Aprender a andar de bicicleta na escola é “muito melhor” do que estar na sala de aulas

O projecto Mini-Agostinhas ensina alunos do 1.º e 2.º ano a andar de bicicleta. O objectivo é promover um estilo de vida mais saudável junto dos mais novos, em Torres Vedras.

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De Setembro a Dezembro, os alunos dos 1.º e 2.º anos da Escola Básica da Conquinha em Torres Vedras tiveram aulas para aprender a andar de bicicleta Sara Jesus Palma
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No 2.º período, as bicicletas da Câmara Municipal de Torres Vedras mudam-se para a Escola Básica Nº 1 da cidade Sara Jesus Palma
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A maioria das crianças consegue a aprender a andar de bicicleta em três meses Sara Jesus Palma
Bicicleta de estrada
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O professor Miguel Salvador optou por introduzir a bicicleta sem "rodinhas" Sara Jesus Palma
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Mafalda sabe andar de bicicleta desde os 4 anos. Sara Jesus Palma
Corridas de bicicleta de estrada
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O projecto deve o nome a Joaquim Agostinho, referência do ciclismo nacional e natural de Torres Vedras Sara Jesus Palma
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As Mini-Agostinhas são uma iniciativa da Câmara Municipal de Torres Vedras. Sara Jesus Palma
Corridas de bicicleta de estrada
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Os alunos percorrem um percurso cheio de obstáculos. Sara Jesus Palma
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O professor Miguel Salvador ajuda cada aluno a escolher uma bicicleta Sara Jesus Palma

“Não te esqueças do pisca, Filipe”, grita o professor Miguel Salvador. O menino avança, confiante, sobre duas rodas, apontando para a direita e para a esquerda, para indicar a mudança de direcção. Ninguém diria que até há bem pouco tempo não sabia andar de bicicleta. No pátio da Escola Básica da Conquinha, em Torres Vedras, estão 21 bicicletas, uma para cada aluno desta turma de 2.º ano. Desde Setembro que, uma vez por semana, aprendem a andar de bicicleta na escola através do projecto Mini-Agostinhas.

É a última aula do primeiro período e dia de avaliação. Os pequenos ciclistas devem fazer um percurso com obstáculos, com o objectivo de os preparar para a vida de bicicleta. Fazer o estacionamento, piscas para mudar de direcção na cidade e passar num sítio estreito são algumas das estações do percurso que o professor Miguel Salvador preparou.

Antes da avaliação, faz-se o aquecimento, onde as crianças realizam o percurso, ainda sem serem avaliadas. Destaca-se uma menina no meio do pátio sozinha a andar aos círculos. Está sentada na bicicleta com os pés no chão para impulsionar o movimento. Chama-se Maria Vitória. “Estou a treinar”, apronta-se a dizer. Apesar de ainda não conseguir andar como os outros, Maria Vitória diz que aprender a andar de bicicleta é a melhor parte da semana, “muito melhor” do que estar na sala de aulas.

Maria Vitória sabe andar de bicicleta, mas só com os apoios, a que na gíria se chama “rodinhas”. Na escola, o professor optou por introduzir a bicicleta sem rodinhas logo na primeira abordagem. “Pensamos que não é benéfico. Eles acabam por se habituar depois àquele amparo, dos apoios e não aprendem o equilíbrio, que é o essencial”, explica o professor da turma, Miguel Salvador.

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Sara Jesus Palma

“Primeiro têm um tablet e depois é que têm a bicicleta”

Mais do que ensinar a andar de bicicleta, o projecto “Mini-Agostinhas” quer educar as novas gerações para a importância de ter estilos de vida mais saudáveis. O nome da iniciativa foi inspirado em Joaquim Agostinho, o conhecido ciclista português, natural de Torres Vedras. Em homenagem ao ciclista, o município está a construir uma rede de ciclovias e, desde 2013, que tem um sistema de bicicletas partilhadas: as Agostinhas. “Com a construção de cerca de 12 quilómetros de ciclovias, era importante que as nossas crianças pudessem aprender a andar de bicicleta”, explica o presidente da câmara, Carlos Bernardes.

O projecto “Mini-Agostinhas” abrange 300 meninos do 1.º e 2.º ano de três escolas, uma em cada período escolar. Até Dezembro, foi a Escola Básica da Conquinha a receber as bicicletas da câmara municipal; no segundo período mudam-se para a Escola Básica N.º 1 de Torres Vedras; no terceiro período é finalmente a vez da Escola Básica Padre Vítor Melícias. O objectivo é que o projecto continue nos anos lectivos que se seguem com turmas diferentes, sempre naqueles dois primeiros anos de escolaridade.

A receptividade das escolas foi imediata, “aderiram desde a primeira hora”, conta o autarca. “Ainda há dias estive noutra escola que já quer [as bicicletas], portanto isso é bom, tem um efeito de contaminação”, justifica Carlos Bernardes.

“Mais cinco minutos para aquecerem. Está bem? Para depois fazermos a avaliação”, avisa o professor Miguel, enquanto observa os alunos de longe. “Muitos deles nem sequer têm bicicleta em casa. Hoje em dia, primeiro têm um tablet e depois é que têm a bicicleta”, desabafa o docente.

Ainda assim, apesar da tecnologia abundante, alguns meninos já vêm de bicicleta para a escola, com os pais. À entrada, há um espaço de parqueamento. Tiago é uma dessas crianças e conta que também costuma passear de bicicleta com os pais ao fim-de-semana.

Depois do equilíbrio, “é fácil”

“Bárbara” A Bárbara está?”, chama o professor. “Não, está doente”, responde em uníssono a turma. Vai começar a avaliação. Anaïs está muito nervosa e por isso pediu ao professor para não ser a primeira. Está em Portugal há dois meses. “Na Venezuela, eu andava de bicicleta, mas esqueci-me como andar”, explica a menina de 7 anos.

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A maioria dos alunos só sabia andar de bicicleta com recurso aos apoios, conhecidos por "rodinhas". Sara Jesus Palma

O professor Miguel Salvador garante que a maior dificuldade é o equilíbrio e o que pode desmotivar a criança. “A partir do momento em que eles têm equilíbrio, é fácil”, sublinha o docente. Anaïs concorda com o professor. “Por vezes, caio”, desabafa.

Já Mafalda sabe andar bem. É destemida e extrovertida. “Já posso ser fotografada e entrevistada”, diz confiante, mal conclui o percurso da avaliação. Fazemos-lhe a vontade e é ela que quase conduz a conversa. “Aprendi aos 4 anos. Só precisava de ajuda para começar”, explica.

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Mafalda já sabe andar de bicicleta desde os quatro anos. Sara Jesus Palma

Para as crianças que não conseguiram aprender em três meses, fica o desafio aos pais de continuarem a ensinar os filhos, em casa. As Mini-Agostinhas vão pedalar até outra escola já no próximo mês. Lá vão encontrar novos alunos prontos a aprender. Na Escola Básica da Conquinha, a vida vai regressar à normalidade. Ou melhor, quase ao normal, porque agora os meninos já sabem ir de bicicleta para escola.

Texto editado por Bárbara Wong

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