Asma grave: uma vida sem fôlego

É uma doença transversal a todos os géneros e grupos etários e tem um forte impacto na vida dos doentes. Estima-se que afecte 5 a 10% de portugueses. A asma grave foi o tema escolhido para dar voz ao evento “Viver sem fôlego”.

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Evento “Viver sem fôlego” D.R.

Tarefas simples como subir escadas, ir às compras, caminhar, dormir ou brincar com os filhos e netos podem tornar-se tarefas hercúleas. Como forma de alertar a população em geral para o perigo desta doença, nem sempre correctamente diagnosticada nem devidamente monitorizada, a AstraZeneca Portugal organizou o evento “Viver sem fôlego”, no dia 6 de Dezembro, na Fundação Oriente, em Lisboa. A iniciativa, realizada em parceria com o Público, teve início com a exibição do documentário internacional “Breathless” que retrata testemunhos reais de doentes com asma grave e que partilham os desafios diários, as suas angústias e vitórias.

Seguiu-se a apresentação de João Fonseca, imunoalergologista e investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis), no Porto, sobre o contexto português. “A asma é uma doença extremamente heterogénea e integra um conjunto de muitos subtipos”, começou por afirmar. Destaca-se também a sua variabilidade ao longo do tempo. “Sabe-se que 2/3 dos portugueses têm, pelo menos, uma consulta médica anual devido à asma, e ainda bem, porque é necessário acompanhamento e ajuste regular da terapêutica, mas, por outro lado, uma em quatro pessoas, todos os anos, vai a um serviço de urgência, o que não é positivo”, disse.

O imunoalergologista chamou ainda à atenção para o internamento de crianças no hospital, pelo menos uma vez por ano, devido à asma e para o “consumo excessivo de medicamentos de alívio e de broncodilatadores com doses quase tóxicas que vão ter efeitos nefastos para a saúde do indivíduo no futuro”.

Que desafios e oportunidades?

A segunda parte do evento foi marcada por um debate com a participação de médicos que ajudaram a traçar uma panóplia de exigências para a melhoria do controlo da asma grave no sistema de saúde nacional. Mário Morais de Almeida, imunoalergologista e presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos alertou para o facto de “os asmáticos graves viverem um pouco isolados, esquecidos e terem alguma dificuldade em aceitar a sua doença”, o que intensifica ainda mais o estigma. Por outro lado, constatou que “ainda há pouca cultura de medir a asma, da mesma forma que o fazemos com o colesterol e o açúcar no sangue”.

Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro
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Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro

A vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Ana Sofia Oliveira, referiu que, muitas vezes, os doentes demonstram alguma relutância em aceitar que “têm uma doença com algum grau de cronicidade e que necessita de uma terapêutica para a vida”. A falta de adesão à terapêutica e o recurso aos serviços de urgência traz problemas acrescidos. “O que queremos implementar é o diagnóstico precoce e, para isso, é fundamental a interligação entre a medicina geral e familiar e a especialidade.” Para a médica pneumologista, a criação de unidades especializadas em asma [não sendo possível em todas, pelo menos, em algumas regiões do país] seria benéfica, “com alocação de diferentes recursos, diferentes exames complementares de diagnóstico e a possibilidade de abordagens terapêuticas distintas, consoante a complexidade da doença. A história natural do doente vai sendo ditada ao longo do tempo”, acrescentou.

Para Rui Costa, do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) é imperativo sensibilizar a população para “esta doença potencialmente grave e fatal. O médico de família deve estar atento e consciencializado de que é possível dar um tratamento mais adequado a todos os doentes que têm asma”.

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Evento “Viver sem fôlego” Eduardo Ribeiro

Colocar a asma na ordem do dia

João Fonseca reforçou “o desequilíbrio existente no sistema de saúde português relativamente às doenças respiratórias em comparação a outros grupos de patologias” considerando que ainda existe muito a fazer “ao nível dos decisores políticos”. Lamentou ainda a questão do financiamento que “sai do bolso do hospital, provocando uma alteração completa em termos do que é o acesso às terapêuticas biológicas. Estamos também com um consumo inacreditável de corticóides sistémicos, sobretudo nas crianças”.

Para Rui Costa, é urgente colocar “a asma na ordem do dia”, opinião partilhada com Ana Sofia Oliveira. “Se queremos continuar a ter equidade de cuidados, temos de mudar a forma como olhamos para a asma e todos devemos ter acesso a tratamentos diferenciados de acordo com as necessidades.”

Mário Morais de Almeida considera “estranho que algumas patologias recebam comparticipações a 100%, mesmo em situações ligeiras, e que isso não exista, para os asmáticos. Porque é que não se permite o acesso numa lógica nacional?”, questionou.

Este foi o primeiro evento aberto ao público em geral, de forma gratuita, organizado pela AstraZeneca Portugal com o intuito de perceber como se pode tratar melhor estes doentes, colocando-os no centro do sistema. “É importante ouvi-los, perceber o que precisam e o que valorizam”, explicou Rosário Trindade, directora de corporate affairs e market access da farmacêutica.