Cantor nacionalista e anti-sistema baralha contas nas presidenciais da Croácia

Poucos duvidavam de que a decisão final seria disputada pela actual Presidente, do centro-direita, e por um antigo primeiro-ministro do centro-esquerda. Mas a chave das eleições pode estar na candidatura de Miroslav Skoro, que pode surpreender na primeira volta deste domingo.

Skoro, de 57 anos, admite amnistiar o criminoso de guerra Tomislav Mercep
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Skoro, de 57 anos, admite amnistiar o criminoso de guerra Tomislav Mercep ANTONIO BRONIC/REUTERS
,União Democrática Croata
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Kolinda Grabar-Kitarovic ANTONIO BAT/EPA

Há quase 20 anos que as eleições presidenciais na Croácia são decididas numa segunda volta, e a deste ano, cuja primeira fase decorre no domingo, não será diferente. Ainda assim, as sondagens indicam que pode estar em preparação uma mudança histórica: pela primeira vez, a esquerda arrisca-se a ficar sem um representante próprio na fase decisiva das eleições, e o próximo Presidente pode ser um cantor pop-folk nacionalista e anti-sistema, apoiado pela extrema-direita e tolerado por uma boa parte do centro-esquerda.

Ao contrário do que tem sido habitual desde as primeiras presidenciais na Croácia independente, em 1992, este ano há três candidatos com fortes possibilidades de passar à segunda volta, marcada para 5 de Janeiro.

A favorita nas sondagens é a actual Presidente, Kolinda Grabar-Kitarovic, do maior partido do centro-direita (União Democrática Croata, HDZ).

E é provável que a decisão final seja entre Grabar-Kitarovic e o antigo primeiro-ministro Zoran Milanovic, do maior partido croata do centro-esquerda (Partido Social Democrata, SDP).

Mas a entrada na corrida de Miroslav Skoro, de 57 anos, um famoso cantor croata que teve uma passagem curta pelo Parlamento como deputado do HDZ, em 2008, e que se apresenta agora como independente, nacionalista e anti-sistema, veio agitar a campanha e baralhar as contas.

Favorito na segunda volta?

Segundo as sondagens, o apoio a cada um dos três candidatos ronda os 25%, com Grabar-Kitarovic à frente, seguida de Milanovic e Skoro. Atrás surgem mais oito nomes, e só um deles passa a barreira dos 10%.

Nenhum candidato se aproxima dos 50% mais um voto, e é possível que as sondagens estejam a subvalorizar o peso de Miroslav Skoro. Se o candidato-cantor passar à segunda volta com a actual Presidente, por exemplo, as suas hipóteses de vitória dão um pulo. Segundo uma sondagem recente, citada pelo instituto Europe Elects, 60% dos eleitores do SDP admitem votar em Skoro se o seu candidato ficar para trás.

“A estratégia de Miroslav Skoro é conquistar os votos das pessoas que estão descontentes com o sistema político na Croácia, em particular com a liderança governamental do HDZ”, explica o jornalista croata Luka Ivan Jukic no site do Europe Elects.

“Isso deixa Grabar-Kitarovic numa posição difícil, já que ela é muito mais popular do que o seu partido, e é ainda mais popular do que as políticas do HDZ. Tal como Milanovic [do SPD], Skoro tem dito que um voto em Grabar-Kitarovic é um voto no primeiro-ministro, Andrej Plenkovic. Dito de outra forma, votar em Grabar-Kitarovic é apoiar o partido no Governo”, diz Luka Ivan Jukic.

Miroslav Skoro tem dedicado uma atenção especial à extrema-direita, o que levou a Presidente a radicalizar o seu discurso para tentar não perder apoios na ala mais à direita do seu partido. Como resultado, “nenhum dos candidatos abordou os assuntos mais quentes na Croácia de hoje em dia, da economia à emigração, do aborto aos direitos dos homossexuais”, diz a jornalista Anja Vladisavljevic, no site Balkan Insight.

“O que continua a motivar o debate é o passado – dos líderes fascistas da Croácia na II Guerra Mundial, ao papel do país na Jugoslávia socialista, à guerra da independência”, salienta a jornalista. Skoro, por exemplo, admite amnistiar o criminoso de guerra Tomislav Mercep, cuja unidade foi responsável pela tortura e assassínio de 43 civis em 1991.

O papel dos chefes de Estado na Croácia foi relegado para segundo plano numa revisão constitucional aprovada em finais de 2000, e desde o fim do sistema semipresidencialista é o primeiro-ministro o principal responsável pelas políticas do país. Mas essa mudança pode também estar em causa nas eleições deste domingo e de 5 de Janeiro. Se for eleito, Miroslav Skoro já prometeu que vai lutar “pela reestruturação de todo o sistema político”, em particular pelo reforço dos poderes presidenciais à imagem do que acontecia na época de Franjo Tudjman, o primeiro Presidente da Croácia.

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