Aumento das temperaturas pode reduzir tempos de gestação, alerta estudo

Investigação norte-americana aponta o calor como um dos factores que podem desencadear um parto antes do fim do tempo.

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Os investigadores não fazem qualquer associação do calor às interrupções involuntárias de gravidez Camila Cordeiro/Unsplash

As alterações climáticas vão influenciar também a vida in utero, como resultado do aumento das temperaturas na sequência da excessiva concentração na atmosfera dos gases com efeito de estufa. Essa é a conclusão do estudo "O Impacte de Temperaturas Ambiente Elevadas na Data Prevista para o Parto e na Duração Gestacional”, publicado, este mês, na revista Nature Climate Change.

De acordo com os seus autores, o investigador do Instituto do Ambiente e Sustentabilidade da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), Alan Barreca, e a professora-assistente da faculdade californiana privada Claremont McKenna, Jessamyn Schaller, “o calor extremo provoca um aumento no número de partos, no dia da exposição e no dia seguinte”, observando-se “que os nascimentos não previstos foram acelerados em até duas semanas”.

Os investigadores observaram que, entre 1969 e 1988, nos Estados Unidos, uma média de 25 mil partos foram realizados antes do tempo previsto. Excluindo os programados, com uma cesariana prevista, e cruzando as datas dos mesmos com as temperaturas sentidas, a investigação concluiu que “a exposição ao calor aumenta o risco de parto”, alertando para os riscos: “A aceleração do parto leva a gestações mais curtas, que têm sido associadas a consequências, reveladas mais tarde, na saúde e [no sistema] cognitivo [da criança].”

Para já, os investigadores não fazem qualquer associação do calor às interrupções involuntárias de gravidez, considerando haver pouca informação para que se possa estabelecer uma relação entre os dois acontecimentos.

Alterações climáticas na saúde

O Acordo de Paris, assinado há quatro anos, tem por objectivo não permitir que a temperatura média global do planeta não aumente em mais de dois graus Celsius relativamente ao período pré-industrial (cerca de 1850). Neste momento, já se aumentou essa temperatura em 0,87 graus Celsius, e há dados que suportam o facto de isto interferir com a saúde.

Ainda em Julho, um estudo da Aliança Australiana de Saúde Global analisou os efeitos das alterações climáticas na saúde dos habitantes do Sudeste Asiático, concluindo que os efeitos das alterações climáticas podem causar deficiências psíquicas, defeitos de nascimento, obesidade, asma, depressão, entre outros.

O mesmo estudo assinala ainda que o aumento do calor pode produzir ou aumentar pandemias como o zika ou outras doenças transmitidas por mosquitos e agravar outros problemas pela deterioração da qualidade do ar e da água, como a asma, as alergias, pneumonia ou diarreias.

O aumento da temperatura

O aquecimento é uma das consequências directas da concentração dos gases com efeito de estufa na atmosfera, em que azoto e oxigénio são os principais componentes, responsáveis por cerca de 99% da atmosfera. O restante é ocupado pelos outros gases, em pequenas quantidades, entre os quais os gases com efeito de estufa, que têm a capacidade de reter a radiação infravermelha emitida pela Terra, impedindo-a de escapar para o espaço e causando o fenómeno que determina o clima da Terra, aquecendo a superfície e reduzindo os extremos entre o dia e a noite.

“Temperaturas extremas, tanto quentes como frias, já tinham sido associadas [antes] ao risco de nado morto e parto [prematuro]”, dizem Barreca e Schaller​, lembrando que “a temperatura pode afectar as funções básicas do corpo, como o fluxo sanguíneo e a respiração”. Para combater o perigo, a dupla aconselha as grávidas a “permanecerem hidratadas e frescas no clima quente e quentes no frio”.

A investigação ressalva ainda que o impacte do calor na data do parto é menor nos países mais quentes, sugerindo a capacidade do corpo na adaptação ao clima.

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