O debate público em tempos de cólera

Criámos o Fórum PÚBLICO, um lugar onde todos podem e devem expressar os seus pontos de vista sem medo de serem insultados por sistema ou de verem o seu esforço de sensatez e reflexão ser minado pela suspeição metódica ou pelo ódio irracional.

Uma das maiores esperanças da Internet foi a crença de que, um dia, todos teriam mais espaço para exercer a sua cidadania, enriquecendo o debate público e aprofundando a democracia. Uma das maiores desilusões da Internet foi a ruína dessa crença a partir do momento em que as caixas de comentários dos jornais ou as redes sociais se transformaram num depósito de rancores, ódios e de intolerância. Entre o sonho e o pesadelo, os valores da democracia evoluíram e nem sempre na melhor direcção. O escrutínio dos poderes reforçou-se, mas o sentimento vingador e justiceiro baseado em rumores ou em notícias falsas criou o cenário ideal para a prosperidade do populismo que hoje ameaça as sociedades democráticas.

Estamos numa era em que a crença na bondade natural do espaço público aberto e participado se esfumou, em que o respeito pela diversidade de opiniões está a recuar, em que o ódio se sobrepõe à tolerância, em que políticos, jornalistas, empresários, juízes ou árbitros são culpados, mesmo havendo prova em contrário. A primeira consequência lógica desta involução é a crise da confiança que sempre serviu como cimento de uma comunidade e da relação que uma comunidade estabelece com as suas instituições. Mas há uma outra consequência igualmente terrível: o deslaçar do espaço público que aproximava esquerda e direita, ricos e pobres, negros e brancos, funcionários públicos e do sector privado, promovendo a criação de trincheiras e a germinação do sectarismo irredutível à razão dos factos.

Um retrato assim tão negativo e descrente da bondade natural (no sentido do “bom selvagem” de Rousseau) pode levar muita gente a acreditar que o problema se resolve com censura ou controlo. O PÚBLICO não subscreve esses caminhos. As redes são um formidável mundo novo sem margem para a marcha atrás. Em vez do policiamento, acreditamos no exemplo da moderação feita em nome de uma comunidade, ou através da intervenção dos nossos jornalistas. É por isso que, em parceria com a Google, criámos o Fórum PÚBLICO, um lugar onde todos podem e devem expressar os seus pontos de vista sem medo de serem insultados por sistema ou de ver o seu esforço de sensatez e reflexão ser minado pela suspeição metódica ou pelo ódio irracional. Sabemos que nesta tarefa haverá falhas, erros e permeabilidade à fúria persecutória dos comentários anónimos e cobardes. Mas, para nós, os problemas da nossa actual discussão pública só se combatem com mais discussão pública.      

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