Jóia da Rotina, a (nova) escapatória de Filipe Sambado aos “lugares comuns”

É como se estivéssemos no quarto da nossa avó. Santinhos, crucifixos, terços e altares. Ícones kitsch espalhados por todo o lado, que “introduzem a sensação de estarmos a viver num souvenir”. Tudo isto acontece em Jóia da Rotina, a primeira resposta de Filipe Sambado a uma pergunta que se impôs logo desde o início: “Como fazer uma canção relevante e capaz de chegar às pessoas imediatamente, que lhes fique nos ouvidos, as faça abanar a anca e ter vontade de trautear, sem cair em lugares comuns nem repetir fórmulas?”

Há mais respostas que ainda não conhecemos — vamos descobri-las em 2020, quando Revezo, o segundo disco do músico com o selo da Valentim de Carvalho e o terceiro sob a alçada da promotora Maternidade, for lançado. Jóia da Rotina faz parte desta “obra de reinvenção” que é o novo disco de Filipe Sambado: “O resultado de uma busca insaciável de novos estímulos, novos arranjos, novas possibilidades de explorar a canção de estética pop”, escreve a editora em comunicado enviado ao P3.

O videoclipe, que se estreia esta quarta-feira, 18 de Dezembro, no P3, traduz a ideia de “novos lares, novas formas de amar e novas tradições”. Nas palavras do próprio Sambado: “Temos um casaco edredão, que nos protege de todos os males e nos traz todo o conforto e protecção divina. Um sofá no meio da selva ou um quarto numa loja de ímanes religiosos e de traços em vias de extinção ou com novas identidades.”

Já Miguel Afonso, realizador do vídeo, diz ter procurado “encontrar um paralelo visual para a mistura entre o tradicional e o pop que o Filipe alcançou com o novo álbum” — daí ter nascido “a cena do quarto com os elementos católicos”. “Respondendo à estranheza agradável que me provocou a união entre o conteúdo e a forma da canção — uma canção pop sobre o prazer de estar confortável em casa —, procurei desenhar situações que alcançassem o mesmo nível e estilo de estranheza que, embora estivessem coladas ao tema da música e à textura do som, estivessem ao mesmo tempo distantes de alguma representação figurativa da letra”, continua.

Revezo é o terceiro disco do músico, compositor e produtor português: em 2018, lançou Filipe Sambado & Os Acompanhantes de Luxo. Nesse ano, contava ao PÚBLICO como aquele era um disco sobre o que tinha de fazer para se sentir bem consigo próprio e tentar aproximar-se de um “sentimento de desapego ou de liberdade” — que pode passar por usar saias, brincos ou pintar as unhas. É assim que o vemos em Jóia da Rotina. E é assim que nos arrasta para esta música não tão rotineira.