Três bares de rock entram Pela Madeira Adentro com um festival colaborativo

Barracuda, Ferro Bar e Woodstock 69 unem forças para arrancar neste domingo com um evento que leva à roqueira Rua da Madeira, no Porto, Sereias, O Bom o Mau e o Azevedo, Sunflowers, KILLIMANJARO e Frágil & the Alcoholic Friends, entre outros.

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Onze bandas passarão por três bares na rua da Madeira, o Barracuda (na foto), o Ferro Bar e o Woodstock 69, instalado na Campanhã mas que, este domingo, se transferirá por um dia para o Gare. Paulo Pimenta
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Onze bandas passarão por três bares na rua da Madeira, o Barracuda, o Ferro Bar (na foto) e o Woodstock 69, instalado na Campanhã mas que, este domingo, se transferirá por um dia para o Gare. Paulo Pimenta

Há quase uma década, quando Rodas se juntou a mais uma dezena de roqueiros do cenário portuense para fundar a Cooperativa dos Otários, tinha uma certeza: esta promotora de concertos nunca iria gerar lucro. Pelo contrário, o objectivo deste empreendimento era dividir o prejuízo pelo maior número de pessoas, de forma a ser possível espalhar o mal pelas aldeias, ao mesmo tempo que traziam ao Porto as bandas que queriam ver em palco. Quando arrancaram com o empreendimento, os concertos tinham como base o Porto Rio — o Barco do Rock —, atracado no Douro, em Massarelos, onde esta figura incontornável do underground programava na altura. Mais tarde passaram a assentar arraiais no extinto Cave 45, do qual Rodas era proprietário. Agora estão numa espécie de hiato, à espera da banda certa para serem reactivados.

Desde os tempos do Comix, o seu primeiro bar na década de 1990, Rodas foi experienciando algumas vezes o mesmo resultado na altura de fechar as contas: “muitas vezes entrei pela madeira adentro”. No glossário de expressões portuenses isto é o mesmo que dizer que o dinheiro não chega para cobrir o investimento. No glossário do rock quer dizer que é apenas mais um dia como os outros. Na cabeça de Rodas e de outros como ele, que dedicaram uma vida a remar contra a maré, isto tem outro significado – está na altura de arrancar já com a próxima aventura.

É neste espírito optimista, de insistência e de parceria, que nasce o festival Pela Madeira Adentro, com estreia neste domingo, resultado da união de forças de três bares de rock do Porto, que se juntam para levar à rua da Madeira onze bandas, espalhadas por três palcos montados no Barracuda, no Ferro Bar e no Gare, neste dia a casa provisória do Woodstock 69, transferido de Campanhã para esta artéria encostada à estação de São Bento e de há dois anos com nova vida alicerçada nas fundações do rock.

O nome do evento é uma clara alusão ao resultado das contas de muitos eventos do género e à rua onde decorre. Garantido é que aqui, ao contrário da Cooperativa dos Otários, quem o organiza não quer acabar a festa com saldo negativo. Para isso foi montado um cartaz com uma dezena de bandas que se foram afirmando nos últimos anos. A partir das quatro da tarde tocam os Dumbowax, o catedrático do punk portuense Frágil com os seus Alcoholic Friends, os metaleiros Midnight Priest, os stoners Greengo, os galegos Indy Tumbita & The Voodoo Bandits, os barcelenses KILLIMANJARO, os western-rockers O Bom, o Mau e o Azevedo, a dupla Sunflowers, os caóticos Sereias e os Tiger Picnic, nova aventura de Beatriz Rodrigues e Ricardo Ramos, dos Dirty Coal Train. Pela noite dentro há ainda DJ set de JB Wizard, Just Honey, Rodrigo, Mr Hong Kong, Karpet, ZZML.

Este festival de um dia, desenhado pelas mãos dos três proprietários destes bares que vão aguentando o cenário roqueiro portuense, nasceu à mesa de uma tasca da Rua da Madeira – a Adega Viseu no Porto. É lá que Sérgio Ribeiro, proprietário do Ferro Bar, se encontra regularmente à tarde com Rodas, do Barracuda, e algumas vezes com António Oliveira, do Woodstock 69, o único que está fora desta artéria – o bar é em Campanhã. Sérgio já tinha trabalhado com Rodas no extinto Armazém do Chá. Estava na altura de chamar um terceiro elemento para fechar o tridente. 

A união faz a força

O responsável pelo Ferro diz ao PÚBLICO que desafiou os outros dois para avançarem com esta empreitada para criar uma união de forças entre estes três espaços com música ao vivo. A mais valia é que cada um deles segue linhas diferentes. Se o Barracuda está aberto a todo o tipo de propostas dentro do rock mais duro e o Woodstock mais orientado para o stoner rock e algum metal, o Ferro é mais abrangente no tipo de sonoridades que acolhe, algumas vezes alargando-se a propostas já com um pé na electrónica.

Resultado da energia roqueira que se vive nesta zona da cidade — anteriormente conotada com o lado mais marginal da noite —, primeiro com a abertura do Barracuda em 2018 e depois com a do Ferro no ano seguinte, Sérgio Ribeiro diz ser esta também uma oportunidade de celebrar essa mudança e uma forma de convidar o público de cada um dos bares a conhecer os outros. Porém, a prioridade será sempre a música.

A programação foi delineada pelos três, que trazem um pouco dos seus espaços para o Pela Madeira Adentro. Nas próximas edições não está fechada a hipótese de abrir o espectro a outras sonoridades, desde que se enquadre no formato, e a mais bandas internacionais. A regularidade do evento, adianta Sérgio Ribeiro, não tem um intervalo definido. “Pode acontecer duas ou três vezes por ano ou mais. Depende sempre das bandas que temos em carteira”, atira.

António Oliveira, que no domingo troca Campanhã pelo centro do Porto, juntou-se à iniciativa por acreditar que este tipo de colaborações são saudáveis e espelham o bom ambiente que se vive entre os seus pares. O Woodstock 69 esteve para fechar durante este ano, mas garante agora ter recuperado a vitalidade. Trocar de casa por um dia para ocupar a rua da Madeira serve para experimentar os benefícios de quem está numa zona mais central: “Campanhã continua a estar muito distante para muita gente”.

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