, terminados os discursos, o dele e o do presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, e cumprimentada a última pessoa da longa fila que serpenteou pelo Salão Nobre do parlamento madeirense, o cardeal-poeta falou aos jornalistas. “Para mim, estas ocasiões, são sobretudo uma oportunidade para trazer para o espaço público um certo tipo de reflexão que normalmente não está tão presente, como as questões do humanismo, as questões da ética”, disse, acrescentando: “Se este destaque servir para todos pensarmos mais um pouco nestas questões que são, no fundo, tão estruturantes do nosso viver pessoal e do nosso viver comum, penso que é um contributo que também eu ofereço.”

Já José Manuel Rodrigues, falou da felicidade da região ter um cardeal — “quanta honra e quanto orgulho para todos nós [madeirenses], D. José Tolentino” —, destacando o contributo do homenageado para a igreja portuguesa. “Os seus diálogos com o mundo da cultura e das artes em Portugal, através da sua poesia, das suas crónicas e das interacções com os criadores, abriram novos caminhos.” Para a seguir tecer um enorme elogio a Tolentino Mendonça: “Nunca ninguém conjugou tão bem a insularidade com a universalidade, a raiz com a floresta e a simplicidade com a profundidade da mensagem dos evangelhos”.

No final, uma última palavra de Tolentino Mendonça para os jornalistas, que quiseram saber sobre o silêncio que povoa tanto as palavras do cardeal. “Às vezes nós não nos entendemos pelas palavras, mas pelo silêncio entendemo-nos sempre. O silêncio humano é sempre um lugar onde todos nos reconhecemos.”
Antes de partir ainda foi homenageado pela câmara municipal de Machico, que atribuiu o seu nome a uma rua no centro da cidade.

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